Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Aninha Franco
Publicado em 12 de fevereiro de 2016 às 07:05
- Atualizado há 2 anos
Existem os artistas, os intérpretes e os pensadores. Às vezes, essas três coisas são dissociadas. Alguns artistas, por exemplo, precisam de um pensador para conduzir a carreira deles. Alguns intérpretes também. Talvez Maria Bethânia e Elis Regina tenham sido as duas intérpretes da música brasileira que pensaram suas carreiras com uma integralidade única. Elis morreu com 36 anos. Mas a carreira de Bethânia é uma carreira inteira, extremamente pensada. É sem quedas.
Ela é mais que uma artista, é uma intérprete, é uma pensadora. Ela imprime a marca dela em cada coisa que ela canta, faz ou diz. Ela tem uma unidade de carreira que só um grande pensador pode criar.
Neste momento, Bethânia chega na maturidade artística dela sendo a grande estrela do Brasil, com conquistas extraordinárias, como ser o tema da Mangueira, que é uma escola de samba popular, e, agora, a vitória da Mangueira, homenageando os 50 anos de uma carreira brilhantíssima. Ao mesmo tempo, é uma pessoa muito honesta, amiga e parceira. Nos dois momentos em que o Teatro XVIII precisou dela, foi impecável. Ela emprestou sua voz para ser a voz do lugar - gravou uma voz para a gente que ficou linda. A segunda vez foi na reinauguração do teatro, que ela recebeu o mesmo cachê que todo mundo da produção.
Bethânia nunca se desligou da Bahia - tanto no repertório, quanto na presença física. Todas as vezes que algum deles (baianos) têm uma vitória, esse acontecimento se reflete na Bahia. Num momento caracterizado pela intolerância religiosa, o candomblé recebeu um outro presente. A menina de Oyá, que já fez tanto pelo candomblé desde cedo, trouxe essa vitória - da escola mais popular do Rio de Janeiro. Bethânia se uniu ao candomblé e, com a sua força e carisma, sempre fortaleceu a religião.
* Escritora