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Mapa do barril: motoristas de apps divulgam locais onde mais são assaltados

Bandidos chamam vítimas pelo celular; grupo apelidou serviço de 'assalto delivery'

  • Foto do(a) author(a) Milena Hildete
  • Milena Hildete

Publicado em 10 de janeiro de 2018 às 04:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Editoria de Arte/CORREIO

Era pra ser uma manhã de trabalho como outra qualquer, até o motorista do aplicativo 99 Pop, Tarcísio Borges, 37 anos, receber um chamado para a Avenida Bonocô, em Salvador, e perceber a farsa: ele foi surpreendido por quatro homens, um deles portando uma arma de fogo. Mal havia começado o dia - era apenas 6h30 -, e o condutor já havia sido vítima de um assalto. Perdeu o carro e o celular, que paga até hoje.

“Eles falaram que se eu fosse até a polícia ia morrer. A sorte foi que meu carro estava no seguro, mas perdi o celular, que dividi em 12 vezes”, lamenta o motorista. Desempregado, ele disse que apesar do trauma voltou a trabalhar um mês depois do ocorrido. “Eu só esperei o seguro devolver o carro e voltei pra pista, porque não posso largar minha fonte de renda”.

Algumas corridas de Uber do motorista João Ribeiro também terminaram em assaltos. O condutor trabalha no aplicativo desde junho do ano passado e já acumula oito ataques. Em uma das situações, relembra que foi parar em um local perigoso.“Quando eu peguei a corrida, achei que era uma corrida normal, mas quando chegou em uma rua sem saída, os dois caras anunciaram o assalto”, relata João.Ele e Tarcísio integram o grupo de 865 motoristas de aplicativos assaltados entre abril e dezembro de 2017. O número foi divulgado nesta quarta-feira (9) pelo Sindicato dos Motoristas por Aplicativos e Condutores de Cooperativas do Estado da Bahia (Simactter) durante um protesto, que reuniu cerca de 200 pessoas, boa parte delas vítimas das ações criminosas e que resolveram apelidar o serviço de "assalto delivery", já que os autores costumam "pedir a entrega" dos pertences dos motoristas através do celular.

Ainda nesta terça, a Simactter divulgou um mapa com as áreas onde os crimes foram mais frequentes. Os destaques principais são a região do Miolo, que inclui bairros como Valéria, Águas Claras, Cajazeiras (98 casos), além de Pau da Lima e Castelo Branco (134 relatos); e a maior parte do Subúrbio Ferroviário, entre Ilha Amarela e Fazenda Coutos, com 226 registros.

Os bairros vizinhos ao Cabula (165 casos), além do CIA (157 registros), Liberdade (114), Bonfim (102), Itapuã (93) e Brotas (70), também aparecem em destaque nas manchas criminais divulgadas pela associação. Mapa foi divulgado pelo sindicato para os motoristas evitarem  Imagem: Simactter/Divulgação O protesto desta terça teve como principal objetivo pedir Justiça pela morte de José Henrique Pereira Alves, 24.

O rapaz atuava como Uber e foi executado em um assalto no bairro de Ilha Amarela, Subúrbio Ferroviário, no sábado (6). Ele foi baleado dentro do carro e teve pertences roubados. Nenhum suspeito havia sido identificado ou preso até a publicação da reportagem. O corpo de José Henrique foi sepultado na segunda (8) em Senhor do Bonfim, no Centro Norte do estado.

“Hoje acontece, em média, de 15 a 18 assaltos, furtos ou roubos diários contra motoristas de aplicativos. O que aconteceu com José Henrique não pode ser encarado como um fato comum. Não temos segurança pública”, afirma Átila Santana, presidente do Simactter, que representa seis mil motoristas.  Protesto pede justiça por morte de motorista de Uber (Foto: Divulgação) Santana ressalta ainda que os assaltos acontecem principalmente em quatro áreas da cidade: Suburbio Ferroviário, Valéria, Nordeste de Amaralina e Santa Cruz. “A Uber é rígida no controle dos trabalhadores, mas não tem rigidez no controle de passageiros”, afirma.

Respostas Procurada, a Uber informou que não divulga dados de ocorrências criminais. “A Uber não fornece nem compartilha dados cadastrados na plataforma. Isso só é feito mediante solicitação das autoridades, nas formas previstas em Lei. Já os números de ocorrências policiais só podem ser confirmados pelas autoridades competentes”.

O aplicativo recomenda que, em caso de assalto ou qualquer tipo de violência, os motoristas e usuários entrem em contato com as autoridades policiais.

A 99 informou que está sempre preocupada com segurança de passageiros e motoristas. "Para garantir que o nosso serviço seja o mais seguro, montamos uma equipe de mais de 30 pessoas contando com ex-militares, engenheiros de dados e até psicólogos. O time trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana, dedicado exclusivamente à proteção dos usuários", diz a empresa, que afirma trabalhar focado na preveção. Entre as iniciativas desenvolvidas  estão o alerta de áreas de risco, a checagem do histórico de motoristas e a identificação de passageiros frequentes. Há também um mapeamento das áreas de riscos.

"O motorista pode optar por não receber o pagamento em dinheiro. Acreditamos que é importante dar liberdade aos nossos parceiros para que eles tomem a melhor decisão baseado em seus próprios contexto e experiência. A 99 possui ainda diversos programas para lidar com as consequências das ocorrências de segurança, como o canal de atendimento emergencial", diz a nota. "Disponibilizamos um  canal de atendimento exclusivo para casos de segurança no 0800-888-8999, que oferece auxílio imediato e informações do que fazer. O atendimento atende às necessidades de cada tipo de ocorrência, com apoio emocional e psicológico".

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A Polícia Militar disse que as regiões mencionadas pelo sindicato apresentam baixo índice de roubo a veículos. “Não há uma ação específica para coibir assaltos a Uber, que são carros particulares sem identificação visual externa. A PM, através da Operação Apolo, atua na prevenção e repressão de roubo a veículos”, diz a PM, em nota.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que os crimes envolvendo condutores de veículos, quando o assaltante subtrai o carro, são investigados pela Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV). Os casos envolvendo furto de dinheiro ou outro bem pessoal ficam com as Delegacias Territoriais.

De acordo com a pasta, os policiais realizam fiscalizações em diversos pontos da cidade para combater práticas criminosas. A SSP diz ainda que a falta de identificação do veículo prestador de serviço dificulta um trabalho direcionado.