O futebol merece Neymar em Paris
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Gabriel Galo
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A história nos conta de uma cidade que representa e resume a cena artística mundial: Paris. Foi durante décadas ponto de encontro dos maiores expoentes da música, da pintura, da literatura, da fotografia... Pense numa forma de expressão. Pois foi em Paris que ela se graduou.
Paris da Belle Époque, dos Anos Dourados, da literatura e do jazz, do Impressionismo e do Art nouveau, do Louvre. Paris do romance, da lua de mel ideal, da primavera perfeita. Paris que abraçou tantos sonhadores que fizeram de suas vielas moradia, e dos seus bares e cafés, escritórios.
Conquistar Paris sempre foi estratégico. Ser bem-sucedido na cidade luz significava o máximo da carreira do artista, passo fundamental para o aperfeiçoamento de seu ofício, o nirvana daqueles que vivem com um pé no lúdico, na contação de histórias, no deslumbramento. A partir da capital francesa era possível conquistar a Europa, e de lá, o mundo!
No que Neymar e Paris foram feitos um para o outro.
Enquanto CR7 faz de seu eficaz faro artilheiro seu maior trunfo e Messi parte em carreira vertical com a pelota nos pés, Neymar é do espetáculo. Moleque, dribla daqui para ali, no inesperado, num átimo de criatividade. Traduz sua habilidade num banho de cuia, numa bola entre as pernas, num drible da vaca.
Neymar leva para os gramados a alma que se assemelha à dos artistas de rua que povoam o boêmio Montmartre. Talvez seja preciso acrescentar em seu uniforme uma boina meio de lado, um fino bigode, o sotaque francês inconfundível com direito a biquinho e uma camiseta um pouco suja de tinta, para que, vestido a caráter, ele faça do campo sua aquarela sempre em renovação.
Campo este que, para dignificar a presença do craque em sua relva, deveria ser improvisado no Champ-de-Mars, o grande espaço verde entre a Escola Militar e a Torre Eiffel, que acompanharia, ao fundo e iluminada, o lépido brasileiro. Ou então necessário seria fazer-se cancha sobre o asfalto da icônica Champs-Élysées, com traves improvisadas no Arco que perderia momentaneamente seu Triunfo, ao ver-se vazado por um gol de Neymar estufando suas redes.
Na hora do jogo, abrem-se as cortinas e o sol se esvai para que as luminárias virem holofote para o mágico da bola, o maior artista deste espetáculo chamado futebol. Ele, então, a trata com toda a malícia que se exige, para explodir num lance improvável, num drible desconcertante, num passe que ninguém viu possível. Nas calçadas, simulacro de arquibancadas, todos param, pessoas e o tempo, na expectativa de serem surpreendidos. O cronômetro parece pausar no instante que ressurge no grito da torcida em celebração pelo gol feito, no urro em sorriso pelo gol perdido, no extravasar de uma fagueira mas teimosa bola na trave.
Entreolham-se os espectadores, feições cobertas de maravilhamento e encanto. “Você viu o que ele fez?” Daqui a uns anos, farão questão de dizer que estavam lá a assistir Neymar em seu novo quintal. Contarão, orgulhosos, que viram o craque conquistar Paris, para depois chamar o mundo de seu.
Gabriel Galo é baiano, torcedor do Vitória, empresário e escritor, cronologicamente falando.