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Fala Sério, Mãe! vai além da sinopse e da comédia e apresenta críticas sociais

Filme promete lágrimas para todas as idades e traz críticas ao machismo, além de quebrar tabus entre pais e filhos

  • Foto do(a) author(a) Vanessa Brunt
  • Vanessa Brunt

Publicado em 28 de dezembro de 2017 às 06:10

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Reprodução

Fala sério, sociedade! Esta expressão poderia substituir o título do novo filme baseado na obra homogênea de Thalita Rebouças. O longa, estrelado por Ingrid Guimarães e Larissa Manoela, que chega aos cinemas hoje, traz entrelinhas recheadas de críticas ao machismo, de quebras de tabus entre pais e filhos e da desconstrução de diversos preconceitos como, por exemplo, os que circundam as questões das faixas etárias. 

Ângela Cristina é mãe, profissional, esposa, mulher, ser humano. Ela precisa lidar com as dificuldades e delícias de preencher todos esses papéis e saber quando deixar algum deles como prioridade. Enquanto Ângela vive uma montanha-russa de emoções, medos e frustrações, a filha, Malu, como prefere ser chamada, também tem suas insatisfações e vitórias em cada fase.

A trama, que é narrada por ambos os pontos de vista: ora por Ângela e ora por Malu, vai para além da relação entre mãe e filha, apesar do enfoque no crescimento de Malu, indo da infância até a vida adulta (aos 20 anos), com as nuances do laço materno. Os personagens secundários, como os outros filhos de Ângela e o marido, no entanto, servem para apresentar as vidas pessoais dessas duas mulheres, que acabam destrinchando, no decorrer do longa, diversas mensagens individuais e alertas globais. Confira o trailer:

Para olhos e bocas Apesar das cenas cômicas que lembram, por vezes, outras comédias brasileiras, essas ficam apenas como respiros em meio ao conteúdo denso e lagrimejante demonstrado. Sim, é um filme que, muito provavelmente, fará você chorar, justamente nas cenas que podem ser consideradas simples. O estilo de comédia pastelão pouco permeia a trama, que utiliza até dos momentos aparentemente exagerados para interligações. 

Nada é gratuito. “Foi mico? Foi. Mas se a minha mãe não tivesse feito isso, eu nunca teria coragem de tirar aquela foto que eu tanto queria”: esta é uma das falas da personagem de Larissa, que representa intenções implícitas do longa.

A realidade nua e crua que desmistifica o que muitos dizem ser belo e tranquilo no início da vida materna aparece, no filme, desde o momento da dor para amamentar até a fase em que o casal não deve deixar de apimentar a relação. Mas o longa, novamente, vai além e deixa aquele berro de que a realidade é sempre relativa e que o raro, só é raro, para quem aceita o pouco como muito. Um pai presente surge como crítica aos que pensam que existe tamanha divisão com o papel de mãe, assim como um marido que não apresenta bom caráter aparece para questionar a integridade. Fala Sério, Mãe! traz atuações de Larissa Manoela e Ingrid Guimarães com mensagens sobre ganhos das perdas (Foto: Reprodução) O uso pouco ponderado da tecnologia como afastamento das famílias e casais também não deixa de estar presente. Além de outras indagações. Ela tem idade suficiente para trabalhar? Ela tem idade suficiente para dar uma lição de moral? A trama traz uma simples resposta: os papéis sempre se invertem (de mãe e filha, de aluno e professor...).

Mas, e se os pais não mudarem de opinião? Nesses casos, saber ver os ganhos das perdas é outra mensagem que o filme carrega. Malu, por exemplo, descobre o que ama fazer profissionalmente através de uma decisão em família com a qual não concorda. Ao tentar se encaixar na nova realidade, uma caminhada de autoconhecimento invade a casa.

Ela, inclusive, é a personagem que mais carrega quesitos feministas e merece, portanto, atenção a cada uma das suas atitudes, que servem como críticas sociais. A garota é chamada de ‘fácil’ pela própria mãe, tem a iniciativa de beijar um garoto que não tomou atitude e, ainda assim, bate os pés para lembrar que isso não a torna menos sensível, menos séria, menos ‘difícil’ e menos humana. A jovem relembra que existem várias mulheres dentro de uma, e que se valorizar é também fazer o que sente vontade, contanto que ali não haja quebras de honestidades. A trilha sonora variada e bem escolhida, cria uma linha a mais de reflexões. A canção final, escrita por Thalita Rebouças, deixa o tom de uma das mensagens: “Se você me deixar ir, sempre vou querer voltar”, afinal, ficando se ensina, ensinamento se aprende, forçando não se fica.

Pouca ousadia literal Em suma, Fala Sério, Mãe! é um longa para todas as idades, para abraçar os pais, para grudar nos irmãos e para tecer sensos críticos fundamentais no mundo atual - quando a atenção é dada para as entrelinhas. O desfecho, porém, poderia ser mais emocionante e maduro, para acompanhar as crescentes do filme. A quebra acaba fazendo jus às más famas nacionais ao ir para momentos finais clichês e mais rasos, além de, possivelmente, dar a impressão de um certo exagero pelas tantas cantorias da atriz Larissa Manoela.

A trama não tem pegada cult ou poética, não ousa em filmagem ou roteiro de formas nítidas, não foge de linhas principais da cultura pop e não abandona, ainda, certos vícios de produções brasileiras mais conhecidas, como é o caso da câmera mais parada. De qualquer forma, os pontos positivos e diferenciados, como os detalhes implícitos criteriosos e a atuação natural de Ingrid Guimarães, se sobressaem para quem souber e quiser enxergar. Como disse a própria Ingrid: "Tomara que seja o começo de um novo estilo para os nossos cinemas". Amém.