Que África é essa? Saiba mais sobre o tema do Afro Fashion Day 2023

No dia 25 de novembro, a passarela mais negra do Brasil vai reverenciar a Mãe África, tema da 9ª edição do Afro Fashion Day. O elemento central da proposta, como revela Gil Alves, diretor artístico do desfile e produtor audiovisual, é a celebração das riquezas, das heranças e das tecnologias ancestrais. A proposta passa também pela demarcação da persistência desses elementos na contemporaneidade e, ao mesmo tempo, os apontamentos de futuro. Na passarela, o mergulho ancestral passará pelas realezas africanas, as etnias e afrofuturismo.

A proposta deste ano coloca no centro a África enquanto um continente vasto, de muitos povos, nações e culturas diversas. A África como berço da evolução humana – do homo habilis ao homo sapiens –, das tecnologias, da agricultura, da matemática, das obras monumentais, da escrita etc, e presente na capital baiana como herança do que se chama de diáspora africana.

Entre os séculos XVI e XIX, chegaram ao Brasil cerca de 5 milhões de homens, mulheres e crianças negras escravizadas. A Bahia, uma das principais portas de entrada do tráfico negreiro, recebeu, sobretudo, contingente humano vindo de Guiné, Angola, Congo e Benin. Dados de 2022 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmou a Bahia como o estado de maior concentração de pessoas autodeclaradas pretas e pardas no Brasil. Só em Salvador, isso representa 80% da população.

“O Afro Fashion Day é sempre uma celebração da nossa cultura. A cada ano estamos vendo temas existentes na nossa cidade. Fazemos releitura, rememoramos histórias. A gente trabalha com o processo de renovação dentro da moda. O Afro Fashion Day sempre traz novos talentos, sempre conta novas histórias das gerações que estão chegando e realizando sonhos”, reflete Alves.

Uma das etapas da iniciativa foi a realização das seletivas de bairro, que abriu mais uma vez espaço para aspirantes a modelo não-agenciados. Puderam se inscrever pessoas afrodescendentes com idade a partir de 13 anos. Neste ano, mais de 550 inscrições foram efetivadas ao longo das três seletivas, realizadas nas estações do metrô Pituaçu, Rodoviária e Campo da Pólvora. Dezesseis foram selecionadas para compor o time de modelos que subirá na passarela em novembro.

A passarela

O desfile será dividido em três blocos. O Afro Realeza, que abre o evento, terá forte referência ao ouro, com a cor marcada nas peças. “Traremos as referências das realezas africanas, a volumetria, a imponência, o design mais requintado, mais detalhado, com materiais sofisticados”, detalha Alves. O bloco também promete trazer o afro empreendedorismo como vertente contemporânea das riquezas africanas.

No segundo momento, o desfile passará pela Afro Etnia, cujas montagens trarão para a passarela a referência ao cobre, além de padronagens como animal print, formas geométricas, tribos africanas e tramas manuais - como crochê, miçangas, pinturas.

Para finalizar, entre em cena o Afrofuturismo, referenciado pela prata e pela chamada 3ª diáspora, movimento que remete ao deslocamento de signos provocado pela interação tecnológico/virtual e que alcança discos, filmes, cabelos, slogans, gestos, modas, bandeiras, ritmos, entre outros.

O produtor artístico acredita que a proposta de leitura do tema na passarela irá surpreender o público. “A África aponta para o futuro. Refletir sobre o que essa nossa geração recebe dos antepassados e o que vai levar daqui para a frente como legado, como herança ancestral”, enfatiza. “A gente não segue adiante do nada. É muito importante que essa nova geração saiba que o mundo não surgiu nos anos 2000”, completa Alves.

Aberto ao público, o desfile será realizado pelo segundo ano consecutivo no Terreiro de Jesus, Pelourinho, Salvador. O Afro Fashion Day é um projeto do jornal CORREIO, com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador e apoio do Shopping Barra e do Salvador Airport.