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Gabriel Galo
Publicado em 16 de abril de 2018 às 07:18
- Atualizado há 2 anos
As discussões em torno da reorganização da Copa do Nordeste tomaram conta do noticiário esportivo nos últimos dias. A pauta, capitaneada pelos clube maiores, é a de segregação. Aos grandes quase tudo; aos pequenos, migalhas. O Sport, autoisolado, ficou de fora neste ano e comprou seu tíquete expresso para a míngua.
Pois calha que exatamente quando atinge sua maior participação no Brasileirão da Série A dos pontos corridos, o Nordeste como um todo sinta o vento gelado de tempestades se aproximando. Luta árdua do barco miúdo contra natureza opressora. Se os orçamentos já são fração dos maiores mais ao Sul, é na capacidade microscópica de nossos dirigentes que reside a nossa maior deficiência. Ajudamos a cavar um abismo ainda maior entre lá e cá.
Cegos por um clubismo amador contagiante – e eventualmente por uma arrogância infundada – nos deixamos levar por hashtags e pelo mimimi de mau perdedor. Em alguns momentos, numa evidência da era obscura pela qual passamos, pelo choro incompreensível dos vencedores.
Nunca há mérito. A derrota é sempre culpa de outrem, de um elemento externo incontrolável. Fabricam-se festas e guerras à mercê da vaidade de dirigentes e da necessidade beligerante de pretensos torcedores. “Às armas, porque o mundo está contra nós!” A tática é o cada um por si e seja o que Deus quiser.
Só que Deus e o mundo querem outras coisas, diferentes de nossos anseios. Mas não do jeito que os donos das canetas nos clubes imaginam. O mundo está contra todos aqueles que simbolizam o atraso. O mundo tem um apetite voraz por destruir incompetentes. O mundo estraçalha os tolos com iniciativa e poder.
A primeira rodada do Brasileirão deixou às claras o que fingimos não ver. Alheios ao fato de que fazer crescer o certame regional e estimular a competitividade de adversários é pilar obrigatório para fomentar o fortalecimento de seus clubes, não percebem o óbvio: estamos saindo um passo atrás do resto do Brasil.
O único ponto obtido veio de uma equipe que não teve ímpeto, mesmo em casa, para bater um adversário gravemente prejudicado pela arbitragem. Os outros três padeceram em derrotas acachapantes: nenhum gol marcado, sete sofridos e nenhuma esperança de que algum resultado diferente fosse construído, dominados que foram sem dificuldade por equipes que passarão longe de disputar o título.
Será que, espelho do sertanejo – este, sim, muito mais honrado e digno, especialmente comparado aos cartolas do nosso arremedo de futebol –, nos resta almejar senão a sobrevivência? Se por um lado foi apenas a primeira rodada, por outro deve-se acender a luz amarela de atenção. Não há nada de novo no front, a não ser a impossibilidade de se varrer a sujeira para debaixo do tapete. A madeirada nacional canta em 600 idiomas e não há couro que suporte. Os problemas de cada um são evidentes há muito tempo. Escorrem dentro e fora das quatro linhas.
Entre o milagre da redenção “contra tudo e contra todos” e uma combinação profissionalismo + competência, estarei sempre militando pela segunda opção. Parece, contudo, que esta última é voto vencido por cá. Ou havemos de colocar as barbas de molho, ampliando as linhas de comunicação com o mundo real, ou estamos destinados aos porões das divisões nacionais, torcendo por um milagre. Por um novo Marinho, por uma nova fase goleadora de Edigar Junio, pelo sprint final de um time que se livrou de certo técnico garganteador quando quase não havia mais volta, pela equipe que cresceu “no grito da torcida”.
Acendamos uma vela em oração. O imponderável por vezes acontece. Depender dele, no entanto, é estupidez.
Gabriel Galo é escritor.