Ato simbólico marca pré-abertura da programação do 2 de Julho em Salvador

Tochas que seguirão rotas entre Salvador e o recôncavo baiano foram entregues a representantes de Cachoeira e Mata do São João, nesta quinta-feira (27)

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  • Raquel Brito

Publicado em 27 de junho de 2024 às 20:47

Ato aconteceu no Largo da Lapinha
Ato aconteceu no Largo da Lapinha Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

Um cenário de reparação histórica. Para os representantes das cidades do Recôncavo baiano, essas são as palavras que descrevem a entrega das tochas que percorrerão a região antes de voltar a Salvador, em 2 de julho, dia da Independência do Brasil na Bahia. Gestores de Cachoeira e Mata de São João receberam os objetos em um ato simbólico promovido pela Prefeitura de Salvador, através da Fundação Gregório de Mattos (FGM), na tarde desta quinta-feira (27).

O momento marcou a pré-abertura da programação do 2 de Julho. Em frente ao Memorial Pavilhão 2 de Julho, no Largo da Lapinha, as tochas foram entregues a representantes do Recôncavo oeste (Cachoeira) e recôncavo norte (Mata de São João e Dias D'Ávila), as duas rotas por onde passam os fogos simbólicos até chegarem em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Lá, uma única tocha é acesa e segue em direção à capital.

Para o presidente da FGM, Fernando Guerreiro, o momento marca um ato de justiça. “Nós estamos trazendo o passado para o presente. É um momento simbólico, mas com muita importância, porque quanto mais mexemos com o 2 de Julho, mais descobrimos perspectivas e características. A data é sempre um manancial interminável de histórias, e nós temos que trazer as histórias reais”, disse.

As tochas foram confeccionadas pelo artista plástico Ray Vianna, responsável também pela decoração do trajeto do Desfile Cívico. A intenção foi construí-las para remeter ao crescimento e à grandeza do fogo.

“Por isso, as tochas têm esse formato cônico, com anéis que vão crescendo. E pensei nelas com a aparência envelhecida, a partir de um cabo de jacarandá e um metal envelhecido, para resgatar esse aspecto de antiguidade”, explicou. Foram feitas quatro unidades, para satisfazer o revezamento das tochas durante os dois circuitos.

A resistência enfatizada com orgulho pelos prefeitos se dá pelo papel do Recôncavo no processo de independência, com vilas revolucionárias na região. Prova disso é o governo paralelo formado em Cachoeira pelas pessoas que fugiram de Salvador com o crescimento do conflito com os portugueses. Outra muito simbólica são as Caretas do Mingau de Saubara, mulheres que durante a noite se disfarçavam com panos brancos, assombrando os soldados portugueses, e levavam comida, armas e outros recursos que os maridos e filhos que lutavam precisassem.

Eliana Gonzaga, prefeita de Cachoeira, tem orgulho do que se lê no letreiro que recebe quem visita a cidade: “Cachoeira Heroica e Monumento Nacional”. Segundo ela, a tocha é um símbolo do protagonismo cachoeirano no período de lutas.

“Nossa cidade está nos anais da história do processo de independência, porque lá se iniciou todo o movimento. Essa é uma valorização histórica que me dá uma felicidade imensurável, patriotismo mesmo”, celebrou a prefeita, que compareceu ao ato com o secretário de Cultura e Turismo da cidade, Marcelo Souza.

Como forma de reconhecer a importância de Cachoeira na briga pela independência, a cidade do Recôncavo se torna capital da Bahia por um dia em todo 25 de junho. O ato tem mais de duas décadas e foi oficializado em 2007, quando virou lei.

Isso porque, durante o período de luta pela independência do Brasil, Cachoeira foi um dos focos de resistência contra as tropas portuguesas. Os residentes defendiam um governo composto por brasileiros, e a cidade foi palco do levante que marcou um dos primeiros passos para a consolidação da independência do Brasil, que seria oficialmente reconhecida em sete de setembro de 1822.

No motim, que aconteceu no dia 25 de junho daquele ano, os moradores de Cachoeira se rebelaram contra as forças lusitanas, em um ato que ficou conhecido como “As Lutas de Independência da Bahia”.

A segunda rota, do norte, só passou a existir no ano passado, depois de reivindicações do historiador camaçariense Diego Copque. No livro "A Presença do Recôncavo Norte da Bahia na consolidação da Independência do Brasil", ele evidenciou a importância dessa região, formada pelos municípios de Mata de São João, Camaçari, Lauro de Freitas e Dias D’Ávila, para a luta pela independência baiana.

“É uma reparação histórica porque envolve e inclui os munícipes dessas cidades, antigas vilas e povoados da província da Bahia que lutaram no processo de emancipação política do Brasil. Ladislau dos Santos Titara, autor do hino ao 2 de Julho, era de Mata de São João. Quando falamos do caboclo, esquecemos de perguntar sobre sua identidade, mas ele era capitão-mor dos indígenas de Vila de Abrantes [distrito de Camaçari]”, contou.

Agostinho Batista dos Santos Neto, mais conhecido como Bira, prefeito de Mata de São João, descreve a inclusão da região na rota como um avanço. “A gente fica muito feliz. É o segundo ano que participamos desse percurso. É importantíssimo dar continuidade a essa rota e nós vamos envolver muitas pessoas da cultura do município com isso”, disse.

Este ano, a Pira do Fogo Simbólico será acesa por Ira Vilaronga, primeira triatleta com deficiência visual da Bahia e primeira mulher cega a acender a tocha. O momento é um dos mais aguardados da Festa da Independência da Bahia e será realizado no dia 2 de julho, no Largo do Campo Grande, às 16h, logo após a chegada dos caboclos.

Confira as rotas completas das tochas:

Rota oeste:

- Salvador: sábado (29), 12h

- Cachoeira: domingo (30), 7h30

- Saubara: domingo (30), 13h

- Santo Amaro da Purificação: domingo (30), 16h

- São Francisco do Conde: segunda-feira (1º), 7h

- Candeias: segunda-feira (1º), 9h

- Simões Filho: segunda-feira (1º), 13h

- Bairro de Pirajá, em Salvador: segunda-feira (1º), 16h - Acendimento da Pira

- Campo Grande, em Salvador: terça-feira (2), 16h - Acendimento da Pira

Rota norte:

- Salvador: sábado (29), 12h

- Mata de São João: domingo (30), 7h30

- Dias D’Ávila: domingo (30), 11h

- Camaçari: domingo (30), 14h15

- Lauro de Freitas: segunda-feira (1º), 8h

- Simões Filho: segunda-feira (1º), 13h

- Bairro de Pirajá, em Salvador: segunda-feira (1º), 16h - Acendimento da Pira

- Campo Grande, em Salvador: terça-feira (2), 16h - Acendimento da Pira

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro