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Da Redação
Publicado em 20 de junho de 2012 às 07:38
Bruno Wendel e Lorena [email protected]>
Ao fechar os olhos, as imagens violentam a mente do cobrador Edmar Barbosa da Silva, 34 anos: homens armados, desespero, tiro e sangue. Desde o último sábado, as cenas vêm em forma de flashes e o perturbam dia e noite. Ele e 40 passageiros da empresa Cidade Sol testemunharam a morte do motorista Israel dos Santos, 36, baleado após um assalto na BR-110, trecho de Pojuca, na Região Metropolitana de Salvador. A rodovia é considerada por policiais e motoristas como uma das mais violentas que cortam o estado.>
“Um deles estava ‘na bruxa’ (drogado). Deitei na poltrona no primeiro tiro. Os passageiros começaram a gritar. Os vidros quebraram e os estilhaços me cortaram. Dizem os passageiros que um policial estava à paisana e atirou nos assaltantes, que atiraram no motorista. O cara estava com o Satanás no corpo”, diz Edmar. >
Nesta terça (19), pela manhã, rodoviários das empresas Cidade Sol e Regional - que também teve um motorista morto em assalto no último fim de semana, no município de Sátiro Dias -, realizaram uma paralisação contra a insegurança no trabalho. Segundo a Agerba, o grupo impediu, durante quatro horas, a saída de 50 ônibus do Terminal Rodoviário de Salvador.>
Mapa Com a ajuda das polícias rodoviárias Federal (PRF), Estadual (PRE) e a Associação das Empresas de Transporte Coletivo Rodoviário (Abemtro), o CORREIO mapeou as rodovias mais violentas do estado. Os órgãos apontam trechos das BRs 110, 101, 116, 324 e 407, e as BAs 093 e 522 como as mais visadas pelos assaltantes - confira os trechos no mapa ao lado.>
Essas rodovias são as preferidas nessa época por levarem milhares de pessoas às festas de cidades como Cruz das Almas, Amargosa, Jequié, Alagoinhas e Santo Antônio de Jesus. Segundo a polícia, os crimes são praticados por jovens de até 20 anos, que buscam dinheiro para curtir as festas.CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR>
Medo Segundo a Abemtro (de janeiro a abril), foram registrados 9 assaltos a ônibus intermunicipais na Bahia. Parece pouco diante dos relatos.>
No dia 11 deste mês, Rosinaldo Santana Reis, 41, sofreu seu quinto assalto. Motorista da empresa Regional, ele conta que um Voyage o fechou no município de Ribeira de Pombal. Quando ele parou o ônibus, três homens saíram do carro e, armados, forçaram a entrada no veículo. >
Os assaltantes foram agressivos, xingaram e bateram nos passageiros enquanto faziam o saque, segundo ele. Antes de sair do ônibus, um dos assaltantes ainda avisou: “Quando eu descer atiro na sua cabeça”. Ficou só na ameaça - Rosinaldo teve a sorte que outros colegas não tiveram. >
Além do assalto que levou à morte de um motorista em Pojuca, na sexta-feira o cobrador da empresa Regional Marcos Moreira Nunes, 40, foi assassinado a tiros em Sátiro Dias . O motorista Ronaldo dos Santos também foi baleado e está internado no hospital Dantas Bião, em Alagoinhas. >
Antes de fazer a linha Salvador/Pombal, Rosinaldo era motorista da linha Salvador/Camaçari, mas depois do quarto assalto pediu transferência. “É comum. Quase todos os motoristas daqui já foram assaltados”, declara.>
O motorista Robson Argolo diz que o problema vai além dos rodoviários. “Não é a vida de uma, duas pessoas. São 50 vidas em jogo. Na segunda-feira, três motoristas deram baixa na carteira. Eu estou pensando em fazer a mesma coisa”, conta.>
Passageiros Diante dos riscos, quem vai viajar no São João sente medo. A coordenadora pedagógica Nara Carteado, 37, vai curtir o feriado em São Sebastião do Passé, mas teme os assaltos. “Eu fico apavorada quando algum carro se aproxima do ônibus ou quando alguém entra porque a gente acha que pode ser um assalto”, destaca. Para ela, teria que ter mais policiamento nas rodovias. “Eles (os assaltantes) sabem que tem ônibus circulando sozinho, principalmente à noite, e aproveitam para dar o bote”, analisa.>
Já a auxiliar administrativa Tatiane Carvalho, 31 anos, pretende ir para Maragojipe. Este ano, porém, ela não conseguiu passagem direta e vai de ônibus até Cachoeira e de lá tentar outro para Maragojipe. “Só não me arrisco ir à noite. Se for para viajar à noite, desisto e deixo para ir no outro dia de manhã. Eu acho que faltam blitze da polícia, principalmente nos entroncamentos das cidades”, diz.>
Saídas em Comboio para inibir assaltosCom o aumento do fluxo de passageiros no feriado e a fim de evitar assaltos, algumas empresas organizam as saídas de vários ônibus em fila. “Nessa época, a Polícia Rodoviária nos dá mais apoio e nossos carros saem de três em três, em comboio”, diz o gerente operacional da Viação São Luís, Marcos Moisés. O destino de São João mais procurado na empresa é Senhor do Bonfim.>
A empresa Águia Branca, que trabalha com viagens mais longas, também costuma fazer comboios. “Dá uma segurança maior”, afirma o assessor comercial da Águia Branca em Salvador, Diego Brasil. Os principais destinos de São João da empresa são Irecê, Piritiba, Itapetinga, Ibicuí, Jequié, Itabuna e Porto Seguro. >
Já a Cumurujipe, que tem como principais destinos juninos Maracás, Jaguaquara, Vale do Jiquiriçá, Vitória da Conquista, Ubirataia, Ubatã, Ipiaú, Jequié, Milagres e Dário Meira, usa o mesmo sistema. A empresa Santana tem como destinos principais Cachoeira, São Félix, Conceição do Jacuípe e Santo Amaro. >
Como são viagens mais curtas, a empresa não trabalha em comboio, mas o gerente de operações Fidel Sampaio confia nas polícias Rodoviária e Militar. “Eles fazem um trabalho diferenciado, aumentam o efetivo e a fiscalização”, diz.>
Motoristas e cobradores bloqueiam RodoviáriaSem encostar os ônibus para o embarque de passageiros, rodoviários voltaram a protestar, na manhã de ontem, por mais segurança durante as viagens intermunicipais e usaram ônibus para bloquear a entrada da rodoviária de Salvador. A paralisação começou às 4h30 e 50 ônibus que eram esperados pelos passageiros só tiveram acesso à estação depois das 9h. >
“Cheguei de São Paulo à 1h30 e só às 5h30 avisaram que os ônibus não iriam sair”, conta o técnico de TV a cabo Jucemar Novaes, 25 anos, que aguardava o ônibus com destino ao município de Seabra, na Chapada Diamantina, onde mora sua mãe. A manicure Viviana Arcanjo Teixeira, 26, chegou às 5h na rodoviária, com a filha de 3 anos no colo, e teve que esperar três horas e meia pelo ônibus com destino a Itaberaba. >
“Minha fila está com calor, cansada, querendo colo”, lamentou Viviane. O motorista da Regional Raimundo Vasconcelos explica que a paralisação é pelo descaso com a manifestação do dia anterior - na segunda, funcionários das empresas Regional, Jauá e Cidade Sol protestaram na rodoviária, parando por três horas as atividades. >
“Não tivemos respostas. Ninguém procurou a gente ou o sindicato para negociar”, explica o rodoviário. “Colegas que tiveram escolta da polícia ainda ouviram: ‘você sabe que é só hoje, né?’. Depois de ontem (segunda-feira) a gente sabe que voltamos a ficar desprotegidos”, explica Robson Argolo, representante dos rodoviários da Regional e da Jauá. Quem já estava com passagens compradas pode pegar o dinheiro de volta ou remarcar para outro horário.>
Tipos de ação>
Nos quebra-molasOs bandidos aproveitam a redução de velocidade dos motoristas nos quebra-molas, principalmente à noite e em locais ermos, e abordam os veículos.>
Objetos na pistaEm locais onde não há quebra-molas, os bandidos usam animais ou pedras para obrigar os motoristas a reduzirem a velocidade e, assim, poder abordar o veículo>
Abordagem diretaEm outro carro, os bandidos emparelham com o ônibus e, armados, obrigam o motorista a parar, permitindo assim que eles embarquem e realizem o assalto>
Bandido-passageiroOs assaltantes embarcam na rodoviária e esperam que o veículo chegue a local predeterminado com comparsas para render motorista e cobrador e fazer a limpa nos passageiros. Foi o que aconteceu em Pojuca. Colaborou o repórter Anderson Sotero>