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Mario Bitencourt
Publicado em 18 de março de 2018 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Foto: Divulgação A descoberta há menos de duas semanas de uma pepita de ouro com 804 gramas de peso, avaliada na sexta-feira (16) em R$ 112.584,12, gerou um clima de apreensão nos moradores de Santaluz, cidade de 38 mil habitantes, no Nordeste baiano.>
Segundo informações obtidas pela Agência Nacional de Mineração (ANM), a pepita foi encontrada numa área de pesquisa mineral por um caçador, ao quebrar uma pedra na beira de um buraco onde estava escondido um tatu. >
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A área de pesquisa, localizada numa fazenda a 35 km da cidade, vem sendo usada pela mineradora Brio Gold, subsidiária da Yamana Gold e que opera na região por meio da Santaluz Desenvolvimento Mineral LTDA. A Brio e a Yamana são canadenses.>
Logo após o achado, a imagem da pepita mostrando o seu peso estava nas redes sociais, onde se espalhou rápido, atraindo garimpeiros da região – cerca de 500, os quais já extraíram mais de 11 quilos de ouro, segundo a ANM.>
Em vídeos divulgados na internet, os garimpeiros aparecem pegando o ouro facilmente, separando-o e colocando-o na palma da mão. O garimpo ilegal está já cheio de buracos e acampamentos espalhados por todo lugar.>
Um vídeo divulgado pelo site Voz do Campo mostra até crianças na área invadida. Assista.>
Nem a Polícia Federal, que esteve dia 8 no local, realizando apreensões de materiais usados para a extração do mineral, conteve a presença dos garimpeiros. Dois dias depois, boa parte deles já estava de volta, e a quantidade só cresce a cada dia.>
Receios “Todos os dias a gente ouve falar desse ouro, que tem um monte de gente lá. Aqui na cidade ainda não alterou nada, mas a gente teme que pessoas de outros locais possam vir e causem algum problema”, disse a atendente de supermercado Ana Santos Costa.>
Com a mesma sensação de apreensão também está o vendedor de uma loja de confecções Leandro Augusto de Oliveira Silva, 29.“Ouro é algo que atrai muita gente louca por ficar rica rápido, e isso gera sentimentos egoístas que não são bons”, comentou Leandro.As polícias Civil e Militar de Santaluz informaram que estão cientes da existência do garimpo ilegal, mas que ainda não foram acionadas para diligências.>
Cláudio Lima, chefe de fiscalização da ANM em Salvador, informou que a agência recebeu da mineradora Brio Gold comunicado da presença dos garimpeiros no local e programa realizar em Santaluz uma fiscalização, acompanhada da polícia.“Vamos lá por esses dias, estamos agendando ainda e não podemos revelar o dia que vamos porque temos de chegar de surpresa”, declarou Lima, segundo o qual a Brio Gold possui na região dezenas de áreas em fase de pesquisa.O local onde ocorre o garimpo ilegal fica dentro dos quase 2.000 hectares de terra onde a Brio Gold possui permissão da ANM para desenvolver pesquisas de exploração mineral.>
E próximo dali está a mina Maria Preta, numa área de 450 hectares, onde a extração de ouro ocorre desde a década de 1990, tendo já passado por várias empresas. A Brio Gold opera na região desde 2014, após a Yamana Gold iniciar as atividades em 2012.>
Sem extração Segundo a ANM, a Brio Gold ainda não conseguiu extrair ouro em Maria Preta por conta de prejuízos durante a o processo mineral. A empresa, informa a ANM, pediu suspensão da extração para aperfeiçoar a separação do ouro nas rochas e areia.>
A área onde a Brio Gold realiza as pesquisas fica dentro da Fazenda Mandacaru, de propriedade da empresa paraibana Cosibra, que atua na região na fiação e tecelagem de sisal. Procurada, a Cosibra respondeu que só poderia comentar nesta segunda-feira (19).>
De acordo com a Prefeitura de Santaluz, a área faz parte de uma área de proteção ambiental. Em comunicado ao CORREIO, a administração municipal declarou que “decidiu não se envolver” no problema.>
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE) e o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Inema) foram procurados, mas não responderam.>
Também procurada, Brio Gold não se manifestou. A empresa, segundo o site oficial, deverá produzir 205.000 onças de ouro (ou 7.075 kg do mineral) em 2018 e aproximadamente 400 mil onças de ouro em 2019. “Onça de ouro” é uma unidade de peso que equivale a 28,3 gramas.>
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Bahia é o 4º estado que mais extrai ouro O levantamento mais recente sobre extração de ouro no Brasil, com dados de 2016 e realizado pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), aponta que a Bahia está em quarto lugar na produção nacional, de 93.920,47 kg.>
A liderança é do estado de Minas Gerais, com 32.269,36 kg, seguido de Pará (13.456,52 kg), Goiás (10.460 kg), Bahia (6.193,88 kg), Mato Grosso (2.567,46), Paraná (323,80 kg) e Tocantins (30,65 kg).>
Dos estados que mais produzem, Minas, Bahia e o Amapá tiveram crescimento com relação a 2015, quando extraíram, respectivamente, 31,349 kg, 5.707 kg e 4.032 kg. Em 2015, a produção do Pará tinha sido de 19.744 kg e a de Goiás 10.949.>
Na Bahia, segundo a ANM, a extração de ouro ocorre em dois garimpos legalizados em Jacobina e Pilão Arcado. Há quatro minas na Bahia, três delas da Yamana Gold, uma entre Teofilândia e Barrocas, outra em Jacobina e em Santaluz (sem produção).>
Em Jaguarari está a mina da Mineração Caraíba, que em 2016 produziu 33,8 kg, enquanto que as minas da Yamana em Jacobina e Teofilândia/Barrocas produziram, respectivamente, 3.747 kg e 2.413 kg.“A Bahia é um dos estados do Brasil que mais vem se destacando na mineração como um todo, e apresenta boa produção de ouro, sobretudo quando se relaciona com quantidade retirada de ROM [sigla para expressão inglesa ‘run of mine’, que corresponde à produção bruta do minério]”, comentou o geólogo Paulo Ribeiro de Santana, do DNPM.O ROM é um valor referente ao quantitativo bruto de areia, pedras e outros minerais retirados no momento da extração. Em 2015, o da Bahia, por exemplo, foi de 2.654.371 toneladas, o que deu um teor médio de ouro de 2,15. Em comparação, Minas Gerais, com 52.296.730 toneladas de ROM, ficou com teor médio de 0,6 em 2015. Pará, com 0,34 e Goiás com 0,49.>
Quem produz mais ouro no mundo é a China, com 453,5 toneladas em 2016. A Austrália, com 290,5 toneladas vem em segundo; a Rússia (253,5 toneladas) em terceiro; os Estados Unidos (236 toneladas) em quarto; e em quinto a Indonésia, com 168,2 toneladas. O Brasil, pelos dados de 2016, é o 11º maior produtor.>