Fogo Simbólico chega a Pirajá, após passar por cidades do recôncavo

Cerimônia aconteceu na tarde desta segunda-feira (1º)

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  • Raquel Brito

Publicado em 1 de julho de 2024 às 21:45

Quem acendeu a pira este ano foi Júlia Ramos, ginasta de 15 anos
Quem acendeu a pira este ano foi Júlia Ramos, ginasta de 15 anos Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

O Largo do Pirajá se transformou num mar de bandeiras da Bahia, do Brasil e de Salvador na tarde desta segunda-feira (1º). O motivo foi a tradição que há quase dois séculos leva moradores à praça: a chegada do Fogo Simbólico, que representa a união para a conquista da libertação do estado.

Foi por Pirajá que aqueles que lutaram pela independência chegaram a Salvador. Mais de 200 anos depois, o percurso é reproduzido pelas tochas que queimam em alusão à luta. Saindo de Cachoeira e de Mata de São João, o Fogo Simbólico é revezado por muitas mãos rumo à capital. Atletas, soldados e personalidades baianas ajudaram a tocha a chegar ao destino final. 

Como manda a tradição, após passar por dez cidades, o fogo chegou a Salvador para acender a pira localizada no panteão do bairro, onde estão os restos mortais do General Pierre Labatut, que lutou na Batalha de Pirajá. Na ocasião, foram hasteadas as bandeiras de Salvador, da Bahia e do Brasil.

Pelo segundo ano, duas rotas integraram o percurso do Fogo Simbólico. Uma tocha percorreu cidades do recôncavo oeste e outra do recôncavo norte, até chegarem em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), no início da tarde desta segunda-feira. Lá, uma única tocha foi acesa e seguiu em direção à capital.

Uma multidão se aglomerou para registrar o momento da chegada. Quem ficou responsável por acender a pira foi a estudante e ginasta Júlia Ramos, de 15 anos. A atleta, que está na ginástica rítmica há sete anos, já participou do ritual em 2023, mas levou a tocha até Pirajá pela primeira vez este ano.

“Foi um momento muito especial, porque é um reconhecimento da minha trajetória no esporte”, disse a jovem, que já integrou a Seleção Brasileira de Conjunto de Ginástica Rítmica. “E é um marco muito grande para Simões Filho, minha cidade, que também fez parte da Independência da Bahia. Teve aquele frio na barriga, mas foi lindo”.

Estiveram presentes no local a subprefeita de Valéria, Kelly Morais, representando o prefeito Bruno Reis; o secretário de Cultura e Turismo, Pedro Tourinho; o presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Fernando Guerreiro; o prefeito de Simões Filho, Diógenes Tolentino Oliveira; e o Tenente Coronel Samuel, do Exército Brasileiro.

Para Fernando Guerreiro, a rota das tochas é como um redesenho do percurso feito pelo exército libertador há dois séculos. “Com esse trajeto, nós lançamos luz sobre o percurso e a importância dessas cidades para a Independência. É simbólico e é importante que essa participação não fique só no 2 de Julho, mas que entre nas disciplinas escolares e que a nova geração entenda as dimensões dessa data”, disse.

“É um momento de encontro de forças vitais, essa união dos municípios para expulsar os portugueses. Foi um movimento coletivo e popular, representativo de todas as dimensões da população baiana da época”, acrescentou o secretário Pedro Tourinho.

Segundo Kelly Morais, esta é uma solenidade elementar para os moradores da comunidade. “Tem uma representatividade muito grande para nós, baianos, porque é exatamente em 1823 que a independência do Brasil se concretiza na Bahia, e é a partir deste marco que a gente tem como referência todas as lutas que grandes pessoas travaram pelo nosso estado”.

Do lado de fora do panteão, moradores de todas as idades balançavam bandeirinhas da Bahia, do Brasil e de Salvador. Uma delas era Ana Cláudia Almeida, 42, que já tem a tradição de levar a família para assistir a chegada da tocha em todo 1º de julho. Este ano, uma componente viu os olhos se abrilhantarem frente às chamas pela primeira vez: a pequena Ana Taila, de dois anos.

“É importante trazer as crianças e dar continuidade a esse costume. É muito gratificante ver um evento como esse aqui no bairro. A gente vem andando e celebra a história”, contou Ana Cláudia.

Após o acendimento da pira, a animação dos presentes ficou por conta do Cortejo Afro. O grupo, que nasceu no bairro, demonstrou seu orgulho em fazer parte da celebração. “O Cortejo Afro é de Pirajá e as nossas canções são de liberdade. São músicas que, com certeza, vão ajudar a nossa juventude a alcançar um caminho melhor. Esse é o movimento de resistência e de independência”, celebraram os vocalistas.

Um diferencial da cerimônia deste ano foram as novas cores que cercam o largo como um lembrete da história baiana. São os painéis em homenagem ao 2 de Julho, confeccionados nas paredes ao redor da praça. As obras são fruto de uma edição especial do projeto Movimento Urbano de Arte Livre (Mural) em parceria com a Fundação Gregório de Mattos e a Prefeitura Municipal de Salvador. Cinco ilustrações de figuras como Maria Quitéria e Joana Angélica agora chamam atenção de quem passa por lá.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.