Farra e fanfarra: 2 de Julho teve mistura de 'Carnaval' com festa de largo

No Santo Antônio Além do Carmo e no Pelourinho, samba e cerveja é o que predomina

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 2 de julho de 2024 às 16:09

Fanfarras ajudam a desenhar o clima de festa
Fanfarras ajudam a desenhar o clima de festa Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Teve “We Are Carnaval” tocado por fanfarras, coro de “Faraó” enquanto Margareth passava, empurra-empurra, fantasias coloridas e trajes dos Filhos de Gandhy. Tiveram fileiras e mais fileiras de banheiros químicos e esquema especial da Polícia Militar, como acontece no Carnaval. Mas era 2 de Julho. Quem chegou no meio do circuito entre a Lapinha e o Santo Antônio Além do Carmo achou que tinha sido transportado para o mês de fevereiro.

As ruas estreitas e sem opções de desvios ajudaram a proporcionar o calor humano típico da folia momesca. Mas a multidão ia atrás de carros comuns, ao invés de trios elétricos. As figuras de destaque que desfilavam eram políticos e, não, cantores. Margareth Menezes estava cumprindo o papel de ministra da Cultura.

Depois da passagem dos caboclos, que acontece logo cedo, vieram atrás aqueles que queriam acompanhar os políticos ou, simplesmente, curtir a festa. Por volta das 10h30, os copos e as latinhas de cerveja começaram a aparecer. Já era possível ouvir hits de Ivete Sangalo e Léo Santana saídos de caixas de som. Parecia que, depois que o prefeito, o governador e o presidente passaram, a farra tinha sido liberada.

Fantasias também tinham vez n
Fantasias também tinham vez n Crédito: Marina Silva/CORREIO

Os hits nem tiveram muito tempo de fama e já foram substituídos por um samba na Travessa José Bahia, que liga o Barbalho à Rua Direita de Santo Antônio. Era o clima de festa de largo, que se estende até o Pelourinho, se aproximando. Maurício Santos, de 40 anos, integrava o grupo Makau Show, responsável por animar quem passava. “Começamos a tocar 10 horas e vamos até quando o povo desanimar”, contou o músico.

O samba também agitava a hora do almoço de quem parou para bater um prato de dobradinha. Entre as comidas mais anunciadas com placas improvisadas nas portas de casa, ainda tinha feijoada e baião de dois. Afinal, saco vazio não para em pé e é preciso ter energia para festejar até de noite.

Na Cruz do Pascoal, com mais espaço, já dava para dançar e observar os grupos de amigos se formando no local já tradicionalmente estabelecido como ponto de encontro. Foi o caso da turma de Cláudio César Silva, de 55 anos, mais conhecido como Boca. Ele contou que chegou às 7h na Lapinha e já estava na hora de começar a beber.

Clima de festa de Largo começa no Santo Antônio Além do Carmo
Clima de festa de Largo começa no Santo Antônio Além do Carmo Crédito: Marina Silva/CORREIO

O amigo Mário Augusto Santos, de 60 anos, preferiu pular a etapa da confusão e ir direto para o Carmo. “Ainda tem gente para chegar, vamos fazendo uma peregrinação até o Pelourinho. Vai juntando gente e nós vamos abastecendo o copo”, disse. O grupo cumpre o mesmo ritual de 2 de Julho todos os anos, desde pequenos. “Nossos pais nos traziam”, lembrou Mário Augusto.

É desse perfil de cliente que Joílson Silva, de 57 anos, tira uma grana extra vendendo cerveja no isopor. A demanda é tão grande que a equipe do CORREIO quase não conseguiu uma pausa para entrevista. “Cheguei, junto com um colega, às 22h de segunda para guardar o ponto de vendas. Só vou embora quando o estoque acabar”, disse.

Mas para aproveitar a festa não precisa beber e nem percorrer o circuito. Dona Jane Lima, de 75 anos, acompanhava em pé, na porta da casinha verde estreita, apoiada em uma bengala na mão direita. Ela passou há pouco tempo por uma cirurgia na perna, mas o sorriso no rosto chamava a atenção de quem passava.

“Antes mesmo de morar aqui eu já vinha para o 2 de Julho, adoro essa bagunça boa. O barulho não incomoda de jeito nenhum, eu adoro música. A perna não está boa, mas danço do meu jeitinho”, garantiu ela.

Seguindo o trajeto, mais à frente, uma festa à parte acontecia no alto da Escadaria da Igreja do Passo. Era outra roda de samba. Laís Reis, de 26 anos, curtia com as amigas pela primeira vez o 2 de Julho. Todas estavam devidamente equipadas com um copinho de “Gabriela”, uma das bebidas vendidas no Cravinho, que fica no Terreiro de Jesus.

Feijoada foi destaque dos cardápios ofertados pelo caminho
Feijoada foi destaque dos cardápios ofertados pelo caminho Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

“Eu me surpreendi. Achei que ia ter só o cortejo dos caboclos e os políticos, não sabia que tinha esse clima de festa, de música. Estou adorando”, contou. A amiga Natália Rocha, de 27 anos, já veterana na data, guiou o grupo. “Chegamos na Praça Thomé de Souza às 11h para ver os caboclos e agora viemos para cá aproveitar, sem hora para ir embora”, completou Natália.

Chegando, finalmente, ao Pelourinho, eram tantas rodas de samba a cada esquina que ficou difícil contar. A essência da festa de largo se completava com as diversas opções de bebidas e comidas. Além de cerveja, tinham drinks, batidas e ofertas de procedência duvidosa que não prometiam divulgação de ingredientes, somente animação.

Para comer, agregavam ao cardápio também salgados, bolinhos, sorvete e acarajé. O restaurante Casa da Gamboa, na Rua João Castro Rabelo, surfou na onda do movimento de pessoas para aquecer as vendas de feijoada. A garçonete Marília Brito, de 38 anos, conta que a operação para preparar comida para tanta gente começa no dia anterior. O restaurante abriu 10h, uma hora mais cedo do que o normal. “O movimento é muito melhor do que um final de semana ou feriado comuns, a gente tem que aproveitar”, disse Marília.

Com a barriga cheia, o copo na mão e o samba no pé, todos os ingredientes para uma boa festa estão reunidos. E a curtição vai até as pernas cansarem porque, depois, só em fevereiro. Ops! Só no 2 de Julho de 2025.