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O drama da biblioteca

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Nelson Cadena
  • Nelson Cadena

Publicado em 16 de março de 2018 às 04:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

Em 1833, a Biblioteca Pública da Bahia adquiriu, senão a primeira, uma das primeiras assinaturas de jornais de Salvador, a do Diário da Bahia, segundo documentos existentes no Arquivo Público. Fez muitas outras ao longo dessa década de 1830 e de lá para cá, até 2015, continuou a assinar os periódicos desta cidade e alguns do interior. E foi assim que constituiu um dos mais ricos acervos de jornais e revistas do país. Nunca ocorreu a alguém cancelar as assinaturas de jornais, fato inédito na bicentenária instituição, iniciativa tomada em 2016 pela Secretaria de Cultura e Fundação Pedro Calmon, responsáveis pela “gestão” das bibliotecas. Me pergunto: quem deu essa ordem? E com base em que fundamento? Porque se foi a simples contenção de despesas, melhor não comentar.

Em 2016, em entrevista a Mário Kertesz, alertei sobre o drama vivido pela nossa biblioteca que vive hoje o pior momento de sua história, com certeza o pior momento desde 1980 quando me tornei usuário regular e se antes disse o pior da história é porque não conheço - pesquisei o assunto - outro momento tão comprometedor. Na ocasião o Secretário de Cultura entrou no ar, prometeu resolver o problema da falta de ar condicionado (um dos mais graves da instituição por que compromete a conservação dos acervos e afasta os usuários); de fato aprovou uma verba e, três ou quatro meses após, foi instalado, e hoje sabemos, nada foi resolvido. Faltou um projeto prévio? Foi mal dimensionado? O que aconteceu? Silêncio de quem deveria prestar esclarecimentos à população. 

Na ocasião, também, após reportagens nos jornais, o presidente da Fundação Pedro Calmon fez promessas que ficaram no ar, dois anos se passaram. Alguém chegou a falar, não lembro que autoridade, em constituir uma comissão de alto nível para tratar do sistema de bibliotecas. Na ocasião pensei: por que de alto nível? Precisamos é de uma comissão de “menor nível”, formada por pessoas comuns, usuários do serviço. Pensei também: por que essa comissão de “notáveis” para pensar o sistema? É por que não existe uma política cultural definida para a conservação dos acervos, não há um projeto? Pareceu improvisação para dar uma satisfação à mídia. 

São muitos os problemas da Biblioteca Pública, alguns estruturais de difícil solução a curto prazo por que demandam altos investimentos (o caso do gradil da fachada, corroído pela ferrugem, por exemplo), outros decorrentes de medidas impensadas, não refletidas, tomadas nos últimos anos, entre as quais o cancelamento das assinaturas dos periódicos, o descaso com o ar condicionado, o fechamento de vários banheiros e outros itens comprometedores em relação à higienização do acervo, limpeza e segurança do espaço. 

A redução do quadro funcional também é um problema, compromete o atendimento, apesar da boa vontade e em alguns casos devoção, mesmo, dos funcionários, em especial os mais antigos. Porém, sabemos, esta questão não será resolvida de pronto, enquanto perdurar o contingenciamento de verba para a cultura. Mas, um dia será, assim esperamos. O que falta no momento para devolver à biblioteca a sua integral funcionalidade é o mínimo. Só precisa de boa vontade e atenção dos órgãos responsáveis. Não precisamos de comissões de alto nível, precisamos de mãos na massa.

Esta semana constituímos um grupo no Facebook - Grupo de Amigos da Biblioteca (Gabi) - que pretende ser um fórum de discussões sobre a biblioteca e uma forma de colaborar com o poder público que não está nem aí para o drama da instituição. Formaremos também uma associação, com estatutos e legitimada em cartório, para exercermos o nosso papel fiscalizador de cidadãos e usuários. Se você, leitor, quer participar, de fato colaborar com a nossa biblioteca, envie um e-mail para nós, ou participe nas redes sociais, através do Gabi.