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Artista SuperAfro realiza sua primeira exposição individual

Fábio Silva começou como grafiteiro e formou-se em Belas Artes. A presença marcante do azul em suas criações reforça a identidade negra, segundo ele

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 16 de setembro de 2017 às 06:10

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Fotos: Betto Jr.

A porta da Galeria Acbeu, no Corredor da Vitória, é transparente. Normalmente, quem está passando pela frente da sala pode matar a curiosidade através do vidro e, assim, decidir se quer entrar ou não para ver a exposição. Mas agora quem quiser saber o que tem ali dentro vai precisar entrar na galeria, já que a porta está pintada e repleta de frases como “Quem com porco se mistura, farelos come” e “Por meu filho, mato e morro”.

A intervenção é do artista SuperAfro, que está com a exposição Depois Há Margem em cartaz até o dia 30, a sua primeira mostra individual. Segundo o artista, o ato de pintar o vidro representa uma metáfora associada ao seu local de origem, o Bairro da Paz: “Muita gente olha de fora e pensa que ali só há crimininalidade. Mas se entrar vai ver que é bem diferente. Aqui é a mesma coisa: não adianta olhar de fora. É preciso entrar para conhecer a minha arte de verdade”, revela o baiano de 31 anos, que se chama Fábio Silva. Fruto, uma das telas na Acbeu As telas - todas em tinta acrílico - na exposição chamam logo a atenção pelo uso praticamente exclusivo da cor azul. Fábio diz que optou por aquela tonalidade por dois motivos: primeiro, porque muita gente diz ‘fulano é tão preto que chega a ser azul’ e SuperAfro queria ressaltar a força dos negros que vivem no Bairro da Paz; o segundo motivo é que os egípcios associavam o azul à realeza e assim a cor novamente reforça a potência da comunidade onde SuperAfro foi criado. 

O começo O interesse dele por arte começou durante uma oficina que teve em 2001, quando ainda era estudante da Escola Estadual de Aplicação Anísio Teixeira, onde foi aluno do grafiteiro Denissena. Dali em diante, começou a se arriscar como artista, desenhando em papel e fazendo umas grafites sem muita pretensão ali mesmo pela vizinhança.

Só encarou as ruas em 2006, quando se dirigia ao centro da cidade para grafitar em bairros como Lapa, Campo Grande e Garcia. Foi naquele mesmo ano, mas do outro lado da cidade, perto de sua casa, nas proximidades do Costa Verde Tênis Clube, que passou por um susto inesquecível. A tela Entrada retrata o acesso ao Bairro da Paz Ele o amigo Core estavam grafitando um muro quando foram surpreendidos por um policial. “Ele foi logo xingando a gente, chamando de vagabundo. Depois, fez a revista, machucando a genitália. Depois, fomos parar na delegacia”, lembra o artista.

Foram liberados depois de três horas. Mas ainda viria mais problemas pela frente: sem dinheiro para pagar o ônibus, os dois tiveram que andar por mais de duas horas da delegacia, na Boca do Rio, até chegar em casa. E SuperAfro ainda ouviu uma bronca da mãe, Dona Marluce, pois um vizinho já havia adiantado para ela que os amigos haviam sido detidos.

“Minha mãe sabia que eu grafitava e até me apoiava, mas tinha receio porque não sabia como eu poderia ganhar dinheiro com aquilo. Aí, quando decidi fazer vestibular para a escola de Belas Artes, ela viu que era sério e ficou muito feliz”, lembra-se.

SuperAfro conciliava a faculdade com os estágios que conseguia, como um que teve numa galeria de arte no Pelourinho. Levou sete anos para se formar, principalmente por causa da dificuldade financeira e de transporte. Mas Fábio fez questão de terminar a graduação e reconhece a importância da faculdade para a sua formação. Ali, conheceu a obra de pintores que lhe marcaram, especialmente pelo uso das cores, como Picasso, Van Gogh e Kandinsky. “Às vezes, eu não estudava exatamente o pintor, mas estudava aquilo que ele havia estudado”, lembra.

Embora às vezes ganhe algum dinheiro com as telas ou trabalhos em murais, SuperAfro hoje se sustenta com as tatuagens. Ele tem um estúdio em Itapuã. “É difícil viver exclusivamente de arte. E a tatuagem, além de me proporcionar uma renda, me realiza também como artista”, assegura.

E se depender dele, suas criações vão se espalhar pelo país. Graças às amizades que fez por causa do grafite, SuperAfro não descarta passar umas temporadas em outras cidades. E, em breve, vai espalhar alguns trabalhos em colagem pelos muros de Salvador.