Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Mario Bitencourt
Publicado em 12 de fevereiro de 2018 às 09:00
- Atualizado há 2 anos
Se morar numa cidade com altos índices de dengue, zika e chikungunya é algo que ninguém quer, imagine, então, no único município da Bahia que passa por uma epidemia simultânea dessas três doenças, classificadas como arboviroses por serem transmitidas por insetos – neste caso, o temido mosquito Aedes aegypti.
Esse é o drama dos 19 mil residentes em Coaraci, no Sul da Bahia, e a manicure Maria Augusta Silva Sales, 26 anos, conhece bem. “Três pessoas da minha família – um sobrinho, uma tia e um cunhado – tiveram dengue e foi um sufoco. Tenho muito medo de pegar também, e busco tomar cuidados para não deixar água acumulada”, disse.
Coaraci, que na linguagem indígena tupi-guarani significa “cidade do sol”, aparece no relatório anual de arboviroses da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) como a única cidade baiana de 2017 em que o coeficiente de incidência de arboviroses foi maior ou igual a 100 casos por 100 mil habitantes.
“Dessa forma, o município de Coaraci apresenta uma tríplice epidemia, considerando parâmetro do Ministério da Saúde”, afirma a Sesab no relatório divulgado esta semana.
Em 2017, a cidade notificou 20 casos suspeitos de zika, 75 de Dengue e 26 de chikungunya. No ano anterior, foi pior: 191 notificações de zika, 200 de dengue e 18 de chikungunya, atendidos no Hospital Geral de Coaraci, de baixa complexidade e que era estadual - a unidade foi municipalizado em 2012. A unidade possui 100 leitos.
Panorama estadual Na Bahia, em 2017, foram notificados 2.588 casos suspeitos de zika, 10.423 de chikungunya e 9.283 casos prováveis de dengue. O coeficiente de incidência ficou em 17 casos/100 mil habitantes para a zika, de 68,6 casos/100 mil para a chikungunya e de 61,1 casos/100 mil moradores para a dengue.
Ainda segundo o relatório de 2017 da Sesab, 108 municípios não notificaram casos das três arboviroses. A macrorregião Extremo-Sul foi a mais atingida pelas três arboviroses no período, concentrando 43% dos casos notificados no Estado. As macrorregiões Leste e Sul foram responsáveis por 16,4% e 11,9% dos casos, respectivamente.
As maiores epidemias recentes de dengue na Bahia ocorreram em 2009, com 123.637 casos notificados, e 2013, quando houve 83.453 notificações. Em relação à dengue, os casos notificados em 2017 representam redução de 85,5%, quando comparado ao mesmo período do ano de 2016, quando foram notificados 63.979 casos.
A Sesab não informou sobre a quantidade de notificações que foram confirmadas após exames, tanto em relação a Coaraci quanto aos outros municípios da Bahia. Em Coaraci, a Prefeitura declarou que foram confirmados dois casos de dengue e dois de chikungunya, sem registro de mortes relacionadas às arboviroses.
Dados da Coordenação de Vigilância Epidemiológica de Coaraci, apontam que em 2017 o Índice de Infestação Predial estava no nível de alto risco pelo Ministério da Saúde, chegando a 9,4 em agosto, 7,4 em outubro e 5,6 em dezembro.
Ações Apesar da tríplice epidemia, Coaraci não recebeu atenção especial da Sesab, que diz realizar apenas treinamentos para municípios que apresentam riscos ou que já tenham casos registrados de arboviroses, como capacitação de técnicos, reuniões para alinhamento das ações, borrifação e aplicação de UBV, um tipo de agrotóxico que combate o mosquito Aedes aegypti. “As ações propriamente ditas são realizadas pelos municípios”, comunicou a Sesab.
A Secretaria de Saúde de Coaraci informou que “desenvolveu ações rotineiras através da conscientização da população sobre a contribuição de cada um na prevenção ao mosquito, aplicando os conhecimentos adquiridos por meio de visitas domiciliares realizadas pelos Agentes Comunitário de Endemias”. Na cidade há 30 agentes.
“Passamos o ano também revisitando os quarteirões positivos para foco, trabalhando com a comunidade escolar e população em geral o reconhecimento dos sintomas das arboviroses, formas de contágio, prevenção e tratamento e incentivando-as a ter atitudes de prevenção. Estimulando também a população a desenvolver hábitos e atitudes que ajudem a acabar com a proliferação do mosquito”, afirmou a coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Coaraci, Verônica Selman.
Panorama nacional das arboviroses
Dengue – Em 2018, até 20 de janeiro, foram notificados 9.399 casos prováveis de dengue em todo o país, uma redução de 44% em relação ao mesmo período de 2017 (16.860). Em relação ao número de óbitos, foram 13 no ano passado e nenhum até 20 de janeiro deste ano. Também caíram os registros de dengue grave e com sinais de alarme. Foram confirmados 3 casos de dengue grave em 2018, queda de 88% em relação a 2017 (25). Já o número de casos com sinais de alarme teve redução de 88,1%, passando de 230 para 26 neste ano. No país, a região Sudeste apresentou o maior número de casos prováveis (4.066 casos; 43,3%) em relação ao total do Brasil. Em seguida aparecem as regiões Centro-Oeste (2.481 casos; 26,4%), Norte (1.056 casos; 11,2%), Nordeste (914 casos; 9,7%) e Sul (882 casos; 9,4%).
Chikungunya – Em 2018, foram registrados 1.505 casos prováveis de febre chikungunya, o que representa uma taxa de incidência de 0,7 casos para cada 100 mil habitantes. A redução é de 70,7% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 5.135 casos. Em 2018, houve 1 óbito confirmado laboratorialmente. Em 2017, no mesmo período, foram 8 mortes confirmadas, o que indica uma redução de 87,5%. A região Centro-Oeste apresentou o maior número de casos prováveis de febre de chikungunya (603 casos; 40,1%) em relação ao total do país.
Zika – Até 20 de janeiro deste ano, foram registrados 131 casos prováveis de zika em todo país, uma redução de 92% em relação ao mesmo período de 2017 (1.640). A incidência passou de 0,8 em 2016 para 0,1. As regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte apresentam as maiores taxas de incidência: 0,2, casos/100 mil hab. e 0,1 casos/100 mil hab., respectivamente. Em relação às gestantes, foram registrados 40 casos prováveis, sendo cinco confirmados por critério clínico-epidemiológico ou laboratorial.