A guerra nossa de cada dia, contra o coronavírus
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Da Redação
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Às vezes penso que fazemos parte de um filme de ficção científica. Ninguém nunca imaginou que um ser invisível a olho nu fosse causar um impacto tão gigantesco na Saúde da população mundial. Além do impacto econômico que assombra o trabalhador brasileiro.
Nos deparamos com discursos infelizes e incoerentes a nível de hierarquia. De onde deveria vir o exemplo vem a discordia, a ignorância e a negação. Quem desafiar o coronavírus e não respeitar as medidas de prevenção vai se dar muito mal - tomara que isso não ocorra. É o mesmo que desafiar um gigante. Na história bíblica de Davi e Golias, Davi venceu o gigante, mas na vida real feita de tempos modernos e de telemedicina não é bem assim. A ciência avança rapidamente contra o tempo para salvar muitas vidas, em busca da cura para a covid-19. Estádios têm se transformado em hospitais e a cloroquina, parece ter "virado ouro".
A população se depara, em casa, com o bombardeio de informações, as fake news também levam a óbito, sintomas psicólogicos da pandemia: tristeza, ansiedade, medo, pânico, estresse, etc. O cotidiano do brasileiro mudou e draticamente, quem sai de casa rapidamente nas ruas leva seu álcool gel e se depara com uma cidade deserta e solitária. Nem parece que estamos na terra do axé e do carnaval. É que nessa selva de pedra, estamos falando em sobrevivência, que se confunde muitas vezes com egoísmo.
Vemos o aumento "não muito divulgado" dos casos de violência doméstica, triste realidade de alguns lares e que se potencializa com o longo convívio familiar. O agressor não sai de casa em tempos de coronavírus, mas ainda sim existe uma luz no fim do túnel, uma saída para a vítima que é pedir ajuda. Nunca estivemos tão conectados, vemos uma chuva de lives nas redes sociais, algumas de stand up, de treino funcional, outras tipo bate-papo de comadres, muitas informativas e de utilidade pública.
O fato é que conseguimos nos juntar pelo medo e pela insegurança, onde a solidão é algo que pesa. Muitos choram por perder um familiar para o coronavírus, outros por poder ver um familiar querido que faz parte do grupo de risco. Temos que lidar com o luto, com a falta eminente nos dias atuais, o ano terá uma lacuna.. E ainda esbarramos na ideia de que não somos imortais. Nos dias atuais, estamos mais conectados que nunca, mas isso não traz felicidade, a falta é latente e presente.
A covid-19 vem como um divisor de águas "traiçoeiras", haverá um antes e um depois para os brasileiros. A crise atual poderá nos fortalecer e nos trazer um grande aprendizado se quisermos, mesmo sabendo que habitamos num mundo sem garantias e que não temos controle de tudo. Vemos muitas estratégias de enfrentamento sugeridas por profissionais da aaúde, e me incluo, indicando que um cronograma ou uma rotina deve ser mantida, pois não estamos de férias, correto? Não vamos dar ouvido a hipocrisia e a negação que vai na contramão das orientações das autoridades de saúde.
No geral, só o isolamento salva e a verdade é uma só. Sabemos que um dia todos iremos morrer, mas ainda sim a ideia de morte é angustiante. Estamos numa guerra, é verdade, contra um inimigo invisível. E para preservar nossa Saúde Mental é preciso ter paciência, fé, criatividade, autodisciplina e ser cordial com nós mesmos. Além disso, devemos ter responsabilidade social e solidariedade.
Brasileiro é um povo afetuoso, otimista e resiliente, que gosta de beijar, abraçar e que tem sofrido pela falta de aproximação. Tudo passa, inclusive, a crise. Ficar em casa é o remédio mais poderoso que temos no momento, para combater o coronavírus. Débora Assunção é psicanalista e especialista em Saúde Pública
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