Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Roberto Midlej
Publicado em 5 de setembro de 2017 às 06:05
- Atualizado há 2 anos
Em novembro de 2011, o jornalista e diretor de cinema Josias Pires, baiano, 57 anos, ouviu no rádio uma reportagem sobre a ação de despejo que a comunidade do Quilombo Rio dos Macacos, em Simões Filho, estava sofrendo.
A Marinha, alegando ser proprietária daquela área, havia conseguido uma decisão a seu favor e três dias depois as 70 famílias que viviam ali teriam que deixar o local.
Josias, sensibilizado pelos depoimentos que os líderes locais haviam dado à reportagem, resolveu pesquisar mais sobre a história daqueles quilombolas.
“Fiquei impactado com a existência de uma comunidade quilombola a 30 quilômetros de Salvador, que estava ameaçada e cuja história não era conhecida”, lembra-se o diretor, que, entre outras experiências profissionais, realizou o documentário Cuíca de Santo Amaro e era uma espécie de gerente da série Bahia Singular e Plural, da TVE.
Decidido a defender a permanência daquelas famílias no local, Josias foi até o quilombo e começou a colher depoimentos dos moradores.
CachoeiraDoc se afirma como festival engajado
Fez, muito rapidamente e sem muitas preocupações técnicas, devido à urgência do tema, o curta-metragem Quilombo Rio do Macaco, que teve grande repercussão nas redes sociais e ainda está disponível no YouTube.
Agora, seis anos depois, Josias se prepara para lançar, finalmente, em longa-metragem, o documentário Quilombo Rio dos Macacos (a diferença no nome em relação ao curta é só o acréscimo do 's' em 'Macaco'), que será exibido pela primeira vez hoje, no VIII CachoeiraDoc – Festival de Documentários de Cachoeira, às 19h30, no CineTheatro Cachoeirano, em Cachoeira.
O longa conta a história da comunidade por meio de depoimentos de seus moradores e lideranças, além de acompanhar a luta daquele povo para permanecer ali.
Para realizar o filme, Josias concorreu, como pessoa física a um edital da Secretaria de Cultura, que lhe deu direito a R$ 100 mil. Com o baixo orçamento, teve que recorrer ainda a campanha de finaciamento coletivo, em que arrecadou mais R$ 20 mil. O cineasta ainda desembolsou outros R$ 20 mil do próprio bolso para finalizar o filme.
Josias diz por que engajou-se nesta luta: “O Brasil é um país fraturado socialmente e que historicamente tem uma quantidade pequena de pessoas privilegiadas, que tem acesso a bens e serviços, enquanto outros, como os que vivem naquela comunidade, vivem excluídos”.
Desde 2001, foram realizadas diversas audiências e duas delas, em Brasília são acompanhadas pelo filme. Na segunda, reconheceu-se que os quilombolas tinham direito à terra, mas o espaço onde eles viviam foi reduzido a um terço, passando de 300 hectares para 100 hectares.
Além disso, as 70 famílias que viviam (e ainda vivem) ali ficaram proibidas de ter acesso às nascentes do rio, o que impossibilitou o acesso à agua e à pesca, essenciais para a subsistência dos moradores.
Segundo Josias, o governo apresentou cinco propostas até finalmente chegar a essa, que ainda não atende às necessidades dos moradores do Rio dos Macacos. “A comunidade não chegou a assinar um acordo formal, mas teve que aceitar aquela decisão. Até hoje, os quilombolas lutam para ter acesso, pelo menos, às barragens”, diz Josias.