Do Vaticano ao Carnaval : o Ilê Aiyê é do Curuzu e do mundo

Ilê Aiyê fez uma bela apresentação em Roma, a Cidade Eterna, em 2008

No mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra com uma série de eventos incluindo a bela iniciativa do CORREIO com o Afro Fashion Day marcado para o dia 25, nada mais pertinente que relembrar uma grande apresentação que o Ilê Aiyê fez em Roma. O bloco comemora 50 anos de seu primeiro desfile no Carnaval em 2024. Eu fui convidado pelo presidente do Ilê, o querido Antonio Carlos dos Santos, mais conhecido como Vovô.

Foi minha primeira experiência internacional com O Mais Belo dos Belos. Vovô, que fez o convite, não pôde viajar. Mas se fez representar por sua equipe e pelo time do Ilê formado por belas dançarinas e sua batida forte e pulsante sob o comando de Mestre Mário Pam. E como era de se esperar, a moçada do Curuzu fez bonito.

Na capital italiana, todos ficamos hospedados num hotel em Campo de Fiori e a apresentação do Ilê estava programada para a abertura do evento na Piazza Navona, uma das mais célebres praças de Roma. A sua forma assemelha-se à dos antigos estádios da Roma Antiga. E é nesta mesma praça que fica localizada a Embaixada do Brasil que serviu de base para o pessoal do Ilê se concentrar até iniciar sua apresentação.

Na época, em matéria publicada pelo CORREIO, eu fiz a seguinte descrição: “Com suas belas vestimentas e um som contagiante sob o comando do maestro Mário Pam, o Ilê Aiyê, que viajou para representar a Bahia a convite do músico Arto Lindsay, deu um show que emocionou não somente os brasileiros como os italianos que pareciam extasiados com o que viam. Além do Ilê, se apresentaram também Vanessa da Mata, Davi Moraes e Spok Orquestra de Frevo de Recife.

O maestro Mário Pam também relembrou com muito entusiasmo: “Essa viagem foi muito importante para a gente, foi um grande encontro de artistas com o Ilê Aiyê representando a Bahia com sua música afro. Esse convite chegou em boa hora. Imagine, meninos jovens do Curuzu, bairro da Liberdade, em Roma, passeando naquele lugar maravilhoso, visitando o Vaticano e ainda tocando como artistas. A gente tocou nas ruas de Roma e o povo ficou enlouquecido com aquela percussão forte. Para a gente foi maravilhoso. Acho que a nossa música se enquadra em qualquer ambiente. E esse festival serviu para mostrar que a música afro tem poder”.

Um fato que me chamou muito a atenção foi como a trupe do Ilê não passava batido do Vaticano ao Coliseu. “Aquelas pretas lindas com seus turbantes, suas roupas coloridas, o belo sorriso e todo o dengo baiano encantavam os romanos. Alguns mais atirados “paqueravam” abertamente, jogavam charme. Uma festa. No meio do caminho encontramos um italiano que tinha morado em Salvador no bairro de Itapuã e quando viu o grupo ele não se conteve: “Eu já morei em Salvador e conheço o Ilê. Que saudade eu senti agora”, falava emocionado num português misturado com italiano.

Ao logo desses anos, o Ilê Aiyê manteve sua coerência em valorizar a cultura negra, aumentar a autoestima da negritude baiana, e sempre admirado por artistas como Gilberto Gil (que gravou a bela música Ilê Aiyê do saudoso Paulinho de Camafeu), Caetano Veloso, Daniela Mercury, entre tantos outros. Agora todas as atenções estão voltadas para a Noite da Beleza Negra que será realizada no dia 13 de janeiro de 2024 na Senzala do Barro Preto.

E o Carnaval dos 50 anos também em 2024 quando vai desfilar com o tema Vovô e Popó, com o Axé de Mãe Hilda Jitolu, a Invenção do Bloco Afro - Ah, se não Fosse o Ilê Ayiê. E como já é tradição no sábado de Carnaval tem a subida do bloco Ilê pela ladeira do Curuzu que atrai uma multidão para saudar O Mais Belo dos Belos.

O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com patrocínio da Vult, Bracell e will Bank, apoio do Shopping Barra, Salvador Bahia Airport e Wilson Sons, apoio institucional do Sebrae e Prefeitura Municipal de Salvador e parceria do Clube Melissa.