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Polícia pede prisão de estudante que atirou em colega após briga em colégio

Alunos relatam que bandidos armados fazem arrastões durante as aulas e roubam alunos também na saída

  • D
  • Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2018 às 16:42

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Divulgação

O estudante Rafael Santos Gabriel, 19 anos, foi identificado como autor do tiro que feriu o também aluno Felipe Santos de Jesus, 20. As investigações revelaram que Rafael e outro aluno envolveram-se numa confusão na fila da merenda, na noite de terça-feira (3), no Colégio Estadual Pedro Calmon, no bairro de Armação. Rafael então saiu para buscar uma arma no interior de um veículo estacionado do lado de fora e atirou - acabou acertando Felipe que chegava na escola e não tinha envolvimento na briga dentro da escola. 

A Secretaria da Educação do Estado da Bahia confirmou que Rafael e Felipe estão matriculados no turno noturno do colégio estadual. A delegada Rogéria Araújo, titular da 9ª Delegacia (Boca do Rio) solicitou nesta quarta-feira (4) a prisão preventiva de Rafael à Justiça. Rafael, que é morador do bairro da Caixa D’água, já responde a um processo por tráfico de drogas na Terceira Vara de Tóxicos de Salvador. Ele está sendo procurado pela polícia.

A vítima, baleada na barriga, foi socorrida para o Hospital Geral Roberto Santos, onde permanece internado. A violência na região do colégio não foi um caso isolado. Alunos relataram ao CORREIO que frequentemente vem acontecendo outros casos de violência, como assaltos e arrastões dentro e fora da unidade de ensino. 

Na manhã desta quarta-feira (4), alunos e amigos de Felipe protestaram com faixa e cartazes pedindo mais segurança na escola. Felipe. Segundo os próprios colegas, ele passou por uma cirurgia para a retirada da bala no abdômen e não corre risco de morte. 

O colégio está localizado na Rua General Bráulio Guimarães - a frente da escola é repleta de edifícios e no fundo há um matagal. “A gente já cansou de chegar pra aula e correr em seguida porque alguém pulou o muro e começou fazer um arrastão nas salas de aula”, declarou Janaína Santos, 21 anos, aluna do curso profissionalizante de fotografia. 

O aluno de terceiro ano, Marcos Vinícius de Jesus, 18, disse que já presenciou homens entrando pelo portão da frente para assaltar dentro escola. “Não há controle de quem entra e de quem sai. Não tem porteiro constantemente. Outro dia, chegou aqui dois homens sem a farda e começaram a tomar dos alunos os celulares, dinheiro. Eles estavam armados e fizeram a limpa”, contou o rapaz. 

O colégio tem câmeras, mas de nada adianta, segundo os manifestantes. “Os bandidos sabem que as sete câmeras estão quebradas. Eles chegaram, fazem até pose para as lentes, zombando da situação”, declarou Maílson Almeida, 20, também estudante do terceiro ano. Apesar da declaração do estuante, a Secretaria nega que os equipamentos estejam quebrados. Através da assessoria de comunicação a secretaria informou, inclusive, que as imagens foram guardadas e enviadas para a polícia. 

“Não faz muito tempo que numa situação dessa, um colega nosso levou um tapa no rosto por se recusar a entregar o celular”, relatou Ana Maria da Silva, 18, que cursa o primeiro ano.  Foto: Bruno Wendel/CORREIO Portões Fora dos portões, a situação está longe de ser diferente.  “Bastou a gente colocar os pés fora para ser abordado pelos ladrões. Chegaram na maioria das vezes de motos e roubou tudo, depenam mesmo”, disse Patrícia Teixeira, 20, aluna do terceiro ano.

A rua é toda escura, ainda segundo o relato dos estudantes, o que favorece a ações dos ladrões. “As lâmpadas dos postes estão queimadas ou quebradas e isso só favorece os bandidos. Nós somos as maiores vítimas porque temos que andar até o ponto perto do Centro de Convenções. Nisso, as pessoas são abordadas por motoqueiros”, disse Ana Borges Braga, 18. Ela cursa o segundo ano. 

Os assaltos se estendem aos moradores, que são abordados no momento que vão entrar nos prédios. "A gente cansa de ver motoqueiro tomando carro por aqui. Acontece quando o morador espera o porteiro abrir o portão, infelizmente. O que é lamentável também é que é raridade a gente ver uma viatura passando aqui. Aparece sempre depois que acontece algo, mas depois volta tudo como era antes, sem segurança", contou o porteiro de um dos prédios.   

Merenda A confusão de terça-feira, que resultou no estudante baleado Felipe Santos de Jesus, 21, começou na fila da merenda, dentro dos corredores do colégio. Segundos os colegas de Felipe, o autor do disparo, um rapaz que faz aula profissionalizante no colégio de vigilância, não gostou do fato de André Luís dos Santos Jesus, 19, outro aluno, voltar à fila para pegar merenda pela segunda vez.

“Ele (autor do tiro) bateu com força no ombro de André mais de uma vez. André chegou a dizer: ‘Calma, calma’. Mas o cara continuou e deu um soco em André, que revidou e a briga de fato começou”, contou Matheus Gleison Silva do Carmo, 19, um dos alunos que presenciou a situação. 

Wesley da Silva, 18, disse que Felipe e o outro rapaz trocavam socos mais de uma vez. “A briga aconteceu em dois momentos. O primeiro na fila da merenda, depois eles correram e voltaram a brigar no pátio do colégio, que fica ao lado do estacionamento. Por fim, na frente do colégio”, contou o estudante. 

Baleado Felipe, que durante o dia trabalha como padeiro no bairro da Boca do Rio, onde mora, chegava para a aula, exatamente quando a briga acontecia na porta da escola. “Felipe não tinha nada a ver com a confusão. O cara (autor do disparo) correu para o carro dele e pegou uma arma e voltou atirando”, contou o também estudante Demilson Bispo da Silva, 18. 

Segundo as testemunhas, o atirador efetuou três disparos contra uma multidão, um deles atingiu Felipe, que foi socorrido pelos próprios alunos. “Pedimos aos professores e a direção para socorrê-lo, mas ninguém quis. Preferiram ficar trancados nas salas a socorrerem o aluno”, relatou o estudante Ademir Meneses, 22. 

Perseguição Depois de atirar contra a multidão, baleado Felipe, o homem armado ainda perseguiu quem era de fato o seu alvo, André. “Meu filho disse que, quando viu o amigo no chão, saiu correndo e o cara saiu atrás dele e atirou outras vezes. Ele disse que correu muito e se jogou num matagal. Ele chegou em casa cheio de arranhões”, contou a mãe do rapaz Renaildes Santos de Jesus, 36. 

Ela estava pela manhã no colégio em apoio à manifestação que os alunos fizeram em prol à segurança na unidade de ensino. “Vim aqui dar meio apoio porque é preciso. Faltou pouco para meu filho morrer. Vim aqui também para cobrar da diretora. Ela disse que no colégio não tem curso profissionalizante. Como não tem? E os jovens que fazem aula de fotografia aqui, por exemplo, fazem o quê? Precisamos de respostas”, declarou Renaildes.  

Em nota, a Secretaria da Educação informou que apesar do incidente as aulas estão acontecendo normalmente. "Não procede a informação de insegurança na unidade escolar.  O fato aconteceu fora das dependências da unidade escolar. A escola acionou, imediatamente, a Polícia Militar e o Serviço Móvel de Urgência (SAMU). O estudante atingido foi conduzido ao Hospital Roberto Santos por populares antes da chegada da ambulância, foi atendido e não corre perigo. Equipes da 39ª CIPM estiveram no colégio e estão realizando rondas na região do entorno da unidade escolar. A Polícia Civil investigará o ocorrido", disse.

A Secretaria informou ainda que foi realizada nesta quarta-feira (4) uma reunião entre representantes do Colegiado Escolar e da Secretaria da Educação do Estado da Bahia para definição das medidas educativas corretivas que serão adotadas.

O colégio tem 443 estudantes matriculados e oferece três cursos da Educação Profissional e Tecnológica: Segurança do Trabalho (profissional de nível médio), Fotografia e Inglês Intermediário (Pronatec). Oferta ainda Ensino Fundamental e Ensino Médio na modalidade de Educação Integral.

"A Secretaria da Educação do Estado da Bahia ressalta que a escola pública conta com o respeito da comunidade como espaço de oportunidade para seu crescimento e desenvolvimento como cidadãos. Entre as ações desenvolvidas pela Secretaria da Educação do Estado para a prevenção nas escolas, destaque para a parceria com a Secretaria de Segurança Pública/ Polícia Militar com policiais militares da Ronda Escolar. O efetivo passa por seleção, cursos de mediação de conflito e de policiamento comunitário escolar. O grupo realiza uma ação complementar, que envolve reuniões com pais e mestres e palestras com os estudantes", afirmou a Secretaria.