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Thais Borges
Publicado em 17 de maio de 2016 às 16:00
- Atualizado há 2 anos
Nas prateleiras do quarto de Isaac Guedes Moura, 7 anos, no apartamento na Vila Canária, dá para contar uns 100 bonequinhos: miniaturas do Bob Esponja, Snoopy, Star Wars, Shrek, Toy Story, Pinguins de Madasgascar... Adicione aí algumas dezenas de peças de Lego – aos que não tiveram infância, são aqueles brinquedos de montar e desmontar. >
O cenário seria comum para o quarto de uma criança de 7 anos, não fosse o fato de que, ao lado do “diploma” de conclusão da Educação Infantil, há um certificado um tanto inusitado: uma placa comemorativa de prata, enviada pelo YouTube, devido aos 100 mil inscritos no canal que Isaac mantém no site. É mais provável que você o conheça pela alcunha que adotou na internet, inclusive. Aos fãs e aos desavisados, com vocês, o baiano que é um dos youtubers mirins mais famosos do Brasil: Isaac do Vine. Ao lado do certificado da Educação Infantil, fica a placa comerativa do YouTube: a de um milhão de inscritos no canal de Isaac do Vine está a caminho |Foto: Evandro Veiga/CORREIO“Eles já deram também a placa de um milhão, que deve estar para chegar”, revela a mãe de Isaac, Iasmin Guedes, 22 anos, referindo-se ao segundo maior prêmio concebido pela plataforma de vídeos. Depois dessa, que é de ouro, só a de diamante – exclusiva para aqueles que conseguem mais de 10 milhões de inscritos no canal. >
Não dá para dizer que não fomos avisados. Na porta, totalmente coberta por adesivos do Homem-Aranha, uma placa de metal dava uma dica do que estava por vir. “Sorria, você está sendo filmado”, diz o alerta. É ali que Isaac grava a maioria dos seus vídeos, que são desde paródias de músicas como Bang, de Anitta, até imitações do cantor Wesley Safadão, do vampiro Edward, da saga Crepúsculo, e vídeos de humor como um que compara a vida de um rico e de um pobre. >
Dali mesmo, um dia, dois anos atrás, ele apareceu para o mundo e nunca mais saiu. De lá para cá, foram só números impressionantes: 1,8 milhão de inscritos no YouTube, mais de 3 milhões de likes em sua página no Facebook e quase 700 mil seguidores no Instagram. >
No fim de semana, a popularidade saiu da web e invadiu o Salvador Shopping. Quase duas mil pessoas fizeram fila para conhecer Isaac no lançamento de seu livro na Saraiva – sim, O Livro do Isaac, que teve tiragem de 25 mil exemplares, pela Universo dos Livros. Enquanto esperavam por uma das 500 senhas, gritos de “Isaac, cadê você/ eu vim aqui só pra te ver”. É, Isaac é popstar. Ou melhor: para os fãs, é o “anjinho”, graças aos cachos do cabelo. >
Antes mesmo disso, no mesmo Salvador Shopping, Isaac estrelou a campanha de divulgação do Palácio das Bolinhas - que ficou no centro de compras entre janeiro e fevereiro deste ano. "Após uma pesquisa, identificamos o fenômeno Isaac do Vine como uma figura que poderia impactar o público infantojuvenil que tem o perfil do Salvador Shopping. Ele possui a doçura e o carisma que precisávamos, a fim de viralizar a ação e trazer fluxo para o empreendimento. Isaac acerta no tom da brincadeira e atinge também os pais das crianças", explica a gerente de Marketing do Salvador Shopping, Karina Dourado. A aposta deu certo: o vídeo com Isaac teve quase dois milhões de visualizações no vídeo - metade do número foi alcançado em apenas 48 horas. Além disso, a publicação teve mais de 72 mil curtidas e 7 mil compartilhamentos no Facebook.>
“Gostei de ficar famoso. Mas não ganha dinheiro, não. Que nada. Ganha nada”, disse o youtuber à repórter, sem tirar os olhos dos brinquedos de Lego. Para a família, ele encara a fama como diversão. Talvez nem tenha noção do tanto de gente que o conhece. Pelo menos, não imaginava que nada disso aconteceria, quando pediu ao tio, Ícaro Guedes, 20, para gravar o primeiro vídeo. >
Na época, Ícaro tinha uma conta no Vine (um aplicativo de vídeos curtos que “bombou” e depois perdeu espaço). “Perguntei a meu tio: 'tio, por que você não deixa eu fazer só um videozinho? Ele deixou, eu apareci e depois que ele postou, já tinha 100 mil inscritos. Ô, inscritos não. Seguidores”, lembra Isaac. Foi de lá que veio o apelido, que muita gente acha que é sobrenome. >
Depois, tudo aconteceu de uma forma muita rápida e passou para outras plataformas, segundo Iasmin. Com o irmão, ela é a responsável pelos roteiros dos vídeos de Isaac - o que não quer dizer que ele vá seguir o que foi planejado. >
“Mas me preocupo com o fato de que Isaac tem acesso às redes sociais dele. A gente fica muito ligado. Tem 'haters' por aí e a gente sempre explica que tem essas pessoas que ficam espalhando o ódio pela internet”, disse, referindo-se aqueles comentaristas de redes sociais que postam mensagens de ódio ou crítica sem mesmo ter um critério para isso. >
A avô, a autônoma Valdêmia Pereira, também conta que o esforço deles é para que a rotina de Isaac não mude. Por isso, ele está, desde os 2 anos, na mesma escolinha – a Escola Pequeno Ser, na Vila Canária. “Levo ele todos os dias, segurando a mão. Não queremos que ele perca essa essência. Como avó, fico feliz, orgulhosa, mas, às vezes, bate aquele medo, quero proteger”. >
Na escola, os colegas adoram os vídeos de Isaac. “Eles acham legal. Só tem uma menina que fica dizendo que meus vídeos são chatos”, conta o youtuber, sem parecer se abalar muito. Ele também só faz um vídeo por semana. Gasta aproximadamente 20 minutos para gravar. Depois, a edição fica por conta do tio. >
O livro também foi bem espontâneo. Enquanto algumas editoras procuravam a família, Isaac via YouTubers famosos que também estavam lançando livros. Um dia, chegou para o tio e perguntou: “Por que não posso fazer um livro?”. A resposta foi bem realista: Isaac tinha aprendido a ler e a escrever outro dia. Como pode? Pois, a alternativa foi um livro narrado pelos três (pelo tio, pela mãe e por ele) e editado posteriormente. >
Cheio de assunto, usa palavras como 'networking' e fala sobre a “Paramaker” - uma network de canais do YouTube, fundada pelo youtuber Felipe Neto – com a mesma naturalidade com a que comenta sobre as peças de Lego. Para ele, inclusive, a Paramaker não serve. “Não chega nenhum dinheiro. Minha poupança tá ó”, brinca, mostrando o polegar para baixo, em desaprovação. Aos sete anos, Isaac já conquistou fãs em todo o país Foto: Evandro Veiga/CORREIO>
Nesse meio tempo, já passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e até Manaus. “É quente pra caramba aquele lugar. Parece que está pegando fogo”, diz, sobre a capital amazonense. A viagem preferida parece ter sido para Recife. "Gostei do Mirabilândia", afirma, referindo-se ao tradicional parque da cidade e mostrando que, para ele, o que importa mesmo é a diversão. Mas, desse jeito, já já a placa de diamante chega, Isaac. >