Balé Folclórico da Bahia abre celebrações do 2 de Julho com show de sons, cores e ancestralidade
Espetáculo 'Aos Pés do Caboclo' lotou a praça do Campo Grande em dois dias de apresentação
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Elaine Sanoli
O som dos primeiros batuques da percussão chegou aos ouvidos e corações soteropolitanos anunciando a hora de celebrar os heróis e heroínas da Independência do Brasil na Bahia. Para comemorar o tradicional 2 de Julho em Salvador, o Balé Folclórico deu início a celebração da resistência baiana à dominação portuguesa, do jeito que os Caboclos e Caboclas gostam: com muita dança e festejo.
Com sessões no sábado (29) e no domingo (30), às 19h, o espetáculo “Aos Pés do Caboclo” aconteceu no palco de batalhas históricas que precederam a luta pela Independência: debaixo do monumento central da Praça do Campo Grande.
“Esse ano eu propus a Vavá [Botelho] essa recriação do Pé do Caboclo, e insisti muito para que ele acontecesse no chão, porque era o original, é literalmente ao Pé do Caboclo. Estou tentando também trazer uma multilinguagem. É muito importante que a gente tenha não só o show musical, mas também teatro e dança. Esse ano a gente colocou vários painéis também, então é uma coisa geral”, explicou o presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Fernando Guerreiro, na noite de domingo.
Os 110 artistas no palco, somados aos 20 músicos da orquestra, contaram, através das expressões do corpo, as histórias que permeiam o imaginário do baiano e compõem a rica tapeçaria cultural popular do estado. “Foi emocionante até para mim. O público reagiu muito bem, as pessoas estavam super emocionadas, felizes. É um espetáculo popular que toca as pessoas no fundo do coração, porque muita coisa faz parte do dia a dia de todo mundo. As pessoas estavam acompanhando as músicas, as danças, muita gente sabia todas aquelas sequências de coreografias, porque fazem parte das danças populares”, pontuou o diretor-geral do Balé, Vavá Botelho, sobre os dois dias de espetáculo.
A montagem foi inspirada na apresentação coreografada por Lia Robatto, nos anos 1970, e trouxe uma mescla da força e da alegria do baiano, responsável por encantar o público que lotou a praça central da cidade. “Nós queríamos revisitar esse espetáculo como uma maneira de homenagem a ela [Lia], sobretudo por conta de preservar a memória do que ela fez, que eu espero que a Bahia saiba salvaguardar e preservar para sempre”, destacou o coreógrafo e diretor artístico do espetáculo, José Carlos Arandiba, o Zebrinha, no último dia do projeto.
Para Zebrinha, a performance foi mais uma forma de trazer à luz da discussão histórica grupos importantes para a cultura baiana e brasileira que foram invisibilizados. Na celebração do 2 de Julho, subiram ao palco aqueles que representam, com maestria, a trajetória de resistência do estado: 50 dos dançarinos fazem parte de coletivos indígenas, representando cada pedaço de território ancestral que a Bahia guarda.
“A gente traz nossa ancestralidade para fazer parte desse momento muito importante, que é mostrar a nossa cultura e dividir o palco com essa galera do balé. O 2 de julho é a data da independência, e é o que a gente, povos originários, preza. Fomos chamados para fazer parte desse momento e nos sentimos representados. É exatamente o que queremos, uma independência, quebrar esse tabu do estereótipo, o que nos traz muita força nesse momento”, pontuou o cacique Idyarrury, do povo Xukuru-Kariri, de Alagoas.
Marcando presença como espectadora, a ministra da Cultura, Margareth Menezes, se viu emocionada com a riqueza da representatividade da noite. “Nesse momento da nossa data magna, que não é só uma data da Bahia, é uma data do Brasil, e, sendo eu baiana, soteropolitana, entendo o significado dessa data. Estar aqui no Campo Grande, ao pé do caboclo, e ver um espetáculo desse, com orquestra, com balé, é coisa mais linda, encantadora”, celebrou.
A Bahia ancestral, contada através do toque da percussão, dos movimentos das danças e dos figurinos, trabalhados em diferentes cores e formatos, encantou e encheu de lágrimas os olhos do público. “Eu sempre ando aqui na praça. Ontem [sábado], quando eu passei, eu vi que tinha alguma coisa acontecendo e vim. Estava muito bonito, mas eu não vi do início. Então, hoje [domingo], eu já vim sabendo que tem 'Aos Pés do Caboclo'. Muito bonito, eu fiquei extasiado”, contou o barista Cau Rios, 46. “É memória, é lembrar de si mesmo. Alguém falou, ontem, aqui, que dá um orgulho de ver esse espetáculo, dá um orgulho de ser baiano, e resgata esse orgulho de ver essa história”, completou.
Para a enfermeira Desiree Carvalho, 41, a apresentação do balé foi um momento de estreitar os laços com o estado, que há cerca de três anos chama de lar. “A gente conhece a história, mas não tanto quanto os baianos. É muito importante, principalmente porque os turistas, as pessoas que frequentam aqui, não conhecem a história da independência real do Brasil, e a gente acaba conhecendo ao visitar a Bahia”, afirmou a gaúcha.
Na primeira noite de apresentação, houve até quem, pela conexão religiosa, recebesse no próprio corpo a presença do Caboclo.
O prefeito Bruno Reis, que também esteve presente no primeiro dia do projeto, celebrou a apresentação. “Um verdadeiro sucesso. O espetáculo 'Aos Pés do Caboclo' não poderia ser encenado em outro lugar que não aqui, literalmente no pé do caboclo. Uma iniciativa da Fundação Gregório de Mattos para valorizar a nossa cultura, nossa história e nossa arte, dentro dos festejos do 2 de Julho, a data mais importante da Bahia”, afirmou.
Também homenageada, Lia Robatto não escondeu a alegria, durante sua presença na abertura. “Estou feliz em ser homenageada, de lembrarem quase 50 anos depois, fico muito contente”, revelou.
Confira a programação para esta semana do 2 de Julho
Te Deum e Pirajá – Na segunda (1º), às 9h, acontece a celebração do Te Deum, na Igreja da Catedral da Sé, no Terreiro de Jesus, com participação do Coral da Basílica do Bonfim, regido pelo maestro Francisco Carlos Rufino. Às 10h, ocorre a entrega da Requalificação do Largo da Lapinha e do Pavilhão 2 de Julho.
Às 12h, em Simões Filho, acontece o encontro dos Fogos Simbólicos do Recôncavo Leste e do Recôncavo Norte. Na tarde de sábado acontece, às 16h, a cerimônia cívica da chegada do Fogo Simbólico, no Largo de Pirajá; o hasteamento das bandeiras por autoridades, seguido de execução do Hino Nacional pela Banda de Música da Polícia Militar do Estado da Bahia, e do acendimento da Pira e colocação de Flores no túmulo do General Labatut, pelas autoridades. Já às 12h, a Fundação Gregório de Mattos irá realizar a inauguração do Painel de Pirajá.
A seguir, às 17h, acontece a apresentação do Cortejo Afro, no Largo do Pirajá e o segundo dia de apresentação do espetáculo de dança “Ao Pé do Caboclo”, no Campo Grande. A Partir das 18h, será realizada a Ultramaratona da Independência, com concentração no Parque dos Ventos, na Boca do Rio.
Data magna – Na terça-feira (2), a manhã inicia com a alvorada com queima de fogos no palco armado no Largo da Lapinha, às 6h. Às 7h terá início o cortejo cívico da Lapinha, seguido de cerimônia cívica contendo o hasteamento de bandeiras por autoridades, nova execução do Hino Nacional, desta vez pela banda de música da Marinha do Brasil.
Às 9h, tem início o Desfile Cívico, com participação dos Caboclos de Itaparica, Museu Vivo na Cidade, Fanfarras Municipais, Estaduais e da Região Metropolitana de Salvador, Grupos Populares. Às 8h10 acontece a colocação de flores no monumento ao General Labatut, realizada pelas autoridades presentes. A seguir ocorre a entrega dos carros emblemáticos dos caboclos e a execução do Hino ao 2 de Julho, também pela banda de música da Marinha.
Também será realizado o Concurso de Fachadas decoradas no percurso compreendido entre o Largo da Lapinha e o Terreiro de Jesus.
A seguir, acontece a homenagem aos Heróis da Independência, da Ordem Terceira do Carmo e a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Fechando a manhã, ocorre a apresentação performática de teatro Dois do Sete, além do recolhimento dos carros emblemáticos dos caboclos nos caramanchões da Praça Thomé de Souza.
No período da tarde, às 13h, acontece a Concentração do Cortejo Cívico, com início programado para às 13:30, na Avenida Sete de Setembro, com uma breve parada em frente ao Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). Às 14h, começa o Concurso de Fanfarras e Balizas, na Avenida Sete. A partir das 15h haverá uma cerimônia cívica no 2º Distrito Naval.
Às 16h, a cerimônia acontece no Largo do Campo Grande, seguida da chegada dos carros dos caboclos, hasteamento das bandeiras por autoridades, execução do Hino Nacional pelas bandas de música da Marinha, Exército e Aeronáutica, deposição de coroas de flores no Monumento ao 2 de Julho pelas autoridades presentes, com o posterior acendimento da Pira do Fogo Simbólico pela paratleta cega Iracema Vilaronga. Ao final acontece a execução do Hino ao 2 de Julho pelo Coral da PM-BA, com acompanhamento da Banda de Música Wanderley, da Polícia Militar.
Ainda no dia 2 de julho, entre meio-dia e 17h, a Casa do Benin, no Pelourinho, irá receber a Culinária Musical. A entrada é gratuita.
Coral – Na quarta-feira (3), as festividades continuam com uma apresentação do Coral da Cidade do Salvador, na Praça do Campo Grande, além do Show do cantor Gerônimo, em Homenagem ao 2 de Julho, no palco Campo Grande, às 17h. Às 19h. O público também será agraciado com a apresentação do Baile da Independência com Orquestra do Maestro Fred Dantas e convidados, no Palco Campo Grande.
Show – Na quinta-feira (4), ainda na Praça do Campo Grande, ocorre um show especial com Mariene de Castro.
Volta da Cabocla – Já na sexta-feira (5), às 18h, acontece a Volta da Cabocla - retorno dos carros dos Caboclos do Campo Grande para o Pavilhão da Lapinha com a participação da Orquestra do Maestro Reginaldo de Xangô. Às 20h, o Largo da Lapinha recebe o Samba de Caboclo.
Encerramento – Para encerrar as comemorações, de 12 a 14 de julho, será realizada a tradicional Festa de Labatut, no final de Linha de Pirajá