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'Eu não estou aqui a passeio': de forasteiro a império na coluna social, conheça a história de Rafael Freitas


 

Em entrevista ao CORREIO, publicitário conta sua trajetória pessoal e profissional na comunicação

  • Luiza Gonçalves

Salvador
Publicado em 23/11/2024 às 07:37:54
Rafael Freitas no belíssimo apartamento onde vive. Crédito: Marina Silva/CORREIO

No apartamento, os exemplares de livros e obras de arte saltam aos olhos nas estantes, aparadores e paredes. Literatura ficcional, especializada em arte e arquitetura, que passeia por cidades famosas: Capri, Paris, Marrakech, Ibiza. Muito bem posicionados e iluminados por pontos focais e luz ambiente amarelada, as salas e a varanda abrigam exemplares variados, desde retratos feitos por artistas amadores, contemporâneos na luminária Ingo Maurer e reconhecíveis no primeiro relance, destacando o impressionante exemplar de Alfredo Volpi na parede e a escultura de Mestre Didi em um pedestal com redoma de vidro.

O acervo particular que surpreende as visitas é motivo de orgulho para Rafael Freitas, fundador do Alô Alô Bahia. “É uma coleção de uma vida toda, sabe? Eu tenho muita coisa, aqui é só uma parte. Eu gosto bastante”, afirma. O hábito é fruto da paixão que cultiva pelas artes desde criança, incentivado pelos pais. Nascido em Feira de Santana, mas criado principalmente em Juazeiro, Rafael descreve sua infância como privilegiada, emocionalmente e materialmente. Era uma criança de poucas amizades, principalmente por se mudar em função do trabalho de seu pai, debruçando-se então nos livros, filmes e o que mais encontrava. “Estava sempre buscando alguma forma de cultura”, relembra. O gosto pela arte hoje é partilhado com seu marido, o arquiteto Victor Carvalho, com quem reside no apartamento e que explica um pouco da disposição dos objetos pela casa.

Durante a entrevista ao CORREIO, Rafael, 37, chama a atenção para a maior e principal peça em seu hall de entrada: o quadro Alaúde, que traz um menino negro e o instrumento em cores vibrantes, do pintor de Salvador, Anderson AC, que é representativo da beleza e protagonismo baiano, soteropolitano, na sua casa e na sua vida. “Me identifico totalmente com Salvador. Se eu tiver que sair um dia, não terei problemas. Mas Salvador, por escolha, é minha cidade no mundo, é a minha casa, é o meu lugar”. Há 17 anos, Rafael Freitas veio para a capital baiana e, em pouco tempo, iniciaria um projeto que transformou sua vida e o cenário da comunicação da cidade, o site Alô Alô Bahia. Assim como o quadro, Rafael resume as intenções do site como sendo as mesmas:

“Eu definiria o Alô, Bahia como a maior vitrine de Salvador e a maior vitrine da Bahia para você divulgar produtos, projetos, realizações, conquistas, histórias, vitórias e como um grande canal de estímulo para que as pessoas possam se enxergar, que ele divulga o que acontece de bom e de positivo na nossa terra e na nossa cultura”.

Publicitário e colunista social

O interesse pela área da comunicação surgiu a partir dos 14 anos, pelo contato com uma vizinha e amiga chamada Leila, uma advogada de 30 anos, que também era colunista no jornal local. Incentivado por ela, Rafael começou a consumir jornais e entender um pouco mais do universo jornalístico. Após um breve semestre de Arquitetura em Aracaju, com a chegada do primeiro curso de publicidade em Juazeiro, ele iniciou sua formação universitária. “Era o que eu queria de verdade. Me identifiquei logo de cara”. A empolgação se estendeu na graduação em diversos estágios, trabalhos, viagens para congressos e cursos de extensão.

“Quando me formei, eu achava que já estava pronto para a vida, porque eu estudava bastante, conhecia o mercado, já tinha trabalhado, mas aí me mudei para Salvador. Sem conhecer ninguém”, destaca. Ao chegar na cidade, Rafael se frustrou com o mercado da publicidade, tentando sem sucesso uma vaga nas agências da cidade. “Foi quando eu decidi: ‘Poxa, se não está dando certo, eu vou ter que fazer de um jeito meu, eu vou ter que fazer alguma coisa para mim’”, rememora.

Em paralelo à sua graduação, o encanto pela notícia e pelas histórias das pessoas adentrou a vida do publicitário. No final dos anos 2000, Rafael começou a escrever para o site de um colega de faculdade, iniciando no gênero que o acompanharia até hoje no Alô Alô: a coluna social. “Era um lugar que me interessava. Eu sempre quis entender um pouco mais sobre as pessoas e, na época, eu pensava que era uma forma de ver como a vida pode ser legal, porque eram festas, viagens, era um lado bonito. Claro que hoje minha visão já mudou na nossa frente de atuação, mas uma coisa que prevalece é que o meu trabalho não é expor ninguém, o meu trabalho é mostrar o lado positivo das pessoas, das empresas, do que está acontecendo em Salvador. Eu acho que isso acabou gerando a confiança”, argumenta.

Para ganhar seu espaço no mercado soteropolitano enquanto recém-chegado, Rafael acompanhava jornais, colunas, sites e cobria eventos. “Eu não conhecia ninguém, mas eu sabia quem era todo mundo”, diz. Um aliado importante nessa trajetória foi o joalheiro Carlinhos Rodeiro, com quem o publicitário desenvolveu um site que unia marketing de jóias e coluna social. Uma parceria que faz questão de reverenciar. Na entrevista, Rafael trazia em seu braço a pulseira do Senhor do Bonfim, criação do joalheiro e que frequentemente usa. A partir desse momento, ele teve de fato acesso à elite empresarial da cidade, fundando posteriormente seu próprio site. “Comecei sozinho, sem nenhum tipo de estrutura, investidor, e o site começou a rodar e a dar certo. Acho que quando a gente encontra um caminho, metade da vida está resolvida e eu sempre gostei de fazer isso. Para mim, é inerente a qualquer tipo de escolha, de problema, é o que eu gosto de fazer”, defende.

Espectador

“O Alô Alô Bahia é minha vida, eu trabalho o tempo todo”, afirma Rafael Freitas. Os relatos de quem já trabalhou com o diretor do site indicam quase uma onipresença e que, para ele, isso se resume a uma relação de paternidade: “É como se fosse um filho para mim, então o filho a gente tem que cuidar. Sou extremamente aberto, disponível, atento a toda equipe e às demandas dela. Eu gosto de trabalhar e me realizo trabalhando”, diz. O publicitário ressaltou durante toda a entrevista como trabalhar ocupa um lugar central até no seu equilíbrio pessoal e por isso acredita que incentivar aqueles que compõem sua equipe pode ser benéfico nesse sentido.

Ela cita um concurso que promoveu neste ano com seus repórteres em que a pessoa que trouxesse mais audiência para o site em uma semana, ganharia uma viagem com tudo pago para França. “Só faltaram se matar por conta dessa viagem (risos). Mas eu faço a maior questão, porque acho que não adianta você só escrever, você precisa conviver, conhecer e viver. Ampliar seu repertório”, diz.

Site, coberturas, eventos, desde que seja Alô Alô, Rafael está presente, o que traz uma certa surpresa quando o diretor se define como uma pessoa mais introvertida. “Eu me considero uma pessoa introvertida, mas por conta do meu trabalho, eu acho que tive que aprender a estar aberto e preparado para conversar com qualquer tipo de pessoa. O que não é uma dificuldade, eu sou muito interessado por pessoas. Mas não sou muito de sair, prefiro ficar mais de fundo, tenho um ciclo restrito de amigos, e quando eu saio é muito relacionado ao meu trabalho. Então, acho que sou introvertido, mas atento com as pessoas”, explica. A postura contida mas confortável com o diálogo foi perceptível na entrevista. Falas pausadas e pouca gesticulação deram o tom inicial da conversa. As respostas sempre detalhadas, fáceis de se obter, sem rodeios, e que, com o decorrer das perguntas, abriam espaço para comentários, risadas e momentos mais vibrantes.

Nos momentos além do trabalho, o publicitário é guiado por seu interesse em histórias, biografias, filmes, podcasts e programas de conversação. Curte A Blogueirinha, personagem de Bruno Matos, admira entrevistadores como Marília Gabriela e Jô Soares, e, dentre suas cantoras favoritas, destaca Celine Dion, pela história de vida que lhe emociona. Sempre viaja durante o ano para diferentes destinos nacionais e internacionais onde entra em modo espectador.

“A gente precisa viajar. Quando a gente viaja, a gente fica humilde, aprende sobre o tempo e sobre o outro. Nesses momentos, eu adoro, por exemplo, sentar num bar, num café e ficar vendo as pessoas, pensando que tipo de vida elas têm, quais problemas carregam, que situações elas estão passando e que ninguém tá pensando, porque tá todo mundo ocupado vivendo suas vidas e seus problemas. Eu viajo para ver como as pessoas vivem, e se eu tiver muita sorte, aprender alguma coisa”, enfatiza. Seu destino favorito é Paris, para onde vai pelo menos duas vezes por ano. Ele corrige “não vou para Paris, eu volto para Paris”, garante. Na cidade luz, gosta de frequentar o Musée D'orsay, galerias de arte e bons restaurantes,

A partir de sua formação em publicidade, Rafael defende que sempre pensa a comunicação por uma união de diversos meios, marcas e construção de histórias que têm a capacidade de impactar a vida das pessoas. Em relação ao seu futuro profissional, ele se descreve como alguém movido por realizações, sem grandes planos, aspirações e sonhos fixos. "A melhor forma de olhar para o futuro é focando no presente", afirmou. Para ele, o importante é continuar fazendo o que sempre fez, adaptando-se ao mercado e impactando pessoas com seu trabalho. "Eu acho que eu não estou aqui a passeio. Sempre fui muito focado no que diz respeito ao trabalho. Não sei se os projetos serão grandes ou pequenos, mas o meu objetivo é continuar fazendo o meu ofício", completou.

A fé é um pilar fundamental na vida de Rafael, guiando-o em seus desafios e fortalecendo-o diante das adversidades. Ele se considera "um homem de muita fé" e valoriza diversas manifestações religiosas, vendo nelas formas de renovar a força para viver e acreditar. Profundamente católico, em seu apartamento pode-se perceber peças de arte sacra, terços e algumas imagens de Maria, uma delas feita pelo artista plástico Vik Muniz. Sua relação com Maria é profunda e compartilhada com seus leitores em seu site aos domingos, no intuito de pedir proteção para nossa equipe e também para todos os leitores. Por isso, encerro esse texto da forma que Rafael encerraria: “Boa semana e Maria passa na frente”.