Costureiras de Castelo Branco ganham loja em shopping
Com peças produzidas a partir de reuso de tecido e serviços de pequenos ajustes, grupo produtivo oferece reparos com valores entre R$ 25 a R$ 40 em loja temporária no Shopping Paralela
-
Priscila Natividade
priscila.oliveira@redebahia.com.br
Exibir na vitrine a peça pronta. Pegar um tecido que foi reaproveitado e ver no que ele se transformou. A costureira Deuzuíta Rodrigues, 56 anos, sempre quis muito aprender a costurar. E ela não só aprendeu a ajustar uma bainha ou a lateral de um vestido, mas também, a dar imaginação a suas próprias criações. “As peças que eu mais gosto de fazer são as bolsas e necessaires e tudo mais o que a gente chama de costura criativa. Me deu uma felicidade quando fiz uma bolsa de poá. Ela ficou em exposição na loja e foi logo vendida”, conta.
Junto com outras 12 mulheres, Deuzuíta integra o Grupo Produtivo Costurando Sonhos (@costurandosonhos_gp), cooperativa de costureiras do bairro de Castelo Branco, em Salvador. Elas acabam de ganhar uma loja temporária no Shopping Paralela por meio de uma iniciativa viabilizada pelo Repense Reuse, projeto da Organização Humana Brasil. Além de venderem peças produzidas por elas mesmas, as costureiras vão ofertar também serviços de pequenos reparos como ajustes de bainha, zíper e outros, com valores entre R$ 25 a R$ 40.
“O grupo nasceu a partir do curso que a mesma organização promoveu na comunidade. Lá aprendemos a costurar, depois conhecemos a costura criativa. Sair de Castelo Branco para uma loja no shopping é uma experiência nova e estou curtindo muito tudo que está acontecendo. Os serviços mais demandados no momento são os ajustes de vestidos, bainhas de calças jeans e baianha original”, complementa Delzuíta. As costureiras se revezam em escalas de trabalho e todo valor adquirido com a venda de produtos e serviços é compartilhado entre elas.
Deuzuíta Rodrigues
"Sair de Castelo Branco para uma loja no shopping é uma experiência nova e estou curtindo muito tudo que está acontecendo "
A loja poup-up fica no piso L2 e funciona de segunda a sábado, das 9h às 21h. A expectativa é que até o dia 15 de dezembro, as costureiras possam atender de 170 a 200 serviços. A ação que valoriza o trabalho artesanal e coletivo ganha reforço com a roupas e acessórios confeccionados a partir de resíduos de tecidos de origem pós-consumo.
Também costureira do grupo, Ana Girlene Pereira, 54 anos, viu que não era tarde para aprender coisas novas. Mãe de dois meninos, ela trabalhava antes em uma lavanderia industrial. “Sempre tive vontade de aprender a costurar, mas devido às dificuldades da vida, não tive oportunidade. Comecei a costurar em 2022 e hoje faço bolsas, mochilas e é maravilhoso para mim estar produzindo, fazer algo que eu gosto. É emocionante ver um tecido em minha mão ganhar uma forma magnífica e me possibilitar ter uma renda com esse trabalho. A loja é uma chance de mostrar o que fazemos e o que estamos construindo”.
Pós-consumo
Com idades entre 40 e 70 anos, as mulheres do grupo foram alunas do projeto educacional Futuro Aberto, onde receberam capacitações de corte e costura durante dois anos. Em Salvador e Região Metropolitana, a organização Humana Brasil já qualificou, nesse período, 300 mulheres. A instituição que faz coleta seletiva de roupas usadas tem mais de 100 contêineres em Salvador, localizados no Parque da Cidade, Parque dos Dinossauros, Parque dos Ventos, além de estacionamento de shoppings, supermercados, estações de BRT e condomínios.
A coordenadora de projetos sociais da Humana Brasil, Leila Flores, destaca que a conscientização em torno do upcycling é mais do que dar uma função diferente para um produto que já existe. "A ideia de levar essas mulheres para o shopping é também uma forma de dar visibilidade ao que elas fazem, algo que muitas vezes fica concentrado apenas no bairro e nas redes sociais. É levar, sem dúvida, a conscientização em torno de novas possibilidades, gerar um emprego vede, trazendo uma renda a mais. Conscientizar as pessoas de que a gente pode estar reaproveitando aquilo que estaria sendo descartado de forma desordenada”, complementa.
Leila Flores
"A ideia de levar essas mulheres para o shopping é também uma forma de dar visibilidade ao que elas fazem, algo que muitas vezes fica concentrado apenas no bairro e nas redes sociais"
Para cada 50kg de peças reaproveitadas, a Humana evita a emissão de 305 kg de CO2 e economiza 200 mil litros de água. Daquele retalho de tecido que seria descartado, as costureiras constroem uma peça com um valor além da roupa. “São peças de um valor que vem agregado de compromisso, dedicação, sustentabilidade. É saber que tem pessoas que vão usar aquilo. O acabamento final é muito perfeito, esse é o diferencial do trabalho. É algo feito ali com as mãos delas, o reconhecimento, a soma na autoestima dessas costureiras. Elas estão o tempo todo reaproveitando, seja um botão, um tecido, um zíper, um bolso. Reinventam, refazem de todas as formas”.
CONHEÇA A POUP-UP
Onde fica A loja fica no piso L2 do Shopping Paralela
Horário de funcionamento De segunda a sábado, das 9h às 21h, e aos domingos, das 13h às 20h30.
Produtos e serviços Na loja, as costureiras fazem ajustes de diversos tipos de roupa, bainhas, conserto de peças e vendem produtos artesanais como bolsas, necessaires, carteiras e capas de almofada.
Valores Os ajustes tem valores entre R$ 25 a R$ 40.
Até quando A loja temporária fica aberta até 15 de dezembro
Mais informações No perfil no Instagram @costurandosonhos_gp