Inspirada em sorvete e pistache até na massa: a história da melhor torta de 2024
Batizada de Pinocchio, guloseima é um lançamento de uma das mais tradicionais e antigas confeitarias da cidade
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Thais Borges
thais.borges@redebahia.com.br
O sorvete Pinocchio, todo à base de pistache, veio primeiro. Foi há oito anos, quando o chef Bruno Matos, um dos sócios da confeitaria e gelateria Frio Gostoso, começou a criar sabores para sua própria marca - a Forasteiro, hoje integrada àquela que é uma das mais antigas confeitarias de Salvador. O pistache comprado da Jordânia serve para ele fazer o próprio creme da noz.
“Geralmente, quando o sabor dá certo, eu faço a versão da torta”, conta. Assim, a criação autoral do gelato inspirou a Torta Pinocchio, consagrada vencedora do título de Melhor Torta de 2024 em Salvador. Ela foi a preferida de oito jurados - técnicos, influencers digitais e jornalistas do CORREIO -, entre 30 concorrentes, em uma degustação às cegas promovida na última terça-feira (24), na redação do jornal. O concurso é mais uma edição do projeto Correio Experimenta, que apenas este ano já elegeu o melhor ovo de Páscoa, o melhor hambúrguer delivery e a melhor pizza.
Ao contrário do sorvete, porém, a torta Pinocchio é uma novidade: foi lançada este mês, nas lojas da Graça e da Pituba, onde pode ser encontrada com mais facilidade nos finais de semana. “É uma torta mais elaborada, de um sabor muito específico. Ou a pessoa ama pistache ou não. Como eu quero uma coisa mais customizada, eu mesmo faço a minha pasta”, explica Bruno.
Uma das juradas da degustação, a chef confeiteira Lisiane Arouca, sócia do grupo Origem, destacou justamente a qualidade da massa, além do próprio pistache. Enquanto algumas massas de bolo costumam usar margarina, a manteiga de qualidade era perceptível na Pinocchio, assim como o pistache (ao invés de uma pasta de pistache industrializada).
Ter esse tipo de ingrediente faz a diferença, na avaliação dela. “Tinha equilíbrio também nas camadas, todas muito parecidas na espessura, o que deixa a torta muito bonita e equilibrada no sabor. Para mim, foi a campeã em termos de beleza, estrutura, uma massa muito boa e um recheio com o açúcar no ponto certo”, elogia.
Além de agradar ao júri especializado, a torta de pistache foi a preferida da redação do CORREIO. Após a degustação oficial, 30 jornalistas votaram em sua preferida. Com sete votos, a Pinocchio foi a escolhida por este público - foi a primeira vez que o primeiro lugar do júri técnico coincidiu com a escolha da redação, ao contrário das divergências nas provas de ovo de Páscoa e de hambúrguer. Ao todo, 14 tortas foram votadas como preferidas pelos jornalistas. O pódio ficou completo com a Viva Gula (pistache e morango) e Faustino (bolo de noiva), cada uma com cinco votos.
Uma fatia da torta Pinocchio custa R$ 26 e tem peso médio de 260 gramas. Já a torta inteira, no tamanho médio, pesa aproximadamente 3,7kg e sai por R$ 330. É possível comprar tanto nas lojas físicas quanto pelo Whatsapp (71-3336-4898 para falar com a unidade da Graça e 71-3345-6657 para falar com a da Pituba).
Ajustes
Os testes para a torta Pinocchio começaram há cerca de dois meses, quase como uma alquimia. A ideia era fazer tanto algo mais sofisticado quanto uma torta que não fosse muito doce. Para Bruno, de forma geral, é comum que as pessoas foquem muito no açúcar. “A confeitaria não é açúcar, mas acaba sendo. Açúcar e sal são ingredientes que você tem que saber usar bem para compor. Quando tem excesso, você não sente os sabores”, ensina.
O pistache está em praticamente tudo: do creme do recheio à cobertura, dos brigadeiros usados na decoração à massa. Já o nome vem da história não contada do conto de fadas de Pinóquio (Pinocchio, em italiano), o boneco de madeira que sonhava em ser um menino.
“É aquela coisa da gente tornar-se humano, dessa experiência humana. É uma aventura, onde tem todas essas experiências de vícios, defeitos, falhas, crescimento”.
Quando finalmente chegou à receita ideal, vieram os ajustes: ver como a torta se comportava com a temperatura, com a refrigeração e com o manuseio da loja, já que todos esses processos afetam as propriedades da guloseima. Foi preciso também avaliar como a torta se saía no aspecto comercial.
“Para o meu paladar pode estar ótimo, mas e o público? A gente tem que fazer uma adaptação, às vezes, porque alguns sabores muito amargos, cítricos ou metálicos requerem um paladar mais apurado, já que a indústria coloca geralmente muito açúcar e sal”.
Família
A torta Pinocchio é a primeira de uma lista de 10 novos sabores criados por Bruno e que devem ser incorporados ao cardápio da Frio Gostoso nos próximos meses. São criações dentro da marca Forasteiro e incluem desde tortas com tâmara até opções veganas e sem açúcar.
O nome Forasteiro veio da própria experiência com a família. “Eu sempre fui o filho rebelde, diferente. A Frio Gostoso é uma empresa mais tradicional e eu tenho um espírito mais livre. Por isso, percebi que tinha que ter minha marca também”.
Aos 42 anos, Bruno é o mais velho dos três filhos do casal Edevaldo e Luciana. Os dois abriram a primeira Frio Gostoso há 43 anos, em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador. O pai trabalhava em uma agência bancária e tinha vindo de Aracaju (SE) para a Bahia. Na época, a empresa era apenas sorveteria.
O ofício tinha sido aprendido na família paterna, com uma tradição que remonta a quase 70 anos de história. A sorveteria inicial começou em Recife (PE) - e já foi vendida -, mas cada parente foi levando os ensinamentos para outros estados.
Dois anos depois, Edevaldo foi transferido do banco novamente - agora para a capital baiana. Em Salvador, o casal abriu a primeira loja, na Graça. Lá, algum tempo depois, Luciana começou com as tortas - a confeitaria era a tradição da família dela. Vieram as clássicas, como Baba de Moça e Nozes, que continuam até hoje no cardápio. As lojas da Pituba e da Vila Laura vieram tempos depois, já no começo dos anos 2000.
Edevaldo sempre teve um perfil arrojado. Na época em que mal se falava em gelato italiano em Salvador, ele recebeu fornecedores italianos de matéria-prima aqui e deu início à produção. "Meu pai registrou a marca ‘cascalho’ em 1983. Aqui a gente fala ‘cascalho’ e não ‘casquinha’ (do sorvete) por isso. Mas meus pais são muito reservados e e não são muito midiáticos. Eu que acabo contando a história onde chego".
Bruno, que se formou em administração, entrou de vez na gastronomia há 20 anos, quando começou a fazer cursos de confeitaria e gelateria. Hoje, toda a família está envolvida de alguma forma com a Frio Gostoso - dos pais aos filhos (há, ainda, os irmãos Rafael e Thiago). Atualmente, a empresa conta com 45 funcionários. A produção acontece na unidade da Graça, mas deve ser ampliada também para a Pituba em breve.
O futuro da Frio Gostoso pode ter uma aparência diferente. O plano é que, até 2025, qualquer torta servida na loja seja empratada com uma cerâmica de fabricação própria (da marca Brütha, da qual Bruno também é sócio). Para as encomendas, os clientes também vão ter a opção de comprar os pratos de cerâmica. Por ora, a nova torta já tem agradado aos frequentadores. "Os clientes têm gostado muito. Quem gosta de pistache reconhece o valor".
O Correio Experimenta contou com apoio do Home Center Ferreira Costa para a ornamentação e montagem da mesa. Os itens de decoração e de mesa posta podem ser buscados no site da loja. Mais informações também podem ser encontradas no Instagram @ferreiracosta.
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