De ajudante de pedreiro a modelo internacional: a trajetória de Santti, morador de Cajazeiras revelado pelo AFD

Modelo baiano compartilha sua jornada na moda, destacando a importância do Afro Fashion Day em sua carreira

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  • Luiza Gonçalves

Publicado em 24 de outubro de 2024 às 09:00

Confiança e gaiatice que tem nome de Santti
Confiança e gaiatice que tem nome de Santti Crédito: CORREIO/Gabriel Cerqueira

“‘Você tá no Afro, você tá aprovado, aconteceu alguma coisa com algum modelo e te escolhem, no meio de sei lá quantos modelos que tentaram’. Eu não sabia se respondia meu booker, se falava com minha mãe, se chorava ou gritava. Até hoje, quando lembro, me dá muita alegria, porque foi um momento único”, relembra Adilson Santana. Inicialmente reprovado na seletiva de agências e na seletiva de bairros via TikTok, o modelo teve uma terceira chance e integrou o Afro Fashion Day 2020, edição Fashion Filme com o tema Dendê. Uma experiência que até hoje o emociona e que lhe trouxe confiança para se tornar o ousado modelo Santti.

Até os 16 anos, Adilson descreve sua vida em Salvador como comum a um jovem periférico: estudava e trabalhava para ajudar a família, sem muito tempo para arte ou lazer. Ele era ajudante de pedreiro e vendia bolo de pote com sua mãe. A moda cruzou seu caminho quando começou a acompanhar sua irmã mais nova, que gostava de tirar fotos. Um dia, ele decidiu experimentar ficar em frente às câmeras. “Eu postei no Instagram e gostei do que vi. Comecei a receber muitos elogios e me chamaram de modelo.” À medida que postava fotos, Adilson passou a considerar a carreira. Foram meses amadurecendo a ideia até dizer procurar sua agência Way Models.

“Desde que pesquisei moda, conheci o Afro Fashion Day. Quando você busca moda em Salvador, é o que aparece”, revela. Integrar o Afro sempre foi um plano, e ele guarda um carinho grande pelo projeto: “O Afro Fashion Day foi a reafirmação do que eu queria. Me senti mais forte e empoderado para encarar o mundo da moda. Sem o Afro, acho que não estaria aqui, de verdade.”

Após o Afro, Adilson emendou um trabalho no outro e lançou-se ao desafio de integrar o São Paulo Fashion Week 2021. Não foi fácil, especialmente pela questão financeira. Ele intercalava o trabalho de modelo com o de pedreiro, mas com a ajuda de uma vaquinha virtual, conseguiu estrear na passarela mais famosa do Brasil, nos desfiles dos estilistas baianos Meninos Reis e Isaac Silva. A participação na Fashion Week marcou uma mudança definitiva, tanto de CEP, quanto de persona: “Eu já cheguei mudando de nome, virei o Santti, que era um nome que eu já usava nas redes sociais. E aí eu fiquei mais gaiato, mais pra frente, o Santti, que agora é um modelo em São Paulo, que não tem medo de nada. E essa ‘gaiatice’ me fez conquistar muitos clientes”, brinca.

Trabalhos em revistas como GQ e Vogue, campanhas para Riachuelo, Renner e Fila, além de desfiles e editoriais, marcaram sua trajetória. Um dos trabalhos mais especiais foi a capa para a revista L’Officiel, onde aparece com o também baiano Gabriel Pitta. “A gente é capa, dois caras pretos da favela, que lutaram muito para estar aqui e que hoje são referência”, relembra.

Em 2023, com uma base sólida de trabalhos nacionais, Santti realizou sua primeira temporada internacional na Coreia do Sul. “Uma experiência surreal. Aprendi a falar inglês, trabalhei bastante e convivi com pessoas de várias culturas. Queria ter ficado mais, mas tinha trabalho aqui. Voltaria a qualquer momento”, conta.

Ele reconhece que o início da carreira não é fácil, especialmente em São Paulo, onde a concorrência é acirrada. O conselho que dá a quem está começando é claro: não desistir. "Se é isso que você quer, vai ter que se esforçar 200%", afirma. Além disso, recomenda buscar uma agência confiável para evitar golpes. Santti também destaca os desafios de lidar com pessoas do meio e o impacto do ego de algumas figuras da indústria. "Lidar com as pessoas é a parte mais difícil... tem certos que falam de forma que machuca. Se você não tiver a cabeça no lugar, acaba desistindo", compartilha. Apesar disso, hoje ele se sente realizado: “Sou muito feliz com minha profissão. Poder ajudar minha família de uma forma que eu nunca imaginei foi projeto de Deus. Essa é a melhor parte para mim”.

Veja o mini-doc completo sobre Santti: 

Mini docs Afro Fashion Day:

Editor de Mídia e Estratégia Digital: Jorge Gauthier

Estagiária de cultura: Luiza Gonçalves

Equipe de mídias: Eduardo Bastos, Arthur Leal e Gabriel Cerqueira

O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com patrocínio da Avon e Bracell, apoio CAIXA, Shopping Barra, Salvador Bahia Airport e Wilson Sons e apoio institucional do Sebrae