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Priscila Natividade
Publicado em 1 de novembro de 2024 às 17:57
Um pedaço de couro dado por um amigo e uma máquina de costura antiga. Isso foi tudo que o designer Emanuel Lucas tinha nas mãos quando começou a produzir bolsas, carteiras e chaveiros. “Comecei a costurar quando fiz a minha primeira peça. O meu processo criativo parte do material. Aproveito tudo sem gerar resíduos”, conta o criador da marca. E assim nasceu o Ateliê Macraft (@ateliemacraft) que chega a produzir por mês até 80 peças, todas artesanais e com acamamento manual.
“A gente tem uma riqueza cultural que é preciso expor”, afirma Emanuel que tira algo em torno de R$ 12 mil por mês com as vendas na Casa Boqueirão e na Casa do Artesanato, no Porto da Barra. As peças custam a partir de R$ 20 como os chaveiros e vão até R$ 350 na bolsa sacola de couro. Por onde passa, ele vai buscando inspirações: “Outro dia estava passando pela Feira de São Joaquim e vi umas bananas penduradas. Cheguei em casa e resolvi fazer uma fruteira vertical com tiras de couro e contas de madeira, que se tornou um novo produto”.
Emanuel Lucas é um dos 54 expositores que participaram da Feira da Sé durante a edição comemorativa de 10 anos do Afro Fashion Day. Afro empreendedores de moda, gastronomia, acessórios e artesanato fomentaram a economia criativa e tiveram a oportunidade também de dar visibilidade aos seus produtos durante toda a programação do evento, que contou ainda com shows e oficinas até que os modelos brilhassem na passarela mais preta do país.
Com acessórios inspirados nos orixás, a artesã Tainá Lima levou sua marca Omi (@instaomiacessorios) para o Afro Fashion Day. A loja online de Tainá vende algo em torno de 200 peças produzidas a partir de búzios e representações de ferramentas dos orixás, por mês. “Foi um negócio que foi acontecendo. Saía da escola, passava em uma lojinha e quando me dei conta iam surgindo colares, brincos, anéis. As pessoas foram encomendando e se interessando cada vez mais”, afirma.
‘Omi’ significa ‘água’. Por isso, Tainá traz muitas referências de Oxum e Iemanjá em suas criações. “São acessórios que a gente não encontra em todo lugar e assim vou me reinventando para expandir e ocupar esses espaços. Empreender traz um desafio atrás do outro, mas as vendas na nossa loja virtual têm aumentado bastante”.
Aos pés do caboclo, uma arara colorida e bem estampada era mais uma que chamava atenção. Foi um historiador que decidiu transformar música e diversidade em peças de roupa com conceito e significado. “Sou historiador, pesquisador e músico e a ideia da marca surgiu enquanto dava uma aula de história e música. Queria algo que criasse uma forte conexão”, conta o criador da marca Agô (@ago.raiz), Carlos Átila.
A Agô já produziu figurinos para o Ifá, Gabi Guedes e Ana Paula Albuquerque, além de participar de feiras e lojas colaborativas em Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. “A gente trabalha com linho, viscose, roupas femininas, masculinas e sem gênero. O interesse do negócio é poder estar sempre criando, gerando emprego e possibilidades de representação da cultura afro-brasileira. Vestir pessoas que vão circular por todos os espaços levando esse sinal, esse signo”, ressalta.
Diretora executiva do Instituto ACM, Claudia Vaz destaca que a cada nova edição do Afro Fashion Day, o número de empreendedores negros que querem expor na feira só aumenta. “Estamos participando desde a primeira edição do Afro Fashion Day e todo evento esse número de empreendedores dobra. Quando fazemos a curadoria pensando no AFD, consideramos negócios que tragam a identidade baiana, afro e que sejam sustentáveis”.
Claudia Vaz
Diretora executiva do Instituto ACMO movimento só cresce e se fortalece, como destaca Claudia Vaz. “Hoje estava passando aqui pela feira e vendo uma em empreendedora muito bonita com um turbante na cabeça e só pensei como isso tudo aqui é importante para fortalecer a cultura, o conteúdo em termos de cores, formas e costumes, mais tudo que a cultura afro tem para mostrar”.
Junto com os irmãos Aldir e Mirinha Leal, a artesã Milla Leal (@millafleal) produz esculturas de orixás em biscuit. Já Aldir, se dedica a produção de cachimbos a partir de reaproveitamento de madeira, enquanto Mirinha faz peças baianas e a partir de dobraduras de papel. “É um negócio de família e cada um com sua tipologia. Juntos, nós valorizamos a nossa religião, o candomblé, ao mesmo tempo que temos a oportunidade de mostrar o nosso trabalho autoral”, diz Milla Leal.
As esculturas mais vendidas são as de Exu e Obaluaê. “Sempre pedi aos orixás que me dessem um produto que me possibilitasse uma renda e representasse minha identidade. Obaluê porque ele é o dono das curas. Vendo muito Exu também, afinal, Exu é caminho”.
Durante todo o dia, a programação dos 10 anos de Afro Fashion Day também contou com diversas oficinas tanto no turno da manhã, quanto pela tarde. Quem passou pelo Campo Grande pode participar das aulas de turbante infantil, pintura afro, turbante adulto, origami, tranças afro e colagem de croquis.
Trancista há mais de 20 anos, Maria Isabel dos Santos Neto foi uma das facilitadoras da oficina de trança afro. No momento, o estilo mais pedido é a boxer braids, mais conhecida como trança boxeadora. “Trançar vem de uma ancestralidade. Depois eu me capacitei e desenvolvi aquilo que já estava dentro de mim. E hoje sou muito feliz empoderando outras mulheres com as tranças, tornando-as ainda mais lindas”.
Já a artesã Mirinha Leal deu aula de origamis, só que com dobraduras inspiradas nos orixás. Até mesmo o papel usado buscou referências em tecidos africanos. “Fizemos uma africana linda, pensando em trazer mesmo o tema do Afro Fashion Day. É uma experiência única está passando esse conhecimento, misturando duas culturas”.
O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com patrocínio da Avon e Bracell, apoio CAIXA, Shopping Barra, Salvador Bahia Airport e Wilson Sons e apoio institucional do Sebrae e Prefeitura Municipal de Salvador.