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Millena Marques
Publicado em 8 de agosto de 2024 às 05:45
Quem sai de Salvador tem apenas duas opções razoáveis para chegar em Luís Eduardo Magalhães: encarar a estrada em um percurso que pode durar, em média, 17h – se feito de ônibus – ou pegar um avião para Brasília e depois seguir viagem terrestre por, no mínimo, 8 horas. Isso porque não há um voo que ligue a capital baiana ao oeste do estado, embora haja dois aeroportos na região - ambos de responsabilidade do governo estadual.
A carência de voos para o interior da Bahia é um obstáculo para o desenvolvimento econômico do estado. Os aeroportos são uma porta de entrada de pessoas e mercadorias e, consequentemente, de recursos monetários.
“O aeroporto precisa ser entendido como um mecanismo de desenvolvimento econômico e regional no sentido de que ele concentra e faz aumentar a integração econômica, de pessoas, mercadorias e serviços. Ele funciona como um grande equipamento de atração de negócios”, explica o economista Gustavo Pessoti, mestre em Análise Regional pela Universidade Salvador (Unifacs).
A escassez de linhas aéreas no estado foi, inclusive, tema de debate da apresentação da Bahia Farm Show, maior feira de tecnologia agrícola e negócios do norte e nordeste do Brasil, em abril deste ano.
Os produtores cobraram uma malha aérea “à altura” do oeste baiano. Na ocasião, o prefeito de Luís Eduardo Magalhães, Junior Marabá (PP), afirmou que a logística dificulta a ida de empresários ao município.
“Somos a quinta economia da Bahia, maior produtor de commodities, com a melhor tecnologia agrícola. Isso desperta muita curiosidade, mas a logística para chegar, realmente, atrapalha um pouco”, ressaltou.
A Companhia Voepass Linhas Aéreas, antiga Passaredo, suspendeu os voos entre Salvador e seis municípios do interior da Bahia. Inclusive, para a cidade do oeste baiano Barreiras, que possui um aeroporto com limitações operacionais para aviões de grande porte. Essas dificuldades foram responsáveis por esfriar o plano da companhia aérea Gol de levar voos regulares à região.
Junior Marabá disse que a prefeitura de Luís Eduardo Magalhães tem interesse em participar da administração do aeroporto da cidade e ampliar o terminal. Segundo ele, há tratativas com a Gol para ter voos na localidade.
Em nota, a Secretaria de Infraestrutura do Estado da Bahia (Seinfra), responsável pelos espaços, informou que a requalificação do Aeroporto de Luís Eduardo Magalhães está em fase final. Segundo a pasta, falta chegar o mobiliário para concluir a obra.
Sobre o Aeroporto de Barreiras, foi publicado no Diário Oficial do Estado, no último dia 1º de agosto, um aviso de licitação da obra de um novo terminal de passageiros. O espaço terá capacidade, conforme o governo, de receber até 300 passageiros por hora. Ao todo, serão injetados R$ 25 milhões na obra, de acordo com a gestão estadual, que não informou quando o terminal será entregue.
Sem restrições
O problema da malha aérea estadual não está restrito apenas à região oeste. Embora estejam na rota de voos que partem de Salvador, as cidades de Vitória da Conquista, no sudoeste, Porto Seguro e Ilhéus, no litoral sul, possuem um número reduzido de ofertas. A primeira, com mais vantagens: são seis voos semanais, todos os dias da semana, com exceção das quartas-feiras, das companhias Gol e Azul.
Ilhéus, por sua vez, possui partidas às segundas, quartas e aos sábados, com operação apenas da Gol. Para Porto Seguro, os voos saem às terças e quintas e aos finais de semana, com operações da Gol e Azul.
O secretário de Turismo de Porto Seguro, Guto Jones, lamentou a atual grade de voos que ligam a cidade à capital baiana. “Salvador deveria ser a porta de entrada do turismo internacional, mas devido a essa dificuldade não é. A gente tem a porta de entrada em São Paulo, Minas Gerais, até mesmo Rio de Janeiro. E olha que você tem em Salvador voos diários de Lisboa, seis voos semanais de Madri, voos da Argentina, do Chile, do Uruguai”, disse.
Os voos, considerados insuficientes, não afetam apenas o turismo, mas até mesmo as relações empresariais. De Porto Seguro para Salvador, por exemplo, só há dois voos durante a semana.
Questionada sobre a ampliação da oferta de voos regulares, a Seinfra informou que “depende do interesse das companhias aéreas e da movimentação total de passageiros”.
No ano passado, a Voepass encerrou a linha Salvador x Feira de Santana após quatro meses de operação. De acordo com a empresa, o principal motivo é a reestruturação em sua malha aérea. Essa rota, segundo o prefeito da Princesinha do Sertão, Colbert Martins (MDB), é “inviável”. No entanto, o gestor municipal cobrou do governo estadual um aeroporto que atenda as demandas da cidade.
“Feira não tem um aeroporto, tem um campo de pouso. Esse aeroporto foi construído por João Durval (ex-governador) em 1984. Está igual há 40 anos. É um aeroporto privado. Foi privatizado pelo governo do estado há mais ou menos 10 anos. Portanto, quem tem que resolver a questão é o governo do estado”, afirmou Colbert.
Ainda conforme Colbert, o aeroporto não tem sequer uma torre de controle, o que impede a utilização do equipamento de navegação aérea. “Se estiver chovendo, com neblina ou à noite, o equipamento guia o avião até 200 metros na hora de pousar na pista. Com 200 metros, o piloto precisa visualizar a pista. Se não for isso, ele pode não aterrissar”, explicou o prefeito.
No último sábado, um decreto de desapropriação para permitir o aumento da área do aeroporto de Feira Santana foi publicado no Diário Oficial. Segundo a gestão estadual, a medida permitirá a operação com aeronaves Boeing 737, e colocará o aeroporto na escala de conexões nacionais (voos domésticos).
Responsável por sediar uma das principais romarias do Brasil, Bom Jesus da Lapa opera apenas voos particulares. A ausência de voos comerciais, inclusive, impede a chegada de novos turistas, segundo o secretário de Turismo da cidade, Hamilton Duda.
“Dificulta o desenvolvimento da cidade porque reprime a vinda de mais turistas, inclusive de outros países”, disse. Segundo ele, há um diálogo com o governo do estado para uma possível ampliação, mas “depende muito das companhias aéreas”.
*Com orientação do editor Rodrigo Daniel Silva
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