Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Gabriel Galo
Publicado em 19 de março de 2018 às 00:37
- Atualizado há 2 anos
No último sábado, foi iniciada a fase semifinal do Campeonato Baiano. A lógica imaginada quando do início da competição foi mantida, com Bahia e Vitória liderando a primeira fase. O tricolor da capital a enfrentar o Cancão de Fogo de Juazeiro, hoje a terceira força do estado, garantido que está na Série C. Ao rubro-negro colega soteropolitano, espantar seus medos contra o Bahia de Feira.
A bola rolaria, mas não rolou quando Bahia e Juazeirense se perfilaram para inaugurar o mata-mata. No terreno com obstáculos do Adauto Moraes, a bola, no máximo, quicou. E quicou, rondou, bateu. Foi atirada, contrariada, maltratada. Uma surra, coitada. Tivesse olho, estaria roxo. A redonda não merecia tanto destrato.
Quando o xoxo 0x0 se eternizou no placar, os jogadores da Juazeirense se atiraram no gramado (ou pasto?), exaustos. Sabiam ter perdido oportunidade de ouro, aquela em que, conhecendo os atalhos da pista de rali montada nas medidas oficiais do futebol, largam na frente para segurar a bronca fora de casa. Pressionaram, apertaram, mas a bola, teimosa com tanto descarinho, fugia, escafedia-se, escondia-se onde as caneladas pudessem ser evitadas. Não foi aninhar-se do quentinho dos fundos da rede, porque, orgulhosa, sabia não poder premiar a desonra de uma peleja que em nada se assemelha ao ludopédio.
Cheia de hematomas, depois do apito final, a bola chorou copiosamente perguntando-se por quê. O que fizera afinal, para merecer tanto desamor?
No domingo, foi a vez de Vitória e seu algoz de Feira travarem seu duelo particular. Desta feita, não teve gol do meio-campo, nem zebra histórica. O catado rubro-negro, armado com o que sobrou de atletas com contrato, lançou-se trôpego. Ainda assim, reflexo da disparidade de investimentos entre favorito e anfitrião, o parcialmente lado B de um mostrava-se mais forte que o lado A do outro.
Não foi surpresa quando Belusso balançou as redes nas portas do Sertão. Na virada da segunda etapa, o pênalti parecia, por antecipação, deixar o jogo da volta apenas para cumprir tabela. Aí é que o sobrenatural assumiu. Neilton, voando neste começo de temporada, incorporou a aparentemente eterna dificuldade do Vitória de converter pênaltis, e consagrou Jair, arqueiro do Bahia de Feira. Para no fim do jogo, dar o que tinha que dar.
Nesta vida, há algumas certezas: a morte, impostos, e que o Vitória sofrerá um gol. O contestado Walisson Maia, sabedor da verdade inconsciente, com o auxílio luxuoso do goleiro, empurrou contra sua própria meta, fazendo valer o senso comum
Os empates não são necessariamente maus resultados. A vantagem pela melhor campanha permite outro resultado em igualdade em casa. A intranquilidade aparece pela inconsistência de cada equipe. O Bahia fia-se nas desculpas de Guto Ferreira: o gramado é apenas seu nêmesis da vez. O Vitória, nos desfalques. No campeonato, tem a briga judicial. Asteriscos a dominar os argumentos nos dias seguintes, quando o “se” ganha força e status de fato, já criando a resenha e debates acalorados, quando tudo parece ser relevante, menos o que importa. E a bola sofre.
Gabriel Galo é escritor