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Murilo Gitel
Publicado em 21 de outubro de 2017 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Principal fonte de energia do mundo, o petróleo reina de forma soberana durante décadas, principalmente em razão de sua versatilidade. É do chamado “ouro negro” que derivam combustíveis fósseis como a gasolina, que abastece os carros, plásticos e produtos asfálticos, apenas para citar alguns exemplos. Todavia, o ‘boom’ das energias renováveis nos últimos anos, somado ao desenvolvimento de novas tecnologias e fatores como o aquecimento global ameaçam esse reinado longínquo, segundo especialistas ouvidos pelo CORREIO.
“Alguns países europeus já decidiram proibir veículos a gasolina ou diesel até 2040”, observa o economista José Eli da Veiga, professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP). Ele faz alusão a decisões anunciadas recentemente por Reino Unido, Alemanha e França, entre outros governos.
Veiga, que é autor de livros como Para entender o desenvolvimento sustentável e A desgovernança mundial da sustentabilidade, entende que a pressão mundial pela chamada ‘descarbonização’ da economia reduzirá, cada vez mais, a demanda por petróleo. “Não haverá fim do petróleo porque a transição energética em curso permitirá que o usso desse combustível se torne obsoleto antes que as reservas se esgotem”, projeta.
Outro fator que deve ser considerado é que o consumo nos países industrializados registra queda nos últimos anos e o preço da commodity chegou a recordes negativos no ano passado, com o barril sendo negociado a US$ 30.
Baixa demanda
O professor titular do Departamento de Economia da FEA-USP, Ricardo Abramovay, autor do livro Muito Além da Economia Verde, concorda que a demanda pelo petróleo registra uma queda mais rápida do que se imaginava.“Ainda que precisemos desta riqueza durante um tempo, o petróleo que vai abastecer as necessidades humanas virá de fontes muito baratas. As alternativas estão se desenvolvendo mais rapidamente do que em Copenhague [COP-15, em 2009] se poderia imaginar”, observa Abramovay, ao fazer menção à Conferência da ONU Sobre Mudanças Climáticas, realizada na Dinamarca.Para o professor Paulo Wander, coordenador do mestrado acadêmico em Engenharia Mecânica da Unisinos, há de fato uma mudança em curso em todo o mundo, mas ela não ocorre na rapidez desejada. “A mudança dependerá da velocidade com que a sociedade conseguir substituir o uso do petróleo por outros produtos, com a criação de novas tecnologias”, afirma.
Na visão de Wander, o petróleo não terá apenas um substituto, mas vários. "No setor de energia temos a eólica (dos ventos) e a solar, nos transportes temos os carros elétricos, híbridos e os biocombustíveis. Há uma gama de produtos”, exemplifica o professor.
Carros elétricos
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas Energia revela que, no futuro, quando os automóveis forem elétricos e não emitirem gases poluentes, a preocupação com a poluição atmosférica nas grandes cidades será reduzida. Nessa cidade do futuro, a mobilidade será mais racional, com carros elétricos compartilhados funcionando lado a lado a bicicletas, ônibus elétricos, metrôs e veículos leves sobre trilhos.
De acordo com o Caderno FGV Energia Carros Elétricos, a frota mundial de elétricos e híbridos no ano passado era de 2 milhões de veículos para passageiros (exclui ônibus e motocicletas). A previsão é que até 2020 chegue a 13 milhões e, em 2030, a 140 milhões, ou 10% da frota total de carros. No Brasil, desde 2011 foram vendidos 5,9 mil carros elétricos e híbridos, dos quais 2.079 neste ano, quase o dobro de 2016. O número representa 0,3% das vendas totais.
A pesquisadora responsável pelo estudo, Tatiana Bruce, diz que a principal dificuldade para a disseminação de veículos elétricos no Brasil é o alto custo, principalmente da bateria, que corresponde a aproximadamente 50% do valor do carro. "Nos últimos anos o preço vem caindo, mas ainda é elevado", pondera.
Compromisso
De acordo com o consenso da comunidade científica e o IPCC (Painel da ONU sobre o Clima), o objetivo de limitar o aquecimento global passa pelo abandono dos combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão, que são hoje as grandes matrizes energéticas do mundo. Em junho de 2015, às vésperas da COP21 em Paris, os líderes políticos do G-7, cúpula dos chefes de Estado e de governo de Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália anunciaram a intenção de banir os combustíveis fósseis de seus países até 2100.
Os objetivos fixados incluíam reduzir as emissões de 40% a 70% em 2050, com base no total emitido em 2010. “Isso deve beneficiar todos os países com uma trajetória de desenvolvimento resiliente, compatível com o objetivo geral de manter a alta da temperatura média no mundo abaixo de 2ºC”, afirmaram os líderes à época.