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Entenda como tecnologia 5G pode revolucionar o setor industrial


 

Há um ano no Brasil, sinal vem chegando aos poucos aos municípios; veja como indústrias podem se preparar

  • Carolina Cerqueira

Publicado em 05/08/2023 às 16:00:00
5G completa um ano de chegada ao Brasil. Crédito: Shutterstock

Aqueles quatro tracinhos no canto direito superior do celular quase passam despercebidos, mas com certeza são logo lembrados quando um vídeo trava ou uma foto demora a carregar, por exemplo. Com a chegada do 5G (rede móvel de quinta geração), a promessa é de que esses problemas sejam resolvidos e a vida de quem depende do celular seja bastante facilitada. Mas os ganhos vão muito além do que a maioria das pessoas imagina. A nova tecnologia é capaz de otimizar praticamente todos os processos de uma cadeia produtiva e abrir cada vez mais espaço para a digitalização e uso de dados na indústria. Por isso, especialistas garantem que o 5G irá revolucionar também o setor industrial.

Proporcionando menor latência e mais velocidade (20 vezes maior que a do 4G), mobilidade e conectividade (milhares de dispositivos conectados ao mesmo tempo), o 5G é base para a direção que não só a indústria, mas diversos outros campos estão tomando: intensificação do uso de dados. 

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Marcio Venturelli

"A indústria será cada vez mais inteligente, baseada em dados para tomadas de decisão que vão do planejamento ao sistema de manutenção, por exemplo. Com o 5G associado a outras tecnologias como a inteligência artificial, o processamento desses dados se torna muito mais rápido, com respostas em tempo real a grandes distâncias"

A gerente da área de eletrônica do Senai Cimatec, Ana Tereza Borda, cita alguns exemplos de uso na indústria. “Uma câmera com inteligência artificial aplicada que faz leitura de um ambiente monitorado e começa a utilizar o 5G vai passar a enviar respostas mais rápidas, em milissegundos. Ou seja, ela vai identificar, em tempo real, se há uso incorreto de equipamento de segurança, se há pessoas em áreas de acesso proibido, e etc. Na agropecuária, por exemplo, pode servir para monitoramento de rebanho e até identificação de plantas”.

Chegada e expansão

O 5G chegou ao Brasil em agosto de 2022, completando agora um ano. Mas o processo é lento e, mesmo com as operadoras indo além das metas da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), por enquanto, somente cerca de 1.700 municípios brasileiros têm o sinal. A promessa é de que a oferta chegue a todas as cidades acima de 500 mil habitantes até julho de 2025 e a todas as localidades com mais de 200 mil habitantes até julho de 2026. Na Bahia, até o momento, são apenas sete municípios contemplados: Salvador, Feira de Santana, Vitória da Conquista, Itabuna, Porto Seguro, Juazeiro e Alagoinhas.

Alagoinhas foi a única cidade da Bahia a integrar a mais recente lista de cidades autorizadas pela Anatel a utilizar a faixa 5G. Com a liberação, o sinal poderá ser ativado a depender da solicitação das operadoras de telefonia. Isso porque a liberação não significa que os usuários da cidade irão automaticamente acessar a internet na nova faixa; é preciso que as operadoras solicitem a infraestrutura e a ativação do serviço no município.

O secretário de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente da cidade, Bruno Fagundes, comemora o feito na cidade que foi eleita em 2022 pelo Instituto Urban Systems como a melhor cidade da Bahia para investir. “Temos um forte o setor de comércio e serviço, mas também um polo industrial muito bem desenvolvido, sobretudo voltado para a produção de bebidas e insumos. A gente recebe essa notícia com muito entusiasmo porque sabemos que uma conexão mais rápida que é recente no país e ainda está em poucas cidades, vai melhorar o que já temos aqui e atrair ainda mais investidores, o que significa geração de empregos”, acrescenta Fagundes.

No entanto, chegando apenas em grandes centros, o 5G escapa até mesmo de regiões metropolitanas e outras localidades que costumam ter forte atividade industrial. O Polo de Camaçari e o Centro Industrial de Aratu (CIA), por exemplo, que ficam na Região Metropolitana de Salvador, por enquanto não foram contemplados com o sinal. O diretor da Associação das Empresas do CIA (ProCia), Marconi Oliveira, conta os minutos para a mudança.

“A mecanização vem para evitar equívocos e acelerar, ou seja, buscar a perfeição. A tendência é essa e as empresas precisam se atualizar. Com a chegada do 5G e a disseminação dessa tecnologia e de diversas ferramentas que dela vão surgir, você vai democratizando, popularizando as novidades, que vão podendo chegar, por exemplo, em indústrias de médio e pequeno porte”, destaca.

Na Cetrel, empresa especialista em soluções ambientais que fica no Polo Industrial de Camaçari, o gerente de relações institucionais, Eduardo Fontoura, também se mostra ansioso. 

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Eduardo Fontoura

"A tecnologia 5G vai ser disruptiva, vai elevar o padrão da indústria para um outro patamar tecnológico. A perspectiva é a melhor possível. Com o 5G, você tem uma internet rápida e segura. Vai ser uma revolução muito grande no que a gente chama de indústria 4.0"

“A grande questão é que, apesar de estar já oficialmente aqui no Brasil, ela ainda é muito limitada para os grandes centros urbanos e ainda é incipiente. Temos ainda uma limitação grande em termos de infraestrutura para que o 5G seja disseminado. Isso é o que nos impede de avançar no segmento industrial. E vale lembrar que muitas empresas ainda não têm aparelhos que comportam o 5G, isso demanda um investimento. Na Cetrel temos alguns já adaptados, mas outros não e essa mudança vai acontecer aos poucos, não é da noite para o dia”, finaliza Fontoura.

Divulgando o 5G

Foi devido a essa problemática que o Senai Cimatec lançou um projeto, em 2021, chamado 5G Truck, que funciona como uma sala de aula e exposição itinerante, sobre as rodas de um caminhão. O objetivo é levar a diversos municípios brasileiros conhecimentos sobre o que é o 5G e como ele pode ser usado. O projeto acontece em parceria com a Huawei Brasil, empresa fornecedora de tecnologia de soluções de informação da indústria e das comunicações (TIC).

Para o diretor de Ecossistema e Marketing da Huawei Brasil, Tiago Fontes, a indústria é um dos setores mais desafiadores para o 5G, justamente por ser um dos mais beneficiados. “A indústria move a economia e se você tem um aumento de produção cada vez maior, baseado na digitalização, vai haver uma grande mudança”, coloca.

Tiago Fontes, diretor de Ecossistema e Marketing da Huawei Brasil. Crédito: Divulgação/Huawei

A Huawei foi responsável por inaugurar, em Sorocaba (SP), o primeiro centro logístico com 5G da América Latina, otimizando o trabalho de máquinas que funcionam basicamente como robôs e operam o transporte interno dos produtos. Também foi a Huawei a responsável pela primeira indústria inteligente de produção. A partir do 5G, toda a linha de produção foi digitalizada com o 5G no centro de manufatura em Jundiaí (SP).

Segundo Fontes, o 5G é fundamental para permitir a disseminação do uso de inteligência artificial, por exemplo, bastante utilizada pelo sistema de câmeras de monitoramento da Huawei. Isto porque ela requer enorme processamento de dados, que demanda uma grande largura de banda. “O 5G chega para agregar ainda mais valor, colocando em jogo a realidade aumentada, a realidade virtual, o vídeo em 360 graus, a automação, controle remoto e por aí vai”, diz.

5G público e 5G privado

Tudo o que falamos aqui agora diz respeito ao 5G público, mas você sabia que também existe um 5G privado? No público, há uma dependência das operadoras de telefonia, que vendem o serviço. Já no privado, o usuário é o dono da própria rede a partir de uma licença concedida pela Anatel mediante solicitação e justificação. Esse tipo de rede é bastante vantajoso para fábricas e outras instalações que desejam implantar redes privadas sem fio, mas precisam de capacidade de cobertura, velocidade e segurança superior à oferecida pelo Wi-Fi convencional ou outras tecnologias.

O consultor técnico de conectividade industrial da Siemens, Marcio Roberto dos Santos, explica a principal diferença. “Quando se tem uma grande operação, é arriscado depender de um serviço oferecido por um terceiro. Em relação à segurança cibernética, as redes 5G privativas, por estarem isoladas das redes públicas de celular, são bem menos vulneráveis a ataques de hackers e roubo de informação, por exemplo. A conectividade do ‘chão de fábrica’ necessita de proteção contra o roubo de informações como dados de produção e também proteção contra os ataques maliciosos”, coloca.

Márcio Roberto dos Santos. Crédito: Divulgação/Siemens

A Siemens, conglomerado industrial voltado para soluções digitais para a indústria, foi a primeira empresa brasileira a conseguir licença para operar o 5G privado industrial, além de também responsável pelo primeiro roteador 5G industrial no mercado brasileiro, ainda em 2021. “Fizemos isso em nossa fábrica em Jundiaí (DP). Você chega para a Anatel e pede a licença para a área onde você vai atuar, pagando uma taxa abaixo de 10 mil reais. Já para implementar uma rede 5G própria você precisa se transformar em uma pequena empresa de telefonia móvel e isso já vai para a casa das centenas de milhares de reais”, afirma o consultor.

Mesmo que não opte pela rede privada, a empresa vai precisar adaptar aparelhos, o que também implica custos, mesmo que menores. Justamente por isso, Marcio Roberto dos Santos destaca que é importante que a empresa avalie se o 5G será realmente necessário e fará a diferença na produção. “Você precisa de mobilidade, menor latência, velocidade e milhares de dispositivos conectados ao mesmo tempo? Então o 5G é importante. No agro, por exemplo, você precisa de maior região de cobertura, não necessariamente velocidade, mas se precisar de mobilidade, aí o 5G é interessante”.

No caso da Siemens a transformação foi escolhida para otimizar o processamento de dados. “Sabemos que o processo de transparência numa fábrica implica um volume absurdo de dados que precisam ser tratados para virarem informações e tudo que é feito manualmente é passível de erro, de atraso. A Siemens percebeu que tinha tecnologia necessária para análise de dados, mas que em alguns cenários era preciso mobilidade, internet móvel, e aí nesse momento o 5G veio para resolver isso”, finaliza.

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