Daqui para o futuro: quatro baianas que estão transformando o caminho dos seus negócios

Bahia tem mais de 1.154 milhão de pequenos negócios formais no estado; segmentos na área de vestuário, beleza e mercadorias em geral se destacam

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  • Priscila Natividade

Publicado em 24 de agosto de 2024 às 05:00

Luana Bomfim (Preta Brasil), Adeylsa Matos (Cachaçaria Paramirim), Jô Lima (Jô Lima Studio de Beleza) e Giovanna, Patrícia e Amanda Guimarães (A Brigadeirinha)
Luana Bomfim (Preta Brasil), Adeylsa Matos (Cachaçaria Paramirim), Jô Lima (Jô Lima Studio de Beleza) e Giovanna, Patrícia e Amanda Guimarães (A Brigadeirinha) Crédito: Divulgação e Marina Silva/ CORREIO

Quase um empreendedor para cada esquina. Dificilmente se passa por uma rua qualquer sem ver alguém ali que não esteja vendendo alguma coisa, seja formalmente ou informalmente. Hoje são mais de 1.154 milhão de pequenos negócios formais na Bahia. Destes, 819,9 mil são microempreendedores individuais (MEIs) e 355 mil micro e pequenas empresas. O empreendedorismo se tornou um dos setores produtivos que mais movimenta a economia baiana e gera empregos também.

Os dados mais recentes são do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e dizem muito sobre a dimensão de oportunidades para os empreendedores diante de um cenário que exige cada vez mais sustentabilidade, inovação, competitividade e tecnologia, seja um negócio pequeno, médio ou grande. Atualmente, as principais atividades com maior número de Meis estão concentradas no comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios (6,9%), seguido de cabeleireiros, manicure e pedicure (6,1%).

Já as micro e pequenas empresas se destacam no comércio de mercadorias em geral, com predominância de produtos alimentícios como minimercados, mercearias e armazém (6,7%). Os desafios são do tamanho da vontade de ver seu negócio dar certo até porque empreender não é fácil. Trouxemos quatro histórias de empreendedoras baianas que estão se destacando no segmento que atuam agora e transformando o futuro dessas empresas com criatividade e inovação. Confira.

De informal à microempresa

"Sou formada em Pedagogia e Gestão Comercial, mas sempre tive facilidade com cabelo. Foi uma prima minha que lá no início, financiou e me incentivou a fazer um curso na área. Na época, ela tinha uma loja e queria que eu ajudasse na colocação de mega hair.

Jô Lima apostou em novas técnicas de alongamento e se prepara agora para criar sua própria linha de produtos  para cabelos
Jô Lima apostou em novas técnicas de alongamento e se prepara agora para criar sua própria linha de produtos para cabelos Crédito: Marina Silva/ CORREIO

Quando eu decidi começar a empreender, foi muito por uma questão de necessidade. Primeiro, na loja dela, depois na minha própria casa. Em um dos meus primeiros atendimentos, percebi que não estava apenas aplicando um mega hair. Estava ajudando uma mulher a redescobrir sua autoestima após uma separação. Sua autoestima estava baixa e ela tinha perdido seus cabelos nesse processo devido o stress.

Com o tempo, novos clientes surgiram e meu negócio cresceu. Formalizei a empresa e, com R$ 1 mil, construí um espaço modesto em frente à casa da minha mãe, no Jardim Cruzeiro, e o equipei de maneira muito simples. Minha jornada não foi fácil. Uma oração que fiz, mudou todo meu destino.

De informal, fui MEI e hoje sou Microempresa. Tenho um studio de beleza em uma área nobre da cidade e uma academia focada na aprendizagem de gestão e serviços de beleza. Ministro cursos e consultorias, gerando mão de obra qualificada para o mercado de trabalho. Inclusive, tenho até um programa de gestão de salão que aplica indicadores e mede todos os resultados, compartilhando esse conhecimento com outras empreendedoras.

Somos especializados em alongamento capilar, com técnicas como ponto slim, slim hair adesivado, microcápsulas e entrelace, e ainda fazemos nossa própria confecção de cabelo. Além disso, oferecemos uma gama completa de serviços de salão. Me concentrei em resolver as principais necessidades das minhas clientes, o que me ajudou a criar técnicas exclusivas.

O ponto slim e o slim hair adesivado não apenas melhoraram a qualidade do serviço, mas também proporcionaram uma experiência mais personalizada e duradoura para quem nos procura. Atualmente, o faturamento médio anual do studio fica entre R$ 200 mil e R$ 250 mil. A beleza me escolheu, e eu me apaixonei pela capacidade de transformar vidas e espalhar sorrisos. Não basta ter uma história inspiradora. É crucial demonstrar que o negócio é bem organizado e gerido com competência.

No ano passado, conquistar o prêmio Mulher de Negócios do Sebrae foi um momento profundamente significativo para mim. Vindo de um contexto em que ouvir “não” era mais comum do que “sim”, receber esse reconhecimento me fez perceber que é possível ocupar lugares de destaque e fazer a diferença. Olhando para o futuro, estou mergulhada no desenvolvimento de uma linha de produtos de cuidados capilares.

Além disso, estamos trabalhando em mais uma nova técnica com uma abordagem que elimina a dor e a necessidade de cola, o que vai melhorar tanto o tempo quanto a qualidade do resultado do alongamento. A cada cliente atendida, fortalecemos um ecossistema que valoriza o talento, o empreendedorismo e o impacto social. Meu desejo é ressignificar a vida de mais de 100 mulheres a cada seis meses, ajudando a recuperar sua autoestima, a crescer e inovar".

Jô Lima é proprietária do Jô Lima Studio de Beleza (@jolimastudiodebeleza) e vencedora na edição do ano passado do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios.

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Tudo por um doce

"A Brigadeirinha começou através de uma vontade da minha mãe, Patty, em mudar de ramo. Ela trabalhava com artesanato em biscuit por encomenda, mas era apaixonada por confeitaria. Como já fazia tortas e pães para a própria família, viu na confeitaria uma chance de novo negócio. Em 2014, quando começou a tendência dos brigadeiros gourmet, ela decidiu que o brigadeiro seria o produto perfeito para começar seus novos planos. Pesquisou sobre o assunto, testou receitas, criou a marca e abriu uma pequena lojinha, aqui em Feira de Santana mesmo, num ponto alugado na rua de casa.

Juntas, Patrícia, Amanda e Giovanna Guimarães tornaram A Brigadeirinha um doce e grande negócio de família
Juntas, Patrícia, Amanda e Giovanna Guimarães tornaram A Brigadeirinha um doce e grande negócio de família Crédito: Divulgação

Junto comigo e minha irmã Amanda, nós nos dedicamos a transformar o sonho da minha mãe em realidade e foi assim que A Brigadeirinha se tornou um projeto de família. A primeira loja era apenas uma vitrine, duas mesinhas, um pequeno fogão, uma geladeira, uma pia improvisada e uma bancada. Mas, tivemos que fechar a nossa lojinha. Foi necessário dar esse passo para trás para conseguirmos dar mais vários passos para frente. Recomeçamos alguns meses depois na cozinha de casa e a partir daí, nosso negócio começou a dar certo. Divulgamos nas redes sociais, o que tornou nossos doces e bolos tão conhecidos na cidade.

A Brigadeirinha cresceu. Temos mais de 20 funcionários em nossa empresa e um ecossistema composto pela Casa Brig (confeitaria), a Loja Brig (loja online) e pelo Brig Clube (plataforma de cursos online). Além do Carimbinho - que foi um sucesso tão grande que os nossos estoques esgotaram em menos de 15 minutos no site - desenvolvemos a técnica de colorir brigadeiros. Começamos com sete kits e hoje já são mais de 70 kits com temas diferentes. Também criamos outro utensílio para auxiliar na produção: a Colherzinha, própria para porcionar a massa do brigadeiro.

Nas outras frentes do negócio também buscamos sempre inovar, através do desenvolvimento de sabores diferentes a cada época do ano - como brigadeiro de jaca no verão, de milho nas festas juninas, de bacon no dia dos pais e até de panetone no Natal - e trazemos essas novidades para os cursos. Aproximadamente 1 mil alunos passaram pelos nossos cursos presenciais e mais de 8 mil nos cursos online.

Sinto muito orgulho. Orgulho de termos tido a coragem de começar e a resiliência de continuar fazendo dar certo. Orgulho de gerar empregos para a nossa cidade e adoçar a vida de muitas pessoas. Atualmente faturamos em torno de R$ 3 milhões ao ano, considerando todas as frentes da empresa.

As expectativas são organizar cada vez mais nossos processos internos, com o objetivo de aumentar a lucratividade para futura expansão da operação da Casa Brig, implementação de novos produtos na Loja Brig e intensificação da produção de conteúdo nas redes sociais de A Brigadeirinha visando alcançar muito mais alunos pelo Brasil.

A receita é ter paixão pelo que faz. O sucesso é a consequência disso. Como empreendedora, meu sonho é ajudar outras pessoas a alcançarem liberdade financeira e uma vida melhor, mostrando que é possível transformar suas paixões em uma fonte de renda.

Giovanna Guimarães é uma das criadoras de A Brigadeirinha (@abrigadeirinha). Junto com a mãe Patrícia e a irmã Amanda, Giovanna construiu o ‘império’ do brigadeiro na Bahia.

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Cachaça é coisa de mulher

“A cachaça Paramirim foi fundada em 1996, na Chapada Diamantina, na cidade onde moro. Essa região tem altitude elevada e solo fértil, favorável à produção. Começamos com instalações bem rústicas, ainda sem registro, apenas para a venda em galões, mas com o sonho de registrar e engarrafar o produto.

Adeylza Matos, da Cachaçaria Paramirim, chega a produzir 20 mil litros por ano
Adeylza Matos, da Cachaçaria Paramirim, chega a produzir 20 mil litros por ano Crédito: Divulgação

Casei em 2004 e foi quando, eu e meu marido, começamos a nos organizar. Foram 10 anos de muito trabalho e dedicação para conquistar o registro do nosso alambique. A partir desse momento, nossa cachaça vem crescendo e a produção também para atender à demanda, bem como a elaboração de novos produtos para agradar os nossos clientes e apreciadores que aumentam a cada dia.

Hoje, produzimos em média por ano, 20 mil litros sendo que aumentamos também nossa área plantada, o que deve nos levar a marca de 30 mil litros. Nosso maior mercado é Salvador, porém, o crescimento em outros estados nos últimos anos é o que mais nos motivou a aumentar nossa capacidade.

Todos os dias nos levantamos para produzir mais e melhor. Uma dessas inovações é a Cachaça Cinco Almas, um blend pensado por uma cientista e cinco produtoras de cachaça, de quatro estados brasileiros. Resultado de dois anos de dedicação e pesquisa, a cachaça foi selecionada e harmonizada em madeiras de umburana, carvalho, freijó, jaqueira e jequitibá.

São cinco destilarias e mulheres empreendedoras que fazem parte do projeto: Elk Barreto (Sanhaçu/ Pernambuco), Cris Amin (Tiê/Minas gerais), Ilíada Terra (Cana & Lua/ Minas Gerais) e Célia Regina Miranda Della Colletta de Mattos (Octaviano Della Colletta/ São Paulo). O blend é assinado pela master blender Aline Bortoletto.

Temos a pretensão de ainda esse ano ampliar nosso portifólio com adição de novas madeiras brasileiras. A cachaça é única bebida genuinamente brasileira. O maior desafio que ainda enfrentamos é o preconceito, principalmente com mulheres. Enquanto produtora e consumidora vejo muito isso: “você bebe cachaça?” ou “Mas não é um trabalho masculino”? Fora o preconceito ao próprio produto: “eu não bebo cachaça”. Mas o nosso sonho vem se concretizando. A cachaça cresce em qualidade, o investimento intelectual a torna cada vez mais saborosa e rica em aromas, encantando quem degusta”.

Aldeylsa Matos é fundadora da Cachaça Paramirim (@cachaca_paramirim), da cidade de Paramirim, na Chapada Diamantina-BA. Também é sommelier e master blender, apaixonada por cachaça.

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Roupas que acolhem

"Que roupa vai lhe acolher nesse momento? É aquela que te deixa confortável, bonita e não apenas cobre seu corpo. A Preta Brasil começou em 2005 quando eu ainda trabalhava no Polo Industrial de Camaçari como desenhista industrial. Já fazia colares para uso próprio e recebia muitos pedidos de amigas que se encantavam com eles e, naquela época, poucas marcas traziam essa estética valorizando nossas raízes africanas e indígenas.

 Luana Bomfim é criadora da marca baiana Preta Brasil, que já teve participações no Afro Fashion Day
Luana Bomfim é criadora da marca baiana Preta Brasil, que já teve participações no Afro Fashion Day Crédito: Divulgação

Quando decidi realmente que Preta Brasil seria minha renda única, montei o site das peças e fiz um investimento inicial, em torno de R$ 1 mil. Fomos crescendo gradualmente, participando de muitas feiras, exposições e congressos pelo país. Em 2016, a marca passou por uma virada de chave. Eu perdi minha filha aos 8 meses de gestação e essa dor me trouxe muito desespero e também uma necessidade enorme de acolhimento e aceitação dessa perda, e, inclusive, do meu corpo de puerpério não vivido de forma tradicional.

Assim comecei a fazer roupas que acolhessem o meu corpo com as curvas que ele tinha naquele momento. Gosto de trazer um olhar de uma mulher real, com seus desejos, gostos. E assim fui construindo junto com minhas clientes uma relação forte de proximidade, admiração mútua e entregando o que elas desejavam e desejam até hoje: roupas que as acolham.

Hoje geramos 10 postos de trabalho e o nosso faturamento anual fica em torno de R$ 400 mil. A Preta tem duas lojas, uma no Rio Vermelho e outra no Carmo. Todas as peças têm bolsos e o conforto é peça fundamental para a marca. Não adianta ter uma roupa bonita que não te dê segurança e praticidade. Em média, produzimos 5 mil peças por ano.

Foram inúmeras participações no Afro Fashion Day, o que deu uma boa visibilidade ao nosso trabalho. Já vendemos também para fora da Bahia, com clientes no Rio de Janeiro, Amazonas, São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe. Meu sonho hoje é poder aumentar minha capacidade produtiva. Esse é um desejo real. Acolher o corpo de todas as mulheres.

Luana Bomfim é criadora da marca baiana Preta Brasil (@preta.brasil). 

O Agenda Bahia é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Acelen, Tronox e Unipar, apoio institucional da FIEB, Sebrae e apoio da Bracell, Grupo Luiz Mendonça - Bravo Caminhões e Ônibus e AuraBrasil, Plano Brasil Saúde, Salvador Bahia Airport, Salvador Shopping, Suzano, Wilson Sons e parceria da Braskem.