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Priscila Natividade
Publicado em 28 de agosto de 2021 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Sala de meditação, um pequeno ateliê, espaço para interação, cozinha comunitária com temperos colhidos na horta e pessoas trocando experiências, no futuro mundo pós-pandemia. Por enquanto, é só um terreno no loteamento Quinta do Castelo, em Mata de São João. Mas, o espaço onde a fotógrafa Camila Lunelli, 32 anos, pretende viver - longe do ritmo acelerado da capital - já tem nome. >
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“A Casa Gaya quer ser a ponte para essa troca genuína entre pessoas, uma hospedagem de experiências. Estou fazendo um curso de construção de casas sustentáveis e pretendo fazer de madeira, mas com uma parte de tijolo ecológico e bioconstrução, pois temos muito recurso natural já no terreno”, diz Camila. A previsão é de que o espaço fique pronto em quatro meses. O custo para uma casa de 70 m² é estimado em R$ 89 mil. >
Uma moradia pensada para impactar o mínimo possível o meio ambiente, do início ao fim, é possível. É o que garante a mestre em Engenharia Ambiental Urbana e professora do Centro Universitário UniRuy, Elenice Apolinário.“É importante definir, desde o início, quais medidas sustentáveis serão utilizadas na edificação. Mas mesmo quem já possui um imóvel pronto, pode adotar algumas práticas”, ressalta. Essa preocupação ecológica está no projeto de um chalé que a servidora pública Gabriela Mangabeira, 34 anos, pretende construir no mesmo loteamento que Camila. “Com certeza, a construção vai ter fossa séptica, reciclagem de água, aproveitamento da luz solar e penso em telhado verde”, pontua. >
Outra amiga que Camila trouxe pra perto foi a arquiteta e urbanista Larissa Drumond, 28 anos, que já iniciou a construção esse mês. “É possível fazer tudo, desde que a condicionante seja sempre o cuidar”, acredita. >
O termo "arquitetura sustentável" surgiu a partir dos anos 90 para reverter o papel da construção como uma das principais fontes de degradação dos recursos naturais. O relatório “Nosso Futuro Comum”, elaborado em 1987 pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU), criou o conceito de desenvolvimento sustentável. No entanto, foi a partir da conferência Eco 92, no Rio de Janeiro, que o enfoque ganhou afirmação maior. >
É o que destaca a professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unifacs, Manoela Leiro. Ela lembra que Suécia foi apontada como um dos países mais sustentáveis do mundo, justamente pela importância que dá às energias renováveis. >
Por falar em impacto, segundo dados mais recentes da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em 2019, a geração de resíduos de construção e demolição (RCD) chegou a 213,5 kg por habitante no ano, o que representa um total de 44.534.380 toneladas de RCD coletados nos municípios brasileiros. Uma construção preocupada com a sustentabilidade depende de uma mudança de comportamento, defende o engenheiro civil e professor da Escola Politécnica da UFBA, Jardel Gonçalves. “Tornar uma casa mais sustentável é uma mudança de atitude, através da preservação dos recursos naturais, economia de água, minimização na geração de resíduos, redução de emissões associadas aos materiais utilizados e uso racional de energia”, diz. A pergunta que fica agora é: custa caro? "Se a gente pensar que as pessoas estão buscando custos menores de uso e manutenção nas contas de água, energia e impostos, essa é uma economia de longo prazo", diz o doutor em Ciência e Engenharia de Materiais, professor associado da Ufba, Ricardo Carvalho. >
Valor agregado Para o diretor da Indústria Imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA), Vicente Mattos, esse nicho, que ainda é um diferencial, em um futuro próximo vai se transformar em requisito. “Não temos uma estimativa de quanto esse empreendimento ganha de valor agregado, porém, diante desse panorama, a valorização de um imóvel verde se torna uma evidência na precificação que ele, cada vez mais, terá no mercado”. >
O corretor, avaliador de imóveis e membro da Comissão de Atendimento ao Consumidor do Creci-BA, Anderson Ventin, no Litoral Norte, assegura que é possível encontrar imóveis com características mais sustentáveis, sobretudo, em Praia do Forte, Guarajuba, Itacimirim e Ponta de Inhambupe, em Baixios. Entre as principais adaptações estão o uso de placas solares. “Outro recurso é o reuso de água, imóveis com janelas mais amplas, de três a quatro metros, além de muita área verde”, pontua. >
O presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA), Cláudio Cunha, diz que há construtoras no Litoral Norte que buscam uma pegada mais sustentável nas construções.“Ações sustentáveis, cada vez mais, estão se tornando uma condição exigida e priorizada por quem está adquirindo um imóvel”, acrescenta. O engenheiro civil, especialista em soluções ambientais e professor de yoga, Arthur Sehbe, está à frente da construção da casa dos sogros, em Praia do Forte, em um terreno que a família tinha há mais de 30 anos. O projeto foi feito pela arquiteta e esposa de Arthur, Giulia Barros. >
Na casa, eles vão implantar o sistema de tratamento de esgoto BET (Bacia de EvapoTranspiração) e o círculo de bananeira para tratamento das águas cinzas. “Se quisermos, já podemos ser mais sustentáveis, basta força de vontade para sair do convencional”, acredita. >
Além da estrutura, dá para estender essa proposta sustentável para a decoração. Cestas de palha, pratos cerâmicos, plantas suculentas e gamelas de madeira são algumas sugestões do arquiteto Márcio Barreto. Outra aposta é o uso de garrafas de vinho para pintar e reusar como vasos decorativos, calhas pluviais para construção de hortas, pneus antigos como canteiros, mesas ou bancos, indica a sócia do escritório Casa Carvalho Arquitetura, Agnes Carvalho. >
Nove em cada dez viajantes querem espaço sustentável >
As acomodações ecológicas estão cada vez valorizadas também nas plataformas de aluguel por temporada. Segundo um levantamento feito, em março deste ano, pelo Booking.com, em 30 países, incluindo o Brasil, nove entre cada dez viajantes, que planejam viagem para 2022, querem se hospedar em uma acomodação sustentável (96%). De acordo com a pesquisa, entre os brasileiros, 78% querem fazer mais viagens sustentáveis no futuro e quase metade (47%) afirma que a pandemia fez com que eles adotassem mudanças positivas em suas vidas. >
“Lançamos um programa para ajudar as propriedades a se tornarem mais sustentáveis, que inclui o compartilhamento de guias, insights e boas práticas com as acomodações por meio de várias oportunidades educacionais”, comenta o gerente de Comunicação da Booking.com para a América Latina, Luiz Cegato. É possível classificar, nos anúncios, até 32 práticas sustentáveis divididas em cinco categorias: resíduos, energia e gases de efeito estufa, água, apoio às comunidades locais e proteção da natureza. >
Outra plataforma que reconhece essa valorização é o Airbnb. Boa parte das ofertas estão em Arembepe, Mata de São João e Praia do Forte. Em uma pesquisa realizada pelo Instituto IPSOS, a pedido do Airbnb, também em março de 2021, 75% dos viajantes brasileiros, valorizam aspectos de meio ambiente e sustentabilidade. Novos filtros criados pela empresa variam em função da sazonalidade ou da localização e permitem buscar acomodações com atributos bem específicos, como vista para o mar. >
“Os limites entre morar, trabalhar e viajar estão se confundindo e estamos fazendo essa grande atualização para tornar mais fácil para as pessoas incorporarem as viagens em suas vidas e para que mais pessoas se tornem anfitriões”, justifica o ceo e cofundador do Airbnb, Brian Chesky.>
PARA MONTAR UMA CASA SUSTENTÁVEL>
Na planta Tudo deve ser pensado, desde a escolha do terreno até o desenvolvimento da construção. No projeto da casa, é importante fazer um estudo da carta solar para entender a disponibilidade de luz. Também é preciso realizar um estudo com relação à ventilação. >
Eco Escolha materiais naturais, de fácil acesso, de origem local e com boa relação com o meio ambiente. Blocos, azulejos, concreto e gesso apresentam boa estabilidade em zonas costeiras e colaboram com a durabilidade geral da construção. Só utilize madeiras certificadas ou de reflorestamento e evite tintas que contaminam o meio ambiente. Abra a oportunidade para usar materiais de reuso ou reciclagem. >
Água Nas torneiras, chuveiros e descargas: opte pela instalação de dispositivos que reduzam o consumo, como restrição de vazão, sistema de duplo acionamento de descarga ou interrompíveis e lavatórios com torneiras de fechamento automático. >
Energia É interessante adotar o uso de sistema de energia solar. No início pode parecer um investimento que vai onerar um pouco a mais o orçamento, no entanto, esse ganho vai se refletir, tanto na conta de energia lá na frente, como, também, no uso de energias renováveis. Sobre o uso de lâmpadas, sempre opte por opções de baixo consumo, como as de led. A dica vale para os aparelhos eletrônicos, com selo de eficiência. Vale, ainda, utilizar sensores de presença no sistema de iluminação. >
Ventilação Arborize o lugar. A cobertura vegetal ajuda a melhorar o desempenho térmico. Pérgulas horizontais ou verticais, venezianas, brises externos e outros protetores solares são mais algumas alternativas de sombreamento que evitam que o sol entre direto na casa em horas mais quentes do dia. >
Reaproveitamento Considere a implantação de um sistema de aproveitamento de água da chuva e reuso de águas cinza (água de processos domésticos como da lavagem de roupa, pratos ou banho). >
Resíduos Se estamos falando em reduzir impactos ambientais, não dá para ter uma casa com sistema solar de energia e não se preocupar com os resíduos. Trate os sólidos, separe os resíduos orgânicos dos recicláveis. A matéria orgânica pode ser usada em compostagem.>
O Boom do Litoral Norte é uma realização do jornal Correio com o patrocínio da Prima Empreendimentos.>