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Livro, CDs e show especial marcam homenagem ao grupo Os Tincoãs

Projeto da Natura Musical garante show com integrantes da formação especial

  • Foto do(a) author(a) Osmar Marrom Martins
  • Osmar Marrom Martins

Publicado em 4 de dezembro de 2017 às 06:10

 - Atualizado há 2 anos

Vai ser mais do que uma simples festa, a noite desta quarta-feira (6) no Teatro Castro Alves, quando será apresentado Nós, Os Tincoãs, projeto em homenagem ao grupo Os Tincoãs com lançamento de livro de memórias, relançamento de três discos e show comemorativo. Muito justo. A trajetória do grupo que surgiu na cidade de Cachoeira, no Recôncavo baiano, será relembrada num projeto com múltiplas linguagens, reverenciando um trio vocal que marcaria a história da música afro-brasileira.

Exatos 17 anos após seu fim, Os Tincoãs tem a obra revisitada em dezembro de 2017, sob a narrativa de Mateus Aleluia (foto acima), um de seus membros e principal compositor. A outra boa notícia é o relançamento de três discos fundamentais em versão remasterizado. Pela primeira vez, após 40 anos do lançamento do último LP, Os Tincoãs terão CDs dos álbuns O Africanto dos Tincoãs (1975) e Os Tincoãs (1977) - o primeiro, Os Tincoãs (1973) já havia saído em CD. Os discos só serão vendidos em conjunto, e com o livro, por R$ 100.

Muito contente com todo esse movimento de retorno, Mateus Aleluia, um dos remanescentes do grupo, ao lado de Badu, que mora nas Ilhas Canárias e veio para a Bahia especialmente para participar do show, recebeu a imprensa antes de embarcar para uma série de eventos na Califórnia (EUA) e falou sobre o projeto: “É uma mistura de todos aqueles que deram sua contribuição para a cultura da soberania do dendê. Nós somos da soberania do dendê. Esse projeto é isso, para a gente mostrar a obra dos Tincoãs, essa miscigenação do afro com o barroco, sustentado na cultura do autóctone, representada pelas diversas nações de índios que aqui existiam e estavam antes da chegada dos portugueses”.

E prosseguiu: “Nós pretendemos mostrar nesse projeto a obra dos Tincoãs cantada por aqueles que vão homenagear a mim e a Badu, remanescentes dos Tincoãs. É uma releitura sobre tudo que Os Tincoãs fez calcado no ritualístico do candomblé, mas sem deixar de revisitar também a ritualística barroca”. Sempre elegante, Mateus Aleluia fez questão de esclarecer que o projeto, patrocinado pela Natura Musical, foi uma criação de Monaica Mota, em parceria com Paula Hazim: “Eu não sou autor do projeto. Achei a ideia magnífica e topei fazer. Temos como curador o Gringo Cardia, e como um dos narradores, que talvez não possa participar, o Adelzon Alves, que sempre foi o produtor das obras mais sonantes dos Tincoãs”.

Livro -  Sob o olhar de Mateus Aleluia, um livro-memória foi escrito coletivamente, com textos de Marcus Preto, Iuri Passos e Paulo Bahiano, para resgatar e preservar a história dos Tincoãs. São fotos, críticas musicais, matérias de arquivo, biografia dos seus integrantes, além de depoimentos de personalidades como o radialista Adelzon Alves, produtor musical do grupo, e de artistas que são admiradores do conjunto, como Martinho da Vila, Ana Lomelino, Criolo, Emicida e o grupo Bixiga 70.

À frente da compilação de informações e da direção de arte do livro, Gringo Cardia mediou rodas de conversas em Cachoeira, no Rio e em Salvador com pesquisadores, estudiosos e novos artistas que são influenciados pelo legado do trio sonoro. Dentre os nomes estão o Maestro Letieres Leite, o cantor Saulo Fernandes – que já fez um show em homenagem aos Tincoãs –, a jornalista e líder da banda Didá, Viviam Caroline, o ogã do terreiro do Gantois, professor e pesquisador de música de candomblé, Iuri Passos, e diversos pesquisadores e estudiosos que debateram o legado do trio. A obra, com tiragem de 3 mil exemplares, terá os três CDs encartados com capas originais. Antes de serem comercializados, haverá pré-venda em um hotsite criado para o projeto. Capa do álbum Os Tincoãs, de 1973 (foto/divulgação_ Formação - Com a formação inicial de Erivaldo, Heraldo e Dadinho, Os Tincoãs interpretavam no final da década de 50 apenas boleros. O grupo ganhou projeção, no entanto, quando passou a cantar a música dos terreiros de candomblé, das rodas de capoeira e do samba de raiz. Nesta época, meados dos anos 60, Erivaldo saiu e entrou Mateus Aleluia. Em 1973, gravaram juntos um disco antológico, com grande impacto. Em 1975, com a morte de Heraldo, o grupo ganhou novo integrante, Morais, que foi logo substituído por Badu. Em 1983, o grupo foi para Angola, permanecendo por lá até encerrarem a parceria, em 2000, com a morte de Dadinho.

“A música do Tincoãs é a música do mundo. Tem músicas que nós gravamos que tem mais de dois milhões de anos. É imperativo também que as pessoas saibam disso. São músicas trazidas pelos encantados, pelos orixás, pelos oduns, que extrapola o tempo. Talvez seja isso realmente que faça essa conexão com a juventude e com os anciões como eu. Uma música atemporal por se tratar de uma música antropológica, paleontológica”, divaga Mateus Aleluia. Hoje, existem menos barreiras. Os Tincoãs sempre foi bem aceita pela critica, mas tinha um contra vapor que deixava a coisa morna. Hoje é bem melhor.

Longe  há 27 anos, Badu diz que show será emocionante

O show de lançamento da coletânea musical de Os Tincoãs terá Mateus Aleluia como anfitrião de  muitos artistas convidados da nova geração da música brasileira,  como Saulo e Margareth Menezes. A presença mais ilustre, no entanto,  será a do ex-integrante Badu, que mora nas Ilhas Canárias (Espanha) e não vem ao Brasil desde os anos 80. Em conversa com reportagem do CORREIO, Badu mandou avisar:

“Depois de muitos anos, cantar novamente as músicas dos Tincoãs com Mateus é algo muito importante para mim. Artisticamente, esse dia será o mais importante dos últimos 40 anos para mim, que   levo a vida cantando. Os nove anos que cantei com os Tincoãs marcaram a minha vida e ficarão para sempre na minha memória. Posso morrer com 100 anos e vou lembrar de tudo que passamos. Foi muito importante para mim e aprendi muito com Mateus e Dadinho. Aprendi muito!” Badu mora nas Ilhas Canárias e não vem ao Brasil desde os anos 80 (foto/divulgação) Emocionado, Badu revelou carinho especial por uma canção: “Nunca mais cantei músicas dos Tincoãs, porque o destino me levou para a Europa e lá eu canto músicas que não costumam ser afro-brasileiras. Por lá, do Brasil, me pedem mais bossa nova. No show, queria poder cantar todas as músicas que já gravamos juntos, mas tenho um carinho especial por Lamento das Águas. E mais, conclui: “Já vivo na Espanha há 27 anos e nunca solicitei a cidadania espanhola, porque sempre digo que no ano seguinte voltarei para o Brasil de vez. Meu desejo permanece: Quero morar ano que vem na Bahia! Penso nisto há 27 anos. Estou, de verdade, muito feliz em estar aqui. A última vez que vim na Bahia foi em 1981”.

 O encontro de Badu com Mateus  no palco não acontece há 36 anos. Para o evento, foram convidados os filhos angolanos de Dadinho, que nunca vieram ao Brasil. O espetáculo contará com uma banda formada por Alex Mesquita,  Alexandre Vieira,  Vinicius Freitas, Dom na Bateria e direção musical de Mateus Aleluia Filho

Serviço:

Nós, Os Tincoãs (Teatro Castro Alves | 3535-0600) Quarta-feira (6), às 20h. Ingresso: R$ 40 | R$ 20 (vendas na bilheteria no TCA e no  www.ingressorapido.com.br)