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Billie Jean com swing baiano? Desfile do Afro Fashion Day entrelaça música e moda negra em 10ª edição


 

Evento levou mais de 5 mil pessoas na Praça 2 de Julho, no Largo do Campo Grande

  • Larissa Almeida

Publicado em 02/11/2024 às 05:00:00
Afro Fashion Day 2024. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Leveza, movimento e transparência são três palavras que podem remeter às águas de Nanã, orixá dos lagos, da morte e da sabedoria, mas que casam igualmente bem com a expressão do primeiro ato do Afro Fashion Day. Na edição em que completa uma década, o evento de moda realizado pelo CORREIO começou as apresentações, na noite desta sexta-feira (1°), fazendo reverência à ancestralidade, sem perder de vista a sincronia com a música, que foi tema do evento neste ano.

Antes do início oficial, o prenúncio do espetáculo foi feito com o som dos tambores tocados pelos percussionistas. Depois, enquanto a melodia e a letra de 'Ponto de Nanã' preenchiam o perímetro da Praça 2 de Julho, que pela primeira vez foi palco da passarela mais negra do Brasil, os olhos das mais de 5 mil pessoas que marcaram presença no local se voltaram para a primeira modelo, que desfilou uma peça trabalhada com rechilier, semelhante as vestes típicas dos ilês – casas de candomblé.

Um mergulho no axé enquanto expressão de moda abarcou os looks completamente brancos, que conseguiram transitar entre as propostas mais leves – como calça saruel, tecidos de malha e amarrações – e as mais carregadas de significados nos detalhes – como bordados, peças de caça e acessórios feitos de conchas. Ainda, houve espaço para a experimentação entre a ancestralidade forjada no encontro das diásporas.

Modelos desfilando durante o ato Ancestral do AFD 2024. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Segundo Vander Charles, criador da marca Black Atitude, a ideia foi trazer uma mescla entre o tradicional e o contemporâneo em cada roupa. "A Black Atitude tem a identidade das ruas, tem uma pegada mais urbana e com inspiração em negros norte-americanos. Eu fiz uma roupa que remete ao hip hop e uma mistura de tecido cru com a calça saruel, que é uma conversa entre a África e a América do Norte", explicou.

Ao fim do primeiro ato, uma homenagem ao Ilê Aiyê, que completou 50 anos nesta sexta-feira, deu o tom para a parte Festiva do evento. O que se viu em seguida foi uma explosão de cores vivas, que foram desfiladas com peças extravagantes, acessórios de ouro e estampas que viajaram pelas identidades dos blocos afro de Salvador, desde o verde predominante do Malê Debalê até o colorido do Olodum – sem deixar de destacar, é claro, o perfil azeviche do Mais Belo dos Belos, que inclusive foi guiado pelas canções do Ilê.

“A nossa inspiração foi o ‘suco’ de axé. Nós fizemos essa coleção, que inclusive acabou de ser lançada no São Paulo Fashion Week, para contar um pouco da nossa história e dos axés dos anos 80 até agora. Trouxemos três peças, batizadas de Suco de Axé, Calor de Mil Grau e Abre Caminho, aproveitando que completamos dez anos em dezembro. Para nós, é um orgulho estar no AFD”, afirmou Júnior Rocha, um dos donos da marca Meninos Rei.

Modelo Leideane Oliveira veste Meninos Rei. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

O ato final da celebração da beleza negra, por sua vez, explorou o contemporâneo, deu espaço às produções coloridas, experimentais e afrofuturistas. Foi seguindo esse modelo que o estilista Silverino Ojú produziu uma peça que conversou com o subversivo e inovador, trazendo a mistura como força e tendo tudo isso traduzido também em música, através do remix de 'Billie Jean' com o swing baiano, da versatilidade de Larissa Luz – que foi modelo e cantora ao fim da noite – e da sincronia atemporal de Quabales, que sinalizaram, ao final, que um futuro novo só é possível sendo atemporal.