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Priscila Natividade
Publicado em 24 de agosto de 2024 às 05:00
Não apenas sustentar, mas regenerar. Quando o sul da Bahia viu sua principal cultura ser atingida pela vassoura de bruxa, devastando plantações, a região precisou se ressignificar e criar novas alternativas. De terra do cacau de commoditie, se tornou a terra do chocolate fino e de qualidade. “A ressignificação que o empreendedorismo é capaz de fazer em uma região foi o que deu a grande tônica naquele momento, ao criar novas alternativas para gerar outras possibilidades de riqueza, renda e trabalho”, destaca a gerente regional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no sul da Bahia, Claudiana Figueiredo.
O futuro do empreendedorismo é regenerativo, colaborativo e vinculado à capacidade de se transformar. Hoje, são mais de 100 marcas de um cacau de alta qualidade e premiado em âmbito internacional, onde historicamente nem se produzia chocolate antes, diante de uma atividade econômica voltada apenas para a monocultura do cacau.
“Foi necessário ampliar a visão para produzir não apenas a amêndoa de commoditie, mas a amêndoa de qualidade, a amêndoa premium e, mais ainda, fazer uma verticalização da cadeia que era a produção do chocolate, tanto o chocolate bean to bar (controle do grão até o produto final), quanto do chocolate tree to bar (controle do cultivo até o produto final), que se tornaram o grande diferencial do sul da Bahia, onde você consegue produzir um chocolate que vai da árvore até a barra, além de outros subprodutos”, diz ela.
Não dá mais para pautar o desenvolvimento de um território apenas a partir de um futuro ou uma vocação única. É muito mais sobre pensar paradigmas que transformem a cadeia. “A gente precisa criar futuros, no plural. A cultura do cacau e o turismo se complementam, se integram e vão criando uma nova dinâmica de desenvolvimento econômico sustentável, aliado a um valor agregado que reflete também na preservação e na economia do cuidado.”
Claudiana Figueiredo
gerente regional do Sebrae no sul da BahiaE o empreendedorismo, que rompe barreiras, quebra paradigmas da construção de modelos de negócios tradicionais e se renova a todo momento, permeou as discussões durante o último painel que fechou a programação da 15ª edição do Fórum Agenda Bahia, na tarde dessa sexta-feira (23). Mediado pelo presidente da Empresa Salvador Turismo da Prefeitura de Salvador (Saltur), Isaac Edington, o eixo temático Empreendedorismo trouxe ainda os cases de sucesso da startup Afrosaúde e da Holding Club.
A sócia diretora da Holding Brasil, Ju Ferraz, disse que impulsionou o segmento de marketing e experiências de marca. Baiana e uma das principais referências em network do país, Ju defende que, de uma simples ideia, às vezes, de uma oportunidade sem solução, é que surge uma grande inovação. “E é essa inovação que se torna uma grande mola propulsora na melhoria de qualquer negócio. Inovação está diretamente ligada à evolução e revolução, apesar de muita gente achar que é só tecnologia. Inovar é fundamental para que a gente consiga evoluir, não só como ser humano e com soluções nos nossos negócios, mas também evoluir como sociedade.”
Ju Ferraz
sócia diretora da Holding BrasilJu começou como jornalista, já trabalhou com assessoria de imprensa e com artistas como Cláudia Leitte e Ivete Sangalo antes de se descobrir empreendedora. Na Holding, encontrou apoio para vencer um bournout e transformar o segmento de eventos e o que se fazia no setor.
Envolvida em ativações como o Camarote Nº 1 da Brahma na Sapucaí, a empresa chegou a faturar R$ 300 milhões por ano. Com mais de 154 mil seguidores, Ju é ainda influencer e idealizadora do projeto Body Open Define You (B.O.D.Y), evento que tem a sua próxima edição marcada para o dia 23 de outubro, em São Paulo.
“O que eu gostava mesmo era de criar laços, conexões, me relacionar com pessoas. Quando a gente pensa em empreender, pensa no que nos inspira. Tive coragem para compartilhar minhas dores e questões. Empreender é corajoso. Meu sonho hoje é criar uma faculdade para capacitar jovens em situação de vulnerabilidade para atuarem na produção de eventos. Quanto mais preparo, mais conhecimento, mais planejamento e conteúdo, mais capacidade, assertividade e eficiência em empreender”.
Também participante do painel sobre o agora e o futuro do empreendedorismo, o CEO da startup Afrosaúde, Arthur Lima, destaca que nem toda inovação precisa ser complexa, mas ela pode vir em forma de uma solução simples e acessível, como aconteceu com a plataforma. O Afrosaúde reúne hoje uma rede de 2 mil profissionais de saúde negros que atendem pacientes remotamente em todo o país.
“A minha trajetória é a de um profissional de saúde que decidiu empreender para além das vias tradicionais. Eu sou dentista e junto com um jornalista, a partir de uma situação que vivi, vimos um problema, identificamos soluções e criamos uma startup que trabalha com inovação, saúde digital, diversidade e inclusão.”
Arthur Lima
CEO da startup AfrosaúdeA plataforma começou recentemente a testar para assinantes a função Sankofa que vai garantir descontos em consultas com psicólogos, além de outros benefícios como farmácias. “O mais interessante é que inovação não quer dizer necessariamente uma invenção do zero. É uma transformação no formato simples de fazer saúde de uma maneira palpável e acessível.”