Pela segunda vez consecutiva indígenas participam do Te Deum do 2 de Julho

Povos originários tiveram papel fundamental no processo de Independência

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 1 de julho de 2024 às 15:22

Cerimônia foi realizada na Catedral Basílica Crédito: Bruno Concha/Secom PMS

Quando era menino, o caboclo mestre da Associação Cultural os Guaranis de Itaparica, Hildo Peixoto, ouvia falar sobre a importância dos indígenas nas lutas pela Independência do Brasil na Bahia. Por isso, nesta segunda-feira (1°), ele e mais quatro descendentes indígenas embarcaram em uma lancha e atravessaram a Baía de Todos-os-Santos para assistir a uma cerimônia católica em homenagem à data, em Salvador. Essa foi a segunda vez consecutiva indígenas participam do Te Deum (A Ti, Deus!).

"É muito importante o grupo participar dos festejos do 2 de Julho e o povo apreciar a nossa cultura. Os caboclos são a cultura da Bahia e do Brasil, porque quem habitava inicialmente a ilha de Itaparica eram os indígenas. Nossos antepassados lutaram pela Independência e hoje ainda temos muitas lutas para travar", afirmou o caboclo mestre.

Caboclo mestre Hildo Peixoto Crédito: Bruno Concha/Secom PMS

Os cinco homens posaram para fotos na frente da Catedral Basílica, no Terreiro de Jesus, e sentaram juntos nos últimos bancos do templo, mas foram convidados a ocupar as primeiras fileiras. Caracterizado como os ancestrais, o grupo chamou a atenção de baianos e turistas. A cerimônia que eles assistiram se chama Te Deum, uma homenagem aos heróis da Independência. Quem explica é o arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, cardeal Dom Sergio da Rocha.

"É uma ocasião para assumirmos com renovada responsabilidade o nosso papel na construção de uma sociedade democrática. Eles lutaram pela Independência e queremos continuar a cultivar os valores da liberdade, do respeito, da convivência fraterna e pacífica. Esperamos que essa ocasião nos ajude a crescer no louvor a Deus, mas também como cidadãos conscientes e responsáveis", afirmou.

O arcebispo presidiu a cerimônia, afirmou que é preciso reconhecer a importância das lutas e dos heróis do 2 de Julho e valorizar essa memória. D. Sergio disse que as ações foram realizadas por pessoas motivadas pela fé e afirmou que é importante que a fé seja vivida não apenas dentro da igreja, mas no dia a dia. A cerimônia do Te Deum também foi realizada em Cachoeira, no Recôncavo.

Em Salvador, a celebração teve participação do Coral da Basílica do Bonfim, regido pelo maestro Francisco Carlos Rufino. O presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Joaci Góis, também assistiu à cerimônia na Catedral Basílica e destacou o papel da fé no processo de libertação do povo baiano.

"A religião teve uma importância muito grande nas lutas pela Independência do Brasil na Bahia, portanto, nada mais natural do que a Igreja Católica tenha nos dias de hoje, véspera da celebração, uma cerimônia como essa no mais belo templo católico em todo o continente americano", explicou.

Festa

Os preparativos para o desfile estão a todo vapor. A vice-prefeita Ana Paula Matos (PDT) acompanhou a cerimônia na igreja, confirmou presença no cortejo e comentou sobre as expectativas.

"Que essa independência seja cada dia mais forte. A independência econômica, das dificuldades sociais, da desigualdade, seja uma construção da equidade e que aconteça pela educação, pela saúde, pelas políticas públicas e por uma cidade pulsante de desenvolvimento econômico e social", afirmou.

Vice-prefeita Ana Paula e arcebispo D. Sergio da Rocha Crédito: Adam Vidal/ Ascom

O coordenador geral do 2 de Julho, George Vladimir, explicou que a celebração do Te Deum completou 200 anos, disse que a festa sempre foi realizada na Catedral Basílica e que essa foi a segunda vez que os povos indígenas foram convidados para participar do evento.

"O Te Deum é uma cerimônia muito importante porque é a consagração religiosa da conquista das lutas do 2 de Julho. É como se fosse um momento de benção, de agradecimento ao sagrado, ao divino, pela conquista da luta, por isso, a gente faz questão de incluir no Te Deum a presença dos povos indígenas, além de manter a tradição dos ritos religiosos", explicou.